Quando a política tira da mira o bem comum e a ação coletiva que o busca, como nestes tempos em que ideologia é uma palavra maldita e partido político foi, praticamente, transformado em organização criminosa ante os olhos da opinião pública, o que norteia os que ocupam cargos dirigentes é só a feroz disputa marqueteira por prestígio e “votos futuros”.
Portanto, a questão que a pesquisa Datafolha coloca, ao divulgar hoje que Sergio Moro ainda conserva parte expressiva de aprovação (54 de bom ou ótimo), perdendo gás em menos velocidade que Jair Bolsonaro (29%, na mesma medição), é se isso ajudará o ministro da Justiça a tomar coragem e “peitar” seu chefe ou se fará o ex-capitão mais ofensivo na sua determinação de matar ,ainda no ovo, a serpente de um adversário em 2022.
Em outras palavras, se Moro, como a gralha da fábula, deixará que a vaidade o faça deixar cair o queijo ministerial, sem o qual – agora que não é mais o todo-poderoso juiz dos políticos – e recusará a série de humilhações a que Bolsonaro o submete ou ou o efeito será o de fazer o presidente avançar no processo de miniaturização da autoridade de seu ministro, seja por cálculo eleitoral, seja pela natureza de sua política de ódios.
Estamos, creio eu, mais perto da segunda hipótese que da primeira. Se tem índices de aprovação maiores que os do ex-capitão, nas batalha de poder, este tem força incomparavelmente maior. Moro dificilmente resistiria a três anos sem a exposição (e sem o foro privilegiado) da condição de ministro da Justiça.
Ainda mais com a possibilidade – e talvez, para ele, a certeza – de que as revelações da “Vaza Jato” estejam sendo dosadas para só o alcançarem com mais intensidade quando estiver mais fraco. Que o manto do silêncio da Globo possa, em parte, protegê-lo, mas há muita gente nesta área: Dória. Luciano Huck e quem mais vier.
Bolsonaro, ao contrário, tem todos os instrumentos para, querendo, atingir Moro: desde a caneta Compactor (ex-Bic) da indicação do Procurador Geral da República, da nomeação de delegados “seus” para a Polícia Federal, até os conflitos do Congresso com Moro.
Ainda mais quando já se viu que ele pouco liga para conservar bases mais amplas de apoio, o que troca pelo aguerrimento de sua matilha.
Ele conta que não é possível -fora das elites,- ser morista sem ser bolsonarista.
O rei da selva não tem príncipe.
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Moro é um sucessor digno: não tem nada pra propor além de perseguir inimigos políticos. Agenda nula. Com a vantagem de ser blindado pela reportagem da Globo. É a única coisa que conserva seu índice melhorzinho. Por mim todo brasileiro que responde pesquisa tinha que falar que quer voltar nele e "mudar de ideia" só em cima da hora. É tipo um golpe ao contrário.
Pergunta que não quer calar: respondentes de pesquisas eleitorais: onde vivem? De que se alimentam? Sexta-feira, no Globo Repórter. ????
Minha necessidade de posicionamento público e forte nasceu quando um professor da filha realizou em 2014 uma enquete em classe, para provar a si mesmo que não existiam eleitores para o petê. Minha filha narrou como se sentiu intimidada pela maioria aecista.
Depois dizem que a esquerda é que doutrina os estudantes...????
Em 2014, no meu primeiro ano de faculdade de Direito meu professor fez o mesmo. Pra votarem entre Dilma e Aécio. Mas Dilma ganhou em minha sala. Ele era filiado ao DEM e aecista é claro. E por óbvio contra as bolsas do ProUni. Já ouvi em sala de aula que era um absurdo as cotas e bolsas porque não se teria mais empregados porque todos os pobres só queriam estudar, quem iria limpar a casa ou cortar a grama. Uma outra pessoa falou que era um absurdo os bolsistas porque eles não acompanhariam os demais, tirariam notas baixas além de serem indisciplinados, perguntei se esse era o meu caso e a pessoa respondeu que não, porque eu estudei em escola particular e tinha dinheiro para uma boa educação, e para surpresa dessa pessoa disse que eu era pobre, estudei em escola pública e era do ProUni, ela disse então que eu era uma exceção, e seguiu achando um absurdo as bolsas. 4 anos depois, vi minha sala de aula cheia de Bolsonaristas. E Professor falando em aula que se Haddad ganhasse ele iria legalizar incesto descriminalizar pedofilia, além de colegas loucos pra terem as armas pra matar comunistas.
Quanto ao nosso poder judiciário, sei que na prática muitas leis não são cumpridas. Aprendi na faculdade que na CF diz que a casa é inviolável e que se precisa de ordem judicial para nela entrar e como advogado recém formado busco sempre garantir que as leis sejam cumpridas e os direitos respeitados, mas lembro da polícia ter entrado em minha casa quando criança e adolescente sem papel algum pra ver se tinha armas drogas sem pedir qualquer licença. Por óbvio por não ter armas ou drogas em minha casa simplesmente irem embora.
Bonito depoimento, Gabriel. Parabéns.
Moro é fiador de TODA a direita, portanto sua queda é automaticamente a subida da esquerda. Isso explica a fake news do Datafalha. Como pode tal aprovação com a Vaza Jato? Nao acredito.