O Brasil bruto. Como o ensina a Globo, o Barbosa, a Sheherazade e os Black Blocs…

O lamento doloroso de Janio de Freitas, hoje, na Folha, é para ajudar a gente a pensar.

A brutalidade que tomou conta do Brasil não é produto da pobreza, embora nela medre com mais facilidade.

É o resultado de um processo histérico que nossas elites impuseram a tudo.

A aceitação do diferente é só um discurso vazio.

Na prática, é uma única verdade, a ser imposta de todo jeito.

Intolerantes.

É o paredão, é o supremão, é o adote o bandido, é quebrar pau nas manifestações, é o pau nele!

Quem vai tomar de novo a bandeira da civilidade, se a elite se acostuma à histeria ?

 

Brasil embrutecido

Janio de Freitas

Um homem espera, sozinho, o ônibus que o levará para casa. Dois carros param diante dele. Os homens que descem o massacram furiosamente com barras de ferro. Até reduzi-lo a um monturo de sangue e carne sem vida. Entram nos carros e vão embora.

A fúria assassina desses agressores está abaixo da mais primitiva desumanidade. Mais uma briga de torcida, como disse a notícia? “Torcedores do São Paulo agrediram um torcedor do Santos, que morreu.” Nem como hipótese.

Estamos, no Brasil, em um agravamento da brutalidade que não cabe mais nos largos limites do classificável como violência urbana. E não basta dizer que nada é feito contra tal processo. O que se passa, de fato, é que nem sequer o notamos. Convive-se com o agravamento como uma contingência incômoda, em seus momentos mais gritantes, mas natural, meras desordens da desigualdade social.

Nada a ver com a perversa desigualdade social. O homem massacrado por vestir a camisa do Santos era portador da desigualdade como o são os monstros que vestiam a camisa do São Paulo. Os bandos criminosos que voltaram a digladiar-se em algumas favelas do Rio formaram-se e vivem nas mesmas misérias da desigualdade social.

O agravamento da brutalidade no Brasil é um processo em si mesmo. E não está só nos territórios da pobreza. A própria incapacidade de percebê-lo é um sintoma do embrutecimento sem distinções sociais, econômicas e culturais. Outros sintomas poderiam ser notados –na deseducação, no rebaixamento individual e coletivo dos costumes, em muito do que os meios de comunicação tomam como modernidade, na política. Até onde a elevação do trato entre suas excelências parecia inexaurível  – no Supremo.

Um homem espera um ônibus que o levará para casa. Onde nunca mais chegará. E onde o esperavam um filho de meses e a mulher. Mais uma banal tragédia para duas pessoas, às vezes são quatro, podem ser sete nas casas dos Amarildos? Sem interesse político para explorá-lo, será só isso mesmo, "mais uma briga de torcida que acaba em morte". É, no entanto, um gigantesco questionamento ao país e à sua perdição cega e surda, embalada pela degeneração de suas “elites”;, todas elas.

Briga de torcida? Bandos de criminosos estão agora atacando a polícia, no que assim representa a segunda fase – a da reação – do programa de UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadora cuja instalação em cidadelas do crime restaurou muito do Rio. No país todo, qualquer incidente, inclusive se provocado por bandos criminosos em disputa, leva à interrupção de ruas e estradas, incêndios de ônibus e carros, já também de moradias destinadas à própria pobreza. A internet convoca sem cerimônia e sem restrição para violências, não lhe bastando os brasileiros, também contra os estrangeiros que venham à Copa e até contra times.

À espera do ônibus ou dentro do carro, branco, negro, pobre, rico: o Brasil se embrutece. E o Brasil nem sequer se nota.

Fernando Brito:

View Comments (25)

  • O ser humano banaliza tudo. Não é de hoje. O Coliseu nos prova isto. Não é por classe social. O rei da espanha matando um elefante para seu regozijo prova isto. Vamos muito mal como sociedade. E é triste consentir que o Brasil de hoje, apesar dos esforços "moderados" de inclusão social do governo do PT, continua tão violento quanto antes. Saudade de ler uma análise bem abalizada do Darcy. talvez ele pudesse nos trazer alguma luz. Ou será que eu é que estou envelhecendo e ficando nostálgico daquilo que nunca vivi no meu país. Será que o mundo está melhor? Duvido...

  • Concordo com o texto. Mas o porquê do título do post joga no colo dos lá citados?

    • O Janio faz menção direta ao Supremo. E eu faço no título aos que vem incitando a brutalidade e a "eliminação" como forma de solução dos conflitos humanos. Isso é um escola de brutalidade. Guilherme

  • Quando se percebe a intolerância e violência partindo do stf, de agremiações religiosas, de partidos políticos, de homens públicos, da imprensa, que se pode esperar desta sociedade?

  • Fernando Brito.

    Poste o artigo do Luiz Gonzaga Belluzo que saiu na Carta Capital da semana passada e que também é uma bela contribuição ao tema.

  • Tudo isto tem origem na banalidade que nossos políticos tratam a coisa pública. A banalidade com que nossa justiça julga, apenas o que lhe interessa. A banalidade que nosso executivo trata a gestão pública.
    A banalidade com que nos acostumamos a ficar inertes a isto.

  • Aproveitando o assunto ligado à torcidas de futebol...quando dos Corinthianos assassinos presos na Bolívia, a grande imprensa jornalística apenas noticiava, não opinava, já a esportiva cobrava o governo para libertar os bandidos, que agora se sabe, continuam praticando crimes no Brasil. Ninguém tem coragem de enfrentar o problema, ou por mede de perder votos, ou por medo de ser morto.

  • Janio de Freitas é um ser humano que consegue com maestria, no método de comunicar, passar informações pelo jornal Folha de São Paulo.
    Sua companhia através das leituras que fazemos de suas produções, semeia
    a certeza de que não estamos perdidos de todo. Que existe alguém apontando um norte como entrada e saída.
    Vida Longa com saúde e Paz!

  • O uso da bandidagem e do crime organizado para aterrorizar a população com crimes boçais como esse é uma tática antiga da cabala de banquesters corporatocratas que domina o mundo. Faz parte da "estratégia da tensão" empregada com sucesso por mais de 40 anos na Europa da Guerra Fria, onde a associação dessa cabala de banquesters corporatocratas com as máfias daquele continente é fato que pertence à história oficial. Veja, por exemplo, o que têm feito na Venezuela
    http://emdefesadademocracia.blogspot.com.br/2014/02/o-que-voce-deve-saber-sobre-os.html

  • Estamos atravessando um período terrível de embate entre duas forças: uma conservadora, as elites que sempre dominaram este país e agora estão deslocadas do poder político e administrativo. Já não aguentam mais ficar de fora. Sentem que se não voltarem ao poder vão acabar ou serão reduzidas à insignificância. A outra, o povo que adentra a cidadania às dezenas de milhões e estão ocupando os seus espaços, pois este país pertence a eles, afinal das contas. Ano eleitoral e os nervos estão prá lá de à flor da pele. A imprensa falada, escrita e, principalmente a televisada só dá más notícias e ocupa os espaços com programas que deterioram as virtudes, a cidadania, os valores humanos e pintam um quadro negro para o futuro, solapando todas as esperanças. E o governo, com estes ministérios e este partido, o PT, abaixo da crítica, assiste de camarote como se não fosse com eles, achando que, caso não haja algum golpe, eles voltam a ganhar a eleição e tudo continua como está. Ora, se houver golpe, o que é que ele poderiam ter feito, não é mesmo?

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