Coloco abaixo os três segmentos do debate que tentei travar ontem sobre o leilão do campo de Libra.
Digo tentei porque, a partir de certo ponto, o clima virou o daqueles debates de futebol, porque o professor Ildo Sauer, ex-diretor da Petrobrás até 2009 e depois passou para a oposição, apoiando Marina Silva, passou a adotar, a meu ver, um discurso totalmente irrealista de que seria preciso, primeiro, “cavar uns 100 poços” para delimitar exatamente as reservas.
Ora, o pré-sal foi descoberto em 2007 e, em seis anos, mal chegamos a metade deste número de poços, com custos que variaram entre 150 e 70 milhóes de dólares por poço!
Dói-me ouvir barbaridades assim, e outras maiores, como a de que Iraque e Líbia, depois das invasões e do estabelecimento de governos “dóceis” têm “estratégias nacionais” para a exploração do petróleo.
Eu exponho meus princìpios e posições nas vezes que me foi possìvel falar. Mas, reconheço, talvez me tenha faltado paciência para denunciar que essas posições idílicas de deixar lá o petróleo, como “reserva” intocada, é deixar nossa principal riqueza contemporânea exposta à cobiça internacional, aos arranjos da direita brasileira e às incertezas de um futuro distante é coloca-las em risco e expo-las a um crime contra o povo brasileiro, que não quer mais “um país do futuro”, mas um país DE futuro.
PS. O Professor Ildo Sauer não quis confirmar, no debate, o que disse a Revista da Adusp, e publicado pelo Viomundo, sobre negócios lesivos feitos por José Dirceu e Dilma Rousseff. Transcrevo:
“O que caberia a um governo que primasse por um mínimo de dignidade para preservar o interesse público? Cancelar o leilão e processar esses caras que saíram da Petrobras com segredos estratégicos. Por que não foi feito? Porque tanto Lula, quanto Dilma, quanto os ex-ministros, os dois do governo anterior e um do governo Lula, estavam nessa empreitada.
Revista Adusp. Quem era o ex-ministro?
ILDO. O ex-chefe da Casa Civil, antecessor de Dilma.
Revista Adusp. José Dirceu?
ILDO. É, ele foi assessor do Eike Batista, consultor. Para ele, não era do governo, ele pegou contrato de consultoria, para dar assistência nas negociações com a Bolívia, com a Venezuela e aqui dentro. Ele [Dirceu] me disse que fez isso. Do ponto de vista legal, nenhuma recriminação contra ele, digamos assim. Eu tenho contra o governo que permitiu se fazer. E hoje ele [Eike] anuncia ter 10 bilhões de barris já, que valem US$ 100 bilhões.
(…)
Foi um acordo que chegaram a fazer, numa conversa entre Pedro Malan, Rodolpho Tourinho e a então ministra-chefe da Casa Civil, em novembro, antes do leilão. O Lula chegou a concordar, segundo disse o pessoal do MST e os sindicalistas, em acabar com o leilão. Mas esse imbroglio, de o empresário ter gasto dezenas de milhões de dólares para recrutar equipe e apoio político nos dois governos fez com que eles mantivessem…
Se o professor não sustenta o que diz, eu sustento o que digo
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Caro Fernando,
e a carta aberta ao Paulo Metri , surtiu algum efeito? Ele mantém a opinião dele?
E o artigo 12 da lei 12.351 ?Como ele pode ser usado? E se for, o que vem depois? Você acha que é inviável?
Ele pode e deve ser usado. E vai ser usado, sobretudo em áreas limítrofes às exploradas pela Petrobras, onde não haverá risco exploratório e economicidade na unitizaçÑao de campos. A questão essencial é como mobilizar recursos para a exploração. A Petrobras não fabrica dinheiro, nem o Governo pode transferir, pura e simplesmente, dinheiro para uma empresa que tem 50% de acionistas privados. Na capitalização de 2010, que resultou num aumento de 8% do controle estatal da Petrobras, o dinheiro foi adiantado, para ser devolvido em petróleo quando as áreas de cessão onerosa transferidas à empresa. Mas investir para explorar estas áreas corre por conta da Petrobras. Ainda que se fizesse o mesmo, onde arrangar os 70 ou 80 bilhões de dólares necessários para a produção do campo chegar a nìveis que permitam completar o investimento total. A exploraçñao de petróleo, antes de gerar receita, produz cinco, seis, até sete anos de pesado fluxo de caixa negativo.
Caro Fernando e demais
"onde arranjar os 70 ou 80 bilhões de dólares necessários para a produção do campo chegar a níveis que permitam completar o investimento total"
Vendendo ações da Petrobras ao povo brasileiro e tornar o povo sócio. Ganha a Petrobras, ganha o Brasil e ganha o povo.
Saudações
O Ildo quer fundar a CAVABRAS.
O que eu acho é que daqui a pouco inventam uma fonte de energia diversa, então é bom resolver o assunto logo.
Jã existem varias.
Mas não tão barata, proporcionalmente, e/ou com a viabilidade econômica de produção em grande escala, como a biomassa
Fernando, suas ultimas considerações foram excelentes. Para este pessoal (Sauer e sindicato) tudo eh simples e facil, esquecem as dificuldades no congresso, esquecem do mercado e esquecem de parte da opinião publica. Do jeito deles, não se faz absolutamente nada, e quando a direita retomar poder (um dia isto vai acontecer com certeza, espero que não em 2015) ai a coisa pode ficar muito pior.
O professor não deixou o Fernando Brito falar.
O Ildo Sauer não sabe debater, não tem respeito pelos outros, tumultua quando os outros falam, tenta sempre apropriar-se da palavra.
O professor Ildo se diz incontestável defensor das gerações futuras, primeiro mensura, faz-se um plano estratégico, de posse disto com as reservas certificadas procura-se o capital para explorar.
O professor esqueceu de dizer o tempo e dinheiro necessário para tal certificação e planejamento.
O caríssimo professor diz tambem que o governo Lula fez mais concessões que o governo FHC, ora professor os Tucanos tinham um projeto mais imediato, vender a Petrobrás, de preferência quebrada e desacreditada.
O professor quer mais, inclusive defende o governo FHC, para mim o professor não precisa da máscara.
Caro Fernando, em ainda não tenho opinião formada, acho que o tema demanda mais debate. São muitas questões envolvidas , e todos têm argumentos concretos e objetivos .Parece-me aquela situação em que todos têm bons argumentos, mas tem que ser feita uma escolha. Assiste a uma audiência pública , que disponibilizo aqui ( http://www.viomundo.com.br/denuncias/metri-e-siqueira-a-inseguranca-energetica-e-o-leilao-de-libra.html ), e uma das questões que me chamaram a atenção foi de um sindicalista em relação à possível associação com os chineses. É uma preocupação, mas que tem solução, é só os chineses entrarem apenas com o financiamento. Gostaria que você, se possível, comentasse.
Um ponto que eu penso é que essa associação com os chineses pode também ser interessante do ponto de vista estratégico. Com o histórico de guerras por causa do petróleo, essa parceria, garantindo a médio prazo o fornecimento aos chineses, pode trazer uma proteção de nossos interesses. Principalmente depois que os EUA reativaram e deslocaram a quarta frota naval para o Atlântico sul. O que você acha?
Na pressa de escrever, saiu com uns erros. Desculpe-me por isso:
"EU ainda não tenho..."
"Assisti a uma audiência..."
É importante esclarecer esse envolvimento de Dirceu na história.
Venho acompanhando a discussão que mantém com outras áreas também nacionalistas, mas que não recomendam a realização do leilão de Libra. De minha parte, não tenho dúvidas quanto ao acerto do Governo em realizar o leilão no próximo dia vinte e um de outubro, bastando duas razões: os americanos ficarem fora de participar do certame, possibilitando os chineses que não são imperialistas e estão à procura, mais de garantir seu abastecimento de petróleo, que é perfeitamente válido, dispondo de recursos, diz-se até para financiar a Petrobras; não fazer o leilão impactarão os planos e programas do Governo, que conta com os prováveis recursos que logo advirão da produção de petróleo no campo de Libra, que proporcionarão milhares de empregos e proporcionarão recursos para importantes projetos da União. Claro que percebe que esses adversários do leilão de Libra, nacionalistas e de esquerda, que não está em discussão, e muitos da direita mesmo, estes abertamente contrários ao Governo, mas todos opositores interessados em criar obstáculos, porque não dá para acreditar que possam estar desinformados quanto aos problemas que serão criados principalmente para a Petrobras que dizem defender, que terá de abandonar ou retardar projetos para fazer um menor desenvolvimento de Libra, com forte endividamento junto a bancos americanos e europeus que levarão parte do petróleo trasvestido em juros, comprometendo seu patrimônio, assumindo todo o risco do negócio, que a alternativa evitaria, com a nada desprezível possibilidade de ainda ter parte dos recursos vindas das petroleiras sócias, além de suas participações no empreendimento.