Li, hoje, na crônica de Antonio Prata, na Folha, a mais sintética conclusão sobre o pós-Copa:
“(…)o que percebi em meio à muvuca e me salvou da depressão foi que, hoje, o Brasil é melhor do que a sua seleção”.
Fiquei pensando sobre isso.
Até o mês passado, tínhamos um país caótico, no qual só se salvava a seleção de Felipão, unanimemente reconhecida como “o melhor que tínhamos” e dirigida pelo melhor organizador de grupos de nosso futebol.
O país do caos não aconteceu, ao contrário.
A melhor seleção, também, não, apesar de nosso desejo e torcida.
Os compromissos do Governo para a realização do torneio foram cobrados, questionados, atacados, duvidou-se de seu sucesso até o último instante e o último detalhe.
A mídia brasileira vibrou com o “chute no traseiro” que Jerôme Valcke, da Fifa, recomendava fosse dado no governo brasileiro, a mesma Fifa que, pelos seus “padrões” elegia Luís Felipe Scolari como o terceiro melhor técnico de seleções e anunciado até como um possível treinador do Barcelona no pós-Copa.
A Veja garantia: “Felipão, que costuma ser classificado como um conservador do futebol, promoveu sua revolução na seleção no mês de junho, injetando juventude e ousadia na equipe e fazendo apostas certeiras. Ninguém mais teme um vexame histórico em casa em 2014”.
Agora, comemoram sadicamente o “vexame histórico”.
Os “sabidos” sabiam tudo e, quando ocorre o inverso do que previam, nem sequer a dignidade de sofrer junto com o povo brasileiro conseguem ter.
Tudo, agora, é tentar tirar pelo fracasso futebolístico o que tentaram (e em parte conseguiram) pelo suposto e imaginário fracasso organizativo da Copa.
A capa de ontem de O Globo, substituindo o “não vai ter Copa” pelo “não vai ter Olimpíada”, daqui a dois anos, é a mais perfeita tradução do pensamento mesquinho dessa elite.
Louvam a Alemanha por um projeto de dez, 15 anos para reerguer seu futebol, com vários insucessos pelo caminho, mas gritam histericamente com um resultado mensal de inflação ou contra um lucro mais modesto da Petrobras no trimestre, mesmo sabendo que isso é para alcançar a fartura do pré-sal.
O Brasil não é apenas melhor do que sua seleção foi na Copa.
O Brasil fez a mais encantadora – para o mundo, embora tão sofrida para nós – Copa do Mundo da história e a fez contra sua mídia e contra a sua elite.
Recebeu gente do mundo inteiro com alegria, carinho e civilidade.
Aliás, recebeu também a derrota esportiva avassaladora com profunda tristeza, mas não com ódio.
Tirando os mal-humorados crônicos, estamos todos orgulhosos.
As minorias coxinhas, babacas, que tinham “bala” para estar no Maracanã – agora um estádio “padrão Fifa”, onde pobre não entra – soltaram seu recalque nos xingamentos grosseiros, outra vez.
Porque o campo de guerra, no futebol, é o campo, não o estádio, nem as ruas, nem a cidade, nem os países.
A Copa do Mundo é uma festa, muito mais do que uma guerra; um congraçamento, muito mais do que a disputa que se dá nos 90 minutos, ou na prorrogação, ou nos pênaltis.
Não temos a taça, não ficamos com a moça mais bonita na festa que realizamos.
E a festa, na vida humana, já disse Leonardo Boff, é o tempo mais forte da vida.
Festejamos como ninguém, com direito a um domingo em que o céu amanheceu azul e branco e que deixou a noite chegar em tons amarelos, vermelhos e negros.
E, com todas as cores do mundo, mais profundamente brasileiros
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"O Brasil, que bom, não é selvagem como suas elites". Tomei a liberdade de tomar emprestado o título de sua crônica, pois ele exprime a grande verdade que se desnudou nessa Copa. E que já sabíamos. Faltava, entretanto, a constatação pública e vexatória para o mundo.
Se não estivessem anabolizados de ódio pela midia, estariam com vergonha.
Fernando, isso não é mau-caratismo. É esquizofrenia pura. Antes da copa, a mídia alardeava que "o povo" não queria copa. Agora, com o sucesso retumbante, o sucesso da copa é atribuído ao mesmo povo.
Antes, o povo era usado para o ônus da copa. Agora, ao povo o bônus. Ao governo, os leões ..., e junto com eles o fracasso dentro de campo da seleção, antes cantada e decantada como a melhor.
Fernando Brito a Copa do Mundo foi um sucesso de organização, por isso peço a sua gentileza que fizesse um Balanço Geral da Copa, mostrando o Legado do evento, incluindo os gastos dos turistas, a entrada de dinheiro na economia proporcionado pelo evento e a infraestrutura, como era antes e depois da Copa.
Fica a sugestão.
Acho a sua idéia excelente, JK mas quem tem que fazer isso é a presidenta, no horário nobre das tv's - seria a sua defesa em face de tantas denuncias , tanta baixaria perpetrada pela oposição .
Tomara que ela tenha essa atitude e também sorria um pouco mais, o que a deixa com uma fisionomia relaxada.
fora de contexto..
Nem só da mídia vive a direita.
O que motiva o voto das pessoas talvez seja um assunto ainda não elucidado, mas de qualquer forma, é algo que eu deixo para os especialistas. Aqui, apenas escrevo uma intuição amadora.
Reconhecer o voto da elite brasileira na direita não é tarefa difícil, eles, mesmo que de maneira imediatista e egoísta, estão defendendo o próprio bolso. Querem todo o favorecimento que só um partido de direita pode dar.
Mas por que a classe média alta, que acha que pertence a elite, vota na direita? Mesmo ela não tendo nenhum retorno direto ou indireto provido pelo governo direitista?
Uma explicação poderia ser a mídia, que ao fazer campanha incansável para a direita, conseguiria convencer a pseudo elite a votar no partido direitista. Neste caso a pseudo elite, que é também a parcela da população que mais anos passou na escola e na universidade, estaria sendo convencida de maneira estúpida,através da mídia, a ser massa de manobra da verdadeira elite.
Sinceramente, essa explicação não me parece suficiente.
O que falta para a explicação é a conversa no clube na beira da piscina.
Pois o indivíduo recém chegado na pseudo elite precisa se enturmar. Então, ele faz tudo que manda o manual, compra um carro novo, que deve valer no mínimo três vezes mais que o carro da empregada. Frequenta o Shopping certo, usa a roupa certa, viaja de avião no mínimo três vezes mais que a empregada dele. Enfim, faz uma série de coisas que manda o manual, algumas delas,por conta da redução da pobreza, se tornaram mais difíceis . Pois um princípio básico do manual é se diferenciar da classe mais pobre. Isso já faz ele ter um pouco de raiva da Dilma e do Lula, pois no governo deles a classe pobre melhorou de vida e a agora é mais difícil se diferenciar deles.
Mas tem mais uma coisa escrita no manual, que é sobre o que falar a beira da piscina. Um dos assuntos mais aceitos é falar mal do PT. Com esse assunto o indivíduo consegue se enturmar rapidamente, além de ser fácil falar sobre isso, basta comprar a Veja e assistir ao PIG.
Essa crasse merdia que come as sobras que caem da mesa da verdadeira elite e que serve (ou serviu) como barreira entre pobres e ricos!
Tem contexto sim, mas não engloba tudo. Pra se ter uma idéia de como é aqui no interior de SP. É normal falar mal do Brasil e da Presidenta, o anormal é falar a favor. O pior de tudo é que na minha ânsia de defesa da presidenta me perguntam pq eu ''gosto'' dela. Eu respondo e enumero primeiro as coisas boas que me afetam diretamente e depois as que afetam indiretamente e por fim as que beneficiam as camadas mais pobres. Eu devo ser um trouxa mesmo pq ai eu pergunto ... e vc pq não gosta do Pt e da Dilma? As respostas são descabidas, sem argumentos firmes e na maioria das vezes o FDP é beneficiado todo dia com atitudes do governo.
Ou seja, o que existe é ignorância, manipulação, maria-vai-com-as-outras, egoísmo e preconceito. Um preconceito que não é pq ela é mulher, ou pq governa para os pobres. É sem motivo, é o ... escuto dizer por ai.
Prefiro mil vezes um cretino coxinha chegar e dizer que odeia Dilma pq ela melhorou a vida do pobre. Respeito a opinião e não discuto, mas está lotado de gente não politizada que não enxerga que seus pescoços estão em jogo.
Essa campanha vai ser difícil pq pior do que argumentar é tentar argumentar com quem não quer ouvir.
Espero mais uma vez que o Norte, Nordeste e desta vez o Sul salvem o Brasil. Pq Sp e Minas não são o centro do mundo.
Eu concordo. Vejo sentido em tudo que vc falou. Tenho uma experiência vastíssima com coxinhas...
No meu caso, tudo acontece no ambiente de trabalho. Meu contato direto é com a elite, com pessoas da classe A paulistana. Também lido com coxinhas, em número elevado.
Ou seja, meu cotidiano é repleto de tucanos e reacionários em geral. Uns muito malas, outros nem tanto.
Trabalho na assessoria jurídica de magistrado.
No geral, os tucanos só repetem o que ouvem na grande mídia, sem maiores reflexões. Também reproduzem textinhos e memes de Facebook. Eles são preconceituosos, raivosos e detestam o PT. Sindicato e movimento social... nem pensar!! Tudo bandido!!
Como não sabem minha posição política, eu "vou comendo pelas bordas". Tipo: Critico alguma matéria da Veja, mostrando a incoerência. Critico o governo Alckmin, falando sobre a falta de investimento no metrô, preço dos pedágios etc etc etc.
Só que nunca critico de forma contundente. Às vezes, faço alguma gozação. Enfim.
Penso que, na maioria das vezes, defendo as posições clássicas da esquerda, sem que eles identifiquem "de que ponto de vista estou falando".
Detalhe: Eu trabalho com esse pessoal, mas eles não são meus amigos, sequer frequentam minha casa.
Como conheço bem a "elite branca raivosa" que vaiou e xingou a Dilma, acho que a campanha não será fácil.
Mas venceremos. Porque o povo não tem nada a ver com essa turminha da elite. E sabe muito bem disso.
DILMA 2014!!!
Para muitos, a tal "ficha", está caindo. Para muitos outros, por questão de arrogância e preconceito, a "ficha", não cairá. Estes irão tentar inventar outras "estórias", achando que todos os demais são tolos para acreditar no que divulgam. Esta classe dominante (erradamente chamada de elite) é das mais ferozes do planeta. Eles tentaram, de todos os modos, para continuarem dominantes, inclusive com uso da violência e do dinheiro. O patrimonialismo é a verdadeira bandeira deles. Querem tudo, o poder econômico (que já deteem) e o político também, na sua totalidade.
A "Copa das Copas " uma bela festa com reconhecimento mundial. Mais um fracasso retumbante dos profetas do apocalipse,PiG-demotucanos. De feio sobressaiu o comportamento anti-social da nossa direita raivosa. O proveito desta magnífica exposição ainda está para ser apurado.Espero com ansiedade que o governo faça o melhor balanço possível desta iniciativa que até agora foi vítima de preconceito e exploração nefasta político-partidária. O Brasil tem que conhecer melhor seu caminho para o futuro.
Sr.Fernando.Eu tenho pra mim,inda que me expresse por meio de blogs,sem nenhuma pretensão literária,posto já ter deixado pra traz,veleidades adolescentes,que o X da questão relativa às inúmeras manifestações sobre LIBERDADE DE EXPRESSÃO e afins,residir dentre tantos obstáculos para chegar-se a tal,o comportamento do JORNALISMO de um modo geral,e o publicismo em particular.Ora sr.Fernando,o intermediário na velha luta de classes,que é do que estamos tratando,reside no fato que a publicidade é a arma que a burguesia usa,para tentar dirimir tal luta e dar-lhe outro caráter através da propaganda.E quem são os incumbidos de propagandear tais teses?O Jornalismo!Como todos os integrantes de tal categoria social,em virtude de MONOLOGAREM com o resto da população,sem o devido CONTRADITÓRIO,passam aos demais componentes da sociedade,as teses dos PATRÕES!Não é atoa,que o Sr.Mino Carta,afirma que no Brasil,os jornalistas são piores que os patrões!Eu concordo com ele,em parte,contudo isso ocorre em quase todo o mundo.Enquanto não estabelecermos o direito ao CONTRADITÓRIA,estamos sujeitos a assistir o relato dos fatos,com os publicitários usando,ao invés de substantivos,relativos aos fatos,adjetivos que são em última análise a opinião que cada um tem e como a quase totalidade deles tem opiniões não suas,mas dos seus patrões,a visão é meramente interesse patronal e por ser visão somente de um lado,só o contraditório,dirime equívocos.Liberdade de expressão,é quando todos tem oportunidades iguais.Em um jornal ou assemelhados,a única coisa que não é opinião,é a data!Saudações...
Existe um exagero,entre vincular um país a um determinado esporte,isso foi construído,a alegria deveria ser
de um país que tem condições de proporcionar e agregar ao mundo um poder de direcionar
a humanidade a um caminho de
paz,ficou meio piegas sofrer sem motivos,se existe um mundo de pessoas diferentes e' muito salutar e não e' de se espantar que nunca vai ter unanimidade entre as pessoas,nem sequer dentro de casa assim pessoas de
esquerda terão filhos de direita
e pessoas de direita terão filhos de esquerda,cada qual têm seu tempo,cada qual tem seu tempo na vida e o Brasil seguirá para melhor.
Prezado Brito, obrigado por mais este texto profundamente Brasileiro.
Sábado à noite tive o prazer de reassistir o documentário sobre a vida do Darcy Ribeiro, e quero reproduzir aqui uma fala dele que vem muito, muito a calhar: "eu fracassei em tudo o que tentei fazer na vida. ... mas meu fracasso é minha vitória, pois eu detestaria estar onde estão os que me venceram" (nossa triste e enfadonha elite, que há décadas entoa o mesmo refrão...)!!!!!!!!
Creio que, de onde estiver hoje, o mestre também está "com todas as cores, mais profundamente (e orgulhosamente) brasileiro". Nosso povo está muito mais brasileiro, independentemente da nossa elite rica de dinheiro mas podre e pobre por dentro pois, como o Darcy mesmo dizia, somos uma nova civilização e, para isto, basta sermos nós mesmos e não copiar ninguém, como gosta tanto de fazer nossos conterrâneos mais endinheirados e seus vorazes porta-vozes ...
Hoje tenho mais esperança de que ainda seremos o Brasil sonhado por Darcy e tantos outros que já se foram ou não; um Brasil que "não é selvagem como nossas elites", mas pacífico e maravilhoso como constataram pessoas de todas as cores o origens que aqui estiveram e celebraram conosco neste mês que acabou ontem.
No dizer do jornalista Matthew Futterman do Wall Street Journal "os brasileiros são a coleção de almas mas acolhedoras com que eu já me deparei". Esta é a imagem que mostramos ao mundo inteiro, apesar dos gritos raivosos vindos dos que se julgam "acima".
Pra você, Fernando Brito, meu agradecimento e meu abraço Brasileiro!
Perdoem-me o trocadilho infame (já postado em outra matéria) que não quer calar: qual a diferença entre a seleção argentina e o psdb? Aquela tem o Má-scherano e este o bem cherado.