O Brasil precisa aprender um pouco de grego

Imperdível, como texto, exemplo e lição, a renúncia pública do Ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, publicada em seu blog,que reproduzo aqui com a tradução do pessoal da Vila Vudu, publicado pelo RedeCastorPhoto.

Altivez sem arrogância, desapego ao cargo sem servilismo, disciplina em relação à necessidade coletiva sem vassalagem.

Numa palavra: caráter e compromisso com seu país, saindo para facilitar uma solução, sem esconder a origem e a natureza das pressões.

Os “negociadores” europeus, além da recusa do povo grego, receberam o tapa moral que Varoufakis foi capaz de dar, sem reação possível.

Com uma frase daquelas que não ficar eternamente em sua biografia: ” a ira dos credores é trunfo que ostento com orgulho”.

Uma bela aula do que é possível fazer diante das dificuldades aparentemente intransponíveis, pelo merece a homenagem do vídeo que posto ao final, onde o Zorba (Anthony Quinn) ensina ao inglês Basil (Basil, sem o erre…) da dançar o Sirtaki como os gregos sem se acovardarem ou perderem a alefria frente aos problemas, com a linda música de Mikis Teodorakis, o compositor que, sempre um militante de esquerda, apoiou o “não” dado pelos seus compatriotas gregos

Ministro, não mais!

Yanis Varoufakis

O referendum de 5 de julho de 2015 ficará na história como momento raro, quando uma pequena nação europeia levantou-se contra a servidão da dívida.
 
Como todas as lutas por direitos democráticos, também essa rejeição histórica ao ultimatum que o Eurogrupo nos fez dia 25 de junho de 2015 arrasta com ela uma etiqueta de alto preço. É pois essencial que o grande capital político que foi outorgado ao nosso governo pela esplêndida votação que o NÃO recebeu seja imediatamente investido num SIM às correspondentes coragem e decisão – para um acordo que envolva reestruturação da dívida, menos austeridade, redistribuição a favor dos mais necessitados e reformas reais.
 
Imediatamente depois do anúncio dos resultados do referendum, fui informado de uma preferência, de alguns participantes do Eurogrupo e de variados ‘’parceiros’’, que apreciariam minha… ‘’ausência’’ de futuras reuniões; ideia que o Primeiro-Ministro considerou potencialmente útil para que ele alcance algum acordo. Por essa razão, estou deixando o Ministério das Finanças hoje (6/7/2015).
 
Considero meu dever ajudar Alexis Tsipras a explorar, como melhor lhe pareça, o capital que o povo grego nos assegurou, mediante o referendum de ontem.
 
E a ira dos credores é trunfo que ostento com orgulho.
 
Nós da Esquerda sabemos como atuar coletivamente, sem interesse pelos privilégios do poder. Apoiarei firme e integralmente o Primeiro-Ministro Tsipras, o novo Ministro das Finanças e o nosso governo.
 
O esforço sobre-humano para honrar o bravo povo da Grécia e o famoso OXI (NÃO) que os gregos avalizaram para todos os democratas em todo o mundo, está só começando.
 
Fernando Brito:

View Comments (23)

  • O que ele fala sobre ser esquerda serve não apenas para o PT, mas principalmente para a chamada esquerda radical. Atentem que, para ele, esquerda não se apega aos privilégios do poder, mas também não trai e não é desleal com seu governo. Um aula para aqueles que se sentem incomodados com o poder e saem atirando para todos os lados, como se fossem fazer a revolução na semana que vem. O ex-ministro, uma pessoa de esquerda, aceitou que o governo de esquerda precisa de seu afastamento para fazer acordo com o sistema capitalista.

  • Antiguidade é posto.
    A Grécia é mais antiga que a Europa, mais antiga só a China.

  • O que tem me cansado entre os blogs progressistas é o fato de falarem em golpe com tranquilidade e não esboçarem uma reação.Lembro aos tais blogueiros que nós temos um passado de lutas e que não aceitaremos um golpe jurídico,midiático,político ou militar sem sangue.Porque não vejo os blogs chamarem os progressistas a uma reação?
    Tenho 270 anos de idade na cacunda,muito vigor,experiência e coragem. Aprendi na adolescência que o que nos faz diferentes é o fato de não temermos a morte e não correr da luta.

  • Quem impede Dilma de governar é campanha da Mídia de produzir crise. E a razão principal é o Achaque. Mamam e sempre mamaram nas tetas gordas dos governos. Só que agora com o PT as verbas dos achacadores diminuíram. Sempre foi assim no Brasil desde o tempo de Assis Chataubrian (diário associados) e mantido pela Mídia que o sucedeu, o político que ocupar o governo e restringir verbas cai em desgraça. Ex: Dima, Lula, Dirceu e vários outros o que pode ser constado no depoimento de Collor ontem, no Senado em que revela como isto acontece. http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2015/07/06/collor-veja-e-achacadora/ . Dilma devia dar o seu depoimento de como isso se tornou um prática no Brasil.

  • Porque os ocupantes de cargos públicos no são tão diferentes dos ocupantes de cargos públicos na grecia? será isso apenas uma questão cultural?

    • Olha, acho que no fundo são todos iguais, olha o estado lastimável em que se encontra a Grécia, até parece que o FHC passou por lá.

  • Parabéns Brito, mais uma vez. Você enfeita magistralmente o texto com essa pequena mostra de Zorba, o grego. Impressionante lucidez a tua.

  • Este rapaz vai ser a esperança de libertação de toda a Europa. A esperança do povo europeu, de se libertar dos grilhões aparentemente inquebráveis da absurda ditadura financeira que sufocou aquele continente. Os caquéticos dominadores da União Européia o odeiam, porque sabem que ele encarna a persistência da dignidade que em breve poderá destruí-los. Outros que nele se espelhem deverão surgir por toda a parte.

  • Convém não esquecer a sequência de fatos que culminaram no festejado NÃO grego do último domingo. Um governante de centro esquerda (George Papaendrous), após manifestações com direito ao "kit" (black blocs, coquetéis molotov, etc), foi substituído em 2011 por governo ultraconservador, que cumpriu à risca as exigências da "troika" (FMI, BCE e Comissão Européia). Conhecendo o inferno, os gregos elegeram o Tsypras, e rejeitaram mais austeridades qdo consultado.O resultado de tudo isso ainda é uma incógnita. E nem sei se deve ser comemorada a saída do ministro das finanças, que escreveu um belo artigo, mas...
    Se, no caso brasileiro, recomenda-se que miremos no exemplo grego, aguardemos, pois, passivamente o golpe com posterior tomada do poder pelos nossos ultraconservadores. Então, em algum momento no futuro caótico, esmagados por pacotes e mais pacotes de medidas amargas, com retrocesso devidamente implantado, chegará nossa vez de dizer NÃO. É isso?

  • nao ficou clarissima, jaide, a chama viva que é yanis varoufakis?
    Bravo na batalha e bravissimo na renuncia.
    Economista Politico, com tudo o que isso carrega e significa.
    Fazia tempo q a gente nao via um.

  • A decisão do ministro Varoufakis, mostra a altivez e a dignidade do povo grego.
    A dívida externa da Grécia contraída pelos sucessivos governos liberais, foi um crime de lesa pátria, como demonstra os estudos preliminares da auditoria da dívida que tem como partícipe do grupo uma brasileira. É o tipo de dívida impagável, pois é constituída de vários acordos obscuro de socorro a bancos privados, e com juros sobre juros ocasionando aumento exponencial da dívida externa.
    Parabéns ao povo grego que com coragem e determinação deu um "Não" a opressão da união européia.

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