O Brasil não é quintal de gente doente da cabeça, por dinheiro

Hoje é sábado, depois das eleições, dá tempo de fugir um minuto da luta renhida da política – embora tudo seja política – e falar de outras coisas.

Uma delas, uma das grandes frustrações que carrego na vida (junto com  não saber – e não ter a menor coordenação motora que permita aprender –  tocar piano) é a de não ter tido a oportunidade de me dedicar a jornalismo de divulgação científica.

É uma área extremamente negligenciada no Brasil e essencial para despertar nas crianças e adolescentes interesse e gosto pelas ciências.

Alguns países, como o Canadá, têm ma imensa preocupação e atuação neste setor, já há décadas antecipando o que hoje é óbvio: sem massificar o interesse pela ciência, impossível produzir gente dedicada à expansão do conhecimento, sem a qual hoje um país não vai a lugar nenhum.

Tive, também, por circunstâncias da vida, a sorte de ter tido uma filha que adorava animais e de quem pude ser um parceiro professoral (e chato) nas descobertas que uma década vivida quase dentro de uma reserva florestal nos propiciaram. Que foram – para desespero da mãe – da captura de cobras que se aventuravam próximo à casa até a dissecação de um tatu já ferido de morte pelo tiro de algum caçador.

Hoje ela é uma entomóloga, dedicada ao estudo de insetos, nos EUA.

Por isso, não apenas nada tenho contr,a como sou um entusiástico defensor da produção de documentários sobre a natureza,

A nossa, brasileira, sobretudo, venham de onde vierem para conhecê-la e mostrá-la.

Mas isso não autoriza ninguém a, por razões comerciais, nos transformar em palco de sensacionalismo barato e a invadir o que nos resta de ambientes intocados.

O canal Discovery, uma grande empresa comercial não é bem o que penso em matéria de divulgação científica, embora sirva, às vezes, para embalar o sono com alguma migração de gnus africanos, narrada em tom monocórdio de suas versões de baixo custo para o português.

Mas não consigo entender que o Brasil permita que  picaretas a serviços deste canal venham fazer aqui coisas piores que aquelas que o Ibama reprime, tomando velhos papagaios de seus carcereiros que viraram família, com chance zero de readaptação, os permita produzir aqui monstruosidades como a do programa “Eaten Alive” (Comido Vivo) , que vai ao ar em dezembro nos EUA .

Foi gravado na Amazônia, embora as informações disponíveis não permitam dizer se foi na porção brasileira, a maior de todas.

Consiste  na atuação de um babaca que se diz naturalista, o americano Paul Rosolie, que captura com ajuda de sua equipe uma sucuri gigante, com ajuda de sua equipe, veste um traje especial e deliberadamente se deixa engolir pelo animal, para depois ser puxado de suas entranhas com um cabo.

Tudo com farta publicidade da mídia mundo afora.

Alegar que o animal não sofreu danos, sem que se possa monitorar as consequência dias ou semanas depois é imbecil.

Tudo, e claro, e é financiado por dezenas ou centenas de milhares de dólares de empresários e anunciantes, sem qualquer interesse científico que não seja o de estudar o que a ambição pelo dinheiro do show-business pode causar em certas pessoas.

Como disse, não posso precisar que isso tenha acontecido em território brasileiro.  Mas, se foi,  deve ser oferecer imediatamente uma denúncia-crime contra este psicopata ganancioso.

Não somos quintal de gente assim.

uma petição internacional pedindo que o programa não vá ao ar.

É pouco.

Tem de haver um processo criminal contra gente assim, que sai pelo mundo  pobre com o dinheiro do mundo rico para fazer estas barbaridades.

Não somos nós os selvagens.

Aliás, a goela da pobre cobra é, apesar de imensa, muito menor do que a deles.

Fernando Brito:

View Comments (11)

  • Isto é coisa de capitalismo selvagem.onde o só tem valo seele tem dineir.isto e um atrazo.

  • Fernando, num desses canais um programa infame se chama ´´febre do ouro`` no qual os picaretas vão pelo mundo, principalmente América do Sul, saqueando as riquezas naturais na maior tranquilidade. Vez por outra, encontram-se com nativos que os botam pra correr. O pior é que o ´´primeiro mundo`` ainda pensa que o mundo inteiro é uma colônia à qual podem explorar.

  • Fernando, abra espaço no blog pra fazer matérias sobre ciência. Acho que o pessoal vai gostar, até porque se depender da mídia brasileira pra isso, estamos ferrados.

    Esses canais de "ciência" que passam na TV fechada do país, poucos se salvam, ou no caso, algumas séries. A maioria é sensacionalismo e pseudociência, sem relevância alguma, fora a neurose norte-americana por assuntos religiosos (monoteísmo, cristianismo principalmente) e Hitler/nazismo. É tanto que o History Channel nos EUA é chamado de Hitler Channel de tanto que passam documentários (banais) sobre nazismo.

  • não,isso não é coisa do capitalismo selvagem e aqui na natgeo temos nossa cota de molestadores made in Brazil.São narcisistas,preocupados em parecer jim das selvas e não com o meio ambiente onde estes animais vivem ou mesmo com pesquisas sérias conservacionistas.

  • Cadê o IBAMA?
    Cadê o tal Ministério Público da PEC 37?
    Parabéns, Fernando, pela excelente reflexão!!!

  • Bem, já foi previsto um futuro onde a morte será um espetáculo. Esse deve ser só o ensaio.

  • As imagens e matéria sobre esse imbecil está na primeira página do MSN, entre outras da Internet, como uma propaganda maciça, antecipada, desse "fenômeno", que nada mais é do que servir-se de um animal para se tornar uma celebridade milionária. De fato, tudo que o homem faz para agredir os animais, a natureza, tem que ser considerado um crime com punição justa. O Planeta já está sofrendo em demasia por essas ações medíocres. A seca que se alastra, em decorrência dos atos malvados do homem, já dizimou milhões de cardumes por toda parte. Os incêndios, muitos deles criminosos, matam a fauna, e os poucos animais que se livram da morte pelas queimadas, terminam adentrando residências, áreas urbanas, por falta de opção. Até onças estão compartilhando espaços com o homem.
    O Brasil parece nunca ter tido uma política drástica contra estrangeiros que chegam aqui para levar nossas espécies da flora e da fauna. É comum vermos europeus levando consigo araras, papagaios, macacos, etc.

  • Brito, o Discovery já foi um excelente canal de divulgação científica. A maior parte da produção era da BBC, havia programas de História, Paleontologia, Astronomia, trabalhos manuais e muitas outras coisas interessantes. Mas a onda direitista que varreu o entretenimento e o jornalismo mundial transformaram um canal de ciência num canal cheio de programas idiotas, de mágicos, conspirações alucinadas, aventureiros que mostram como a natureza é nossa "inimiga" e tem que ser conquistada à força.
    É uma pena...

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