O Brasil vai criar o tráfico internacional de vacinas

Há um mês, a lei brasileira – já absurda – permite a compra de vacinas pelas empresas privadas.

Não aportou no país, por isso, nem mesmo uma mísera dose de imunizante.

O argumento é que, como o texto atual prevê que, até o fim da vacinação dos públicos de mais alto risco, as vacinas compradas têm de ser entregues ao SUS, para vacinar estes grupos e isso não traz “vantagens” às empresas.

Não é “vantagem” que a população seja imunizada, que a vida se aproxime do normal, que a economia possa voltar a operar, em benefício destas próprias empresas?

É evidente que sim e que nada custaria – ao contrário, haveria um retorno imenso em marketing – gastar cinco ou dez milhões de dólares (migalhas para empresas de grande porte) para importar um ou dois milhões de doses de vacinas.

Na “pindaíba” vacinal em que nos encontramos, seria um fato que atrairia mídia espontânea, gratuita, para a esta empresa em volume enorme, uma promoção de imagem perto da qual três ou quatro campanhas de anúncios destes que inundam páginas de revista não chegariam aos chinelos.

Portanto, se não importaram, não foi por “economia” ou porque não teriam lucro algum com isso. Teriam, e imensos, porque estariam entregando à sociedade o que a sociedade mais deseja neste momento.

A razão de não terem importado é que não há fontes seguras e regulares para comprar vacina em quantidade e nenhuma grande empresa vai se esgueirar por vielas escuras dos negócios escusos para comprar vacinas, que os grandes laboratórios não vendem, ao menos abertamente, senão a governos.

Aliás, ainda assim, com grande dificuldades em atendê-los e é notória a falta de imunizantes para isso.

Ainda hoje há uma disputa entre o governo da Austrália e a União Europeia por meros 1,3 milhão de doses da vacina da Astrazêneca.

Então, para que a mudança na lei? É tão simples quanto chocante: o tráfico internacional de vacinas, que só pode se dar em quantidades menores, “na encolha”, por empresas de terceira linha, falsificadores e atravessadores.

Além do mais, como justificar entregas antecipadas a empresas, se adiam e protelam a entrega para governos?

Estamos na iminência de fazer com que o parlamento e o governo brasileiro, ao sancionar esta lei, de criarmos oficialmente o tráfico oficial de vacina.

Reporoduzo, abaixo, em vídeo, a indignação com que os jornalistasLuís Costa Pinto e Eumano Silva, com décadas de conhecimento das malandragens de Brasília, abordam o tema hoje em seu ótimo podcast Sua Excelência, o Fato. E trazem situações insólitas, como a de um deputado de Miami – a cadeira é do DF, mas elegeu-se “por correspondência” nas redes sociais – que diz que isso é “uma inovação” do parlamento brasileiro, que os outros países “ainda não enxergaram que isso é uma grande saída”.

É, de fato, os nossos parlamentares são bem mais “espertos”.

 

Fernando Brito:
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