O coreano que crê mais no Brasil que os “economeiros” daqui

O economista sul-coreano Ha-Joon Chang, há trinta anos vivendo em Cambridge e lecionando na prestigiadíssima universidade local, é conhecido em todo o mundo por seus livros, escritos em linguagem simples, que desmontam as teses da sabedoria inquestionável do “mercado”. Em entrevista ao Estadão, reproduzida em A Tarde, Chang puxa o tapete dos “economeiros” tupiniquins em vários assuntos, em especial a venda da Embraer para a Boeing, que ele resume numa frase mortal, dizendo que a brasileira vai ser apenas uma “segunda marca” da gigante americana.

Chang discorre,também, sobre o desenvolvimentismo brasileiro, o qual critica menos pelas orientações econômicas e mais pela falta de contrapartidas das empresas nacionais beneficiadas por ele. E tem toda a razão, porque a grande maioria recebeu incentivos e, em lugar de melhorarem seu funcionamento e busca de mercados, passaram para o lado do pato e se agregaram à sedição contra o regime democrático.

Leia, é imperdível:

‘País deveria manter o controle da Embraer’

Ha-Joon Chang, em entrevista a  Luciana Dyniewicz

A ex-presidente Dilma Rousseff adotou medidas protecionistas para algumas indústrias, como o IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) no setor automotivo. O que deu errado?

Várias coisas precisam ser feitas para a proteção funcionar. Só proteger não é suficiente. É como mandar uma criança para a escola: se ela não vai à escola e começa a trabalhar aos 6 anos, não se tornará uma pessoa produtiva como um engenheiro. Mas mandá-la à escola não será suficiente, tem de se certificar de que ela estuda. Um dos problemas daqui, não falando apenas do período Dilma, foi não adotar medidas para garantir que a proteção estava aumentando a produtividade. Na Coreia, se as indústrias protegidas não melhoravam a performance, a proteção era retirada. Outro problema no Brasil são as políticas macroeconômicas, como de juros altos e câmbio valorizado. Quando se tem uma taxa de juros de 10%, quem vai pegar crédito para expandir seu negócio? No Brasil, a política econômica não ajudou os investimentos e então o BNDES tinha de fazer empréstimos especiais. Em um ambiente favorável, um banco de desenvolvimento precisa financiar apenas alguns setores. No Brasil, virou a fonte de financiamento geral.

Agora temos um governo mais liberal: o BNDES restringiu os empréstimos e uma reforma trabalhista foi feita para aumentar a produtividade.

Basicamente, governos liberais enfraquecem os direitos dos trabalhadores para reduzir os custos trabalhistas. Na Alemanha, trabalhadores recebem US$ 40 por hora porque a tecnologia justifica esse salário. No curto prazo, relaxar a regulamentação trabalhista pode ter impacto positivo para as corporações. No longo prazo, você não vai conseguir competir com empresas da Alemanha. O que determina o sucesso é a tecnologia e a produtividade, não o custo com salário.

Os ex-presidentes Dilma e Lula tentaram criar empresas ‘campeãs nacionais’ com financiamento do BNDES, em um modelo similar ao dos ‘chaebols’ coreanos (companhias de controle familiar como Samsung). Aqui, essa política não teve muito sucesso no desenvolvimento do País…

É preciso muitas coisas para que o modelo dê certo: as políticas econômicas têm de ser corretas, tem de dar suporte à infraestrutura, à pesquisa, à educação e também proteger essa companhia. Também é preciso ter certeza de que ela não abusa da proteção, com punições, por exemplo, se ela não atingir a meta. Levam-se décadas para que essas empresas cresçam.

O ponto criticado aqui é que o governo escolheu apenas algumas companhias. Elas cresceram, mas com muita corrupção.

Não sei os detalhes disso. Corrupção é sempre um perigo. Por outro lado, se você não direciona essa política a um pequeno número de empresas, é improvável que tenha campeãs. É um conflito de escolhas. Se pode ter uma política mais geral, o que não deve criar muita corrupção, mas acaba espalhando demais os recursos. Para ter sucesso, é preciso concentrar recursos, mas aumenta o perigo de corrupção.

O sr. afirma que é importante para um país ter empresas com alto nível de tecnologia. O Brasil tem hoje a Embraer, que está negociando um acordo com a Boeing. Como o sr. vê isso?

Acho que se deveria tentar manter (o controle da empresa). A Boeing vai tornar a Embraer uma segunda marca, para coisas simples, levar as tecnologias importantes (da Embraer) para os Estados Unidos.

O que o País pode perder com esse negócio?

A habilidade de gerar sua própria tecnologia. Pessoas dizem que empresas nacionais não são mais importantes. Não é verdade. Quando uma empresa alemã compra uma americana, os alemães ficam com a gerência e passam a fazer os trabalhos de desenvolvimento mais importantes na Alemanha. É por isso que compram, para controlar. Não digo que nunca se deve vender as companhias líderes para estrangeiras, algumas vezes é necessário, mas é preciso ter cuidado. A Embraer é a única companhia que compete com Boeing e Airbus, apesar de ser menor. Se for vendida, é muito importante garantir que o Brasil mantenha a capacidade tecnológica.

O Mercosul e a União Europeia estão negociando um acordo de livre comércio. O Brasil pode ganhar com isso?

Se o Brasil assinar um acordo assim com a Europa, vai aumentar a dependência do País de commodities. Provavelmente, no curto prazo, poderá se beneficiar exportando mais soja. No longo prazo, você coloca o País na direção errada. 

Fernando Brito:

View Comments (26)

  • No longo prazo, você não vai conseguir competir com empresas da Alemanha. O que determina o sucesso é a tecnologia e a produtividade, não o custo com salário. Industrie 4.0

  • Lucidez e um pragmatismo óbvio, por parte de Chang.
    Duas características básicas que faltam no cenário de analistas econômicos nacionais, desde a década de 90, pelo menos.

    Faltou aí na foto da matéria, outro excelente livro dele: Chutando a Escada.
    Leitura obrigatória para quem ainda insiste que devemos seguir o exemplo pseudo-liberal, de países que tentam difundir o "livre mercado" como máxima do desenvolvimento.

    • Arnestinha Pederasta

      Tá pensando que eu me esqueci de você ?
      Se prepara cachorrinha vadia, foi só um breve tempo.
      Não adianta suas comparsas mudarem de nome e ou sexo, estarei no encalço de vocês vagabundas !
      KKKKK
      KKKK
      KKK
      KK
      K

      • Cara, meu nome não é Ernesto e minha visão econômica é próxima da de Chang.

        Não entendi seu comentário e, se me confundiu com alguém, sugiro ao senhor que vá se tratar e escrever essas palavras medíocres em uma coluna da Veja.

        Não em um blog político sério.

          • Que feio, hein, Sérgio, você está perdendo o pouco autocontrole que tinha. Se continuar assim, logo o Dr. Almeida vai te internar por mais um "breve tempo".

          • Um pouco de moderação não faria mal nesse blog.

            O que uma pessoa de tão baixo nível ganha, cagando pelos dedos?

            Bastava olhar o nome e o que eu havia escrito, antes de ficar xingando quem você sequer conhece.

  • Aqui a contrapartida das empresas beneficiadas era algo como pagar milhões por uma "consultoria esportiva" copiada da Internet.

    • Arnestinha Pederasta

      Tá pensando que eu me esqueci de você ?
      Se prepara cachorrinha vadia, foi só um breve tempo.
      Não adianta suas comparsas mudarem de nome e ou sexo, estarei no encalço de vocês vagabundas !
      KKKKK
      KKKK
      KKK

    • Arnestinha

      Não adianta escrever tanto. Ninguém lê esse tanto de MERDA !
      Tá pensando que eu me esqueci de você ?
      Se prepara cachorrinha vadia, foi só um breve tempo.
      Não adianta suas comparsas mudarem de nome e ou sexo, estarei no encalço de vocês vagabundas !

    • E sobre o cerne da entrevista NADA, fica apenas com coisas laterais e questionáveis como "houve corrupção blablabla", como que a reconhecer - ah, o caminho era o certo, mas houve corrupção... Babaca.

      Se tu não percebeu, a entrevista do professor "bolivariano" é justamente no sentido contrário da tua lenga-lenga sobre a "nova matriz econômica". Será se ele entende de economia? Não, né, deve ser só mais um bolivariano pago pra dizer isso com o dinheiro desviado da Petrobrás

      • Se é questionável, porque nenhuma matéria aqui até hoje sobre o wikiconsultor?

        • Alícia /Kawarinha /Lulinha/Qualquer Outra Porra

          Não adianta escrever tanto. Ninguém lê esse tanto de MERDA !
          Tá pensando que eu me esqueci de você ?
          Se prepara cachorrinha vadia, foi só um breve tempo.
          Não adianta suas comparsas mudarem de nome e ou sexo, estarei no encalço de vocês vagabundas !
          Até mais !

        • Atenha-se ao objeto do artido, retardalisson. Quer latir sobre corrupção, a veja ou o estragão devem ter alguns artigos que sejam mais ao seu agrado, e no nível do seu potencial intelectual.

        • Justamente por isso, pq é questionável. VC entende o que a palavra quer dizer ou quer que eu desenhe pra vc?

  • Chang é autor de um livro essencial, que todo brasileiro interessado no desenvolvimento de nosso país deveria ler, "Maus Samaritanos"

  • Aos que defendem a tese vulgar de que os ricos são a salvação da lavoura, saibam que rico não empreende para dar emprego, mas para aumentar sua riqueza, o emprego gerado é um efeito não visado e, como riqueza não cai do céu, é fruto do trabalho, ele aumenta sua riqueza pagando ao trabalhador menos do que ele produz, o quanto puder, só contribui com a distribuição quando é obrigado pelo Estado. É somente por isso que o PIB mundial continua crescendo e, apesar disso, a desigualdade só aumenta.

  • 90% dos empresários brasileiros são caloteiros e mal intencionados , os estrageiros que aqui se estabeleceram seguem o mesmo ritmo . Culpa dos incentivos fiscais , eles querem sempre mais e não cumprem a sua parte .

  • Eu quero ser cidadão da dinamarca onde não tem lá desigualdades dignas do nome. Ja o charlotes brito se sentirá bem na India ou no Haiti, lugares onde de fato ja faz tempo que a tese dele do "mito'' é indiscutivelmente bem aceita.

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