Assim como Fernando Collor, diante das dificuldades, saía a correr – seguido por seguranças e adeptos – nos arredores da Casa da Dinda, Jair Bolsonaro reagiu hoje com outra ‘motociata”, bem mais modesta, em Chapecó, levando na garupa o prefeito da cidade, João Rodrigues, a quem a adesão incondicional à cloroquina rendeu o amor presidencial.
Não que isso tenha melhorado a situação da cidade, que segue com 86% de seus leitos de UTI lotados e contabiliza 647 mortes entre os 224 mil habitantes do município.
Mas, embora Bolsonaro, para fazer as “demonstrações de popularidade” esteja tendo de apelar para a confusão de motos desfilando, o que aumenta a impressão visual do tamanho com muito menos gente, não está, ao menos ainda, na situação do primeiro presidente “impichado” do Brasil, longe disso.
Bolsonaro tem, dizem as pesquisas, algo perto de 25% de apoiamento, Collor tinha, no impeachment, 9%.
Pode ir a isso, com as encrencas que estão surgindo na CPI sendo capazes de destruir o que lhe resta: o “mito” do incorruptível. Mas estamos longe disso, forçoso reconhecer.
É muito pouco, certamente, para ganhar a eleição, mas é ainda o suficiente para que ele seja, no campo da direita, o único capaz de ir ao segundo turno e, como é sua estratégia, contar com o ódio furioso da elite brasileira e de parcelas da classe média que não admitem um país que sejam menos excludente, mesmo o pouco que se conseguiu fazer nos anos Lula.
Este é o nó que parte do conservadorismo brasileiro tenta desatar: sonha em eliminar Bolsonaro da disputa (o que é, claro, um desejo nacional) para que possa apresentar um candidato “limpinho e cheiroso”, descolado da imundície bolsonariana.
Tudo isso, porém, ainda é mera especulação: o quadro atual é o de construir uma candidatura que some o suficiente para derrotar Bolsonaro e, em nome da estabilidade e como antídoto a golpismos, ainda no primeiro turno.