Quando, na esteira dos protestos do ano passado, a presidenta Dilma Rousseff e Lula insistiram na adoção do financiamento público de campanhas, a direita e a mídia se voltaram contra o “absurdo” de que a disputa pelo voto popular fosse bancada com recursos públicos, a direita e seus jornais gritaram contra essa “imoralidade”.
“Proibir a contribuição de empresas para campanhas e partidos é o mesmo que investir quixotescamente contra moinhos de vento.”, ensinava O Globo.
Financiamento público, não!, bradava o Zero Hora.
E todos os outros iam por aí.
Os argumentos são, basicamente, três.
O primeiro é que isso implicaria gastar dinheiro público com propaganda de candidato. como se o dinheiro das grandes doações privadas, como todo mundo está cansado de saber, em algum momento tenham deixado de sair – ou sairão, no futuro – dos cofres públicos, através de licitações, contratos, isenções e uma infinidade de favores.
O segundo é o de que isso não evitaria o “caixa-dois”, como se algo no mundo evitasse o “caixa-dois”. Aliás, a única coisa que, embora não evitasse, o permitia rastrear, salvo se fosse em espécie, era a CPMF, que eles próprios lutaram para extinguir, em lugar de, como foi proposto, reforma-la, isentando as pequenas movimentações bancárias.
E o terceiro seria de que isso daria poder aos “caciques” partidários, como se este não fosse, já agora, total na maioria dos partidos. Aliás, exceto pelo PT, que tem um processo de eleição direta, não conheço outro em que haja ao menos um tentativa de democracia interna.
O outro lado da moeda – literalmente da moeda – é o que se assiste na vida pública brasileira.
O distinto amigo, a cara leitora e este rabugento blogueiro, nenhum de nós três, por mais bem intencionado e sonhador que seja tem condições de ser candidato sequer a vereador. Não é, hoje, algo para o bico de quem vive de defender idéias.
Todo mundo sabe que, exceto no caso de pessoas notórias nos meios de comunicação ou em áreas muito divulgadas, como o esporte, quem quiser ser candidato tem de estar preparado para gastar ou conseguir muito dinheiro.
Muito não é força de expressão, são milhões de reais.
Nada que 99,9% possa ter do seu.
E se não é do seu, o deputado passa, no fundo, a ser “deles”.
É como disse, outro dia, o jornalista Franklin Martins, no CartaMaior: ” aqui, o candidato se elege e acha que não deve nada a ninguém – a não ser a quem financiou a campanha dele.”
Claro que há exceções, mas são raríssimas. Assim como existem também os parlamentares que gostariam de se ver livres de um “passar o chapéu” frequentemente comprometedor. Mas inevitável.
Enquanto não tivermos a coragem de estabelecer que os gastos de campanha, salvo por doações de pessoas físicas e de valor limitado, sejam apenas os realizados dentro dos limites de cotas de um fundo partidário revigorado e que o voto seja, como deve ser na democracia representativa, dado a partidos e não a indivíduos, não nos livraremos disso.
O caso do Deputado André Vargas – que deve ter o direito de se defender e de se explicar está, todos sabemos, ganhando as páginas apenas porque ele é um pueril, numa espécie de vingança contra seu gesto parvo de erguer o punho diante de Joaquim Barbosa – é apenas um entre quase todos os deputados, sobre os quais, desejando a mídia, vai encontrar situações, no mínimo, pouco recomendáveis.
O deputado petista, querendo ou não, atentou contra milhares e milhares de seus companheiros, que aderem a uma causa, passando por isso muito mais dificuldades do que a de comprar, parcelada, uma passagem de avião.
E acabou se igualando, de maneira porca, aos que reúnem os barões do capital e lhes prometem servir e proteger, com o voto dos que votam com o estômago.
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"Era uma vez um lobby mau que resolveu jantar alguém..." Não consigo conter a ironia diante da (i) moralidade do congresso. Se o André Vargas pisou na bola, de qualquer maneira a crítica é seletiva e hipócrita.
Caraca, olha só, o Joaquinzinho vai se vingar do deputado que cerrou o punho contra ele....
http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2014/04/parte-da-investigacao-sobre-doleiro-e-enviada-ao-supremo-tribunal-federal.html
Muito bom, financiamento público exclusivo, não há outro modo de evitar a compra de parlamentares e executivos, pois, com "financiamento" privado o que se tem é o estímulo à corrupção. Quando a Presidente Dilma, estimulada pelas ruas propôs a Reforma Política com referendo popular, com constituinte exclusiva seria melhor, os hipócritas moralistas arrepiaram e pularam fora. É pena que posições como essa do Governo não repercutem. Tudo na prática política ficaria melhor, haveria transparência nas propostas e nas argumentações dos prós e contras. E aí, certamente, nenhum político ficaria milionário por exercer mandato parlamentar ou executivo e o voto do cidadão teria, de fato, peso na gestão pública.
To decepcionado!!!
O financiamento público de campanha, na teoria, dá chances iguais a todos os partidos numa eleição. É melhor para o Brasil, pois vi baratear a campanha eleitoral.
Tico tenta explicar ao Teco pq um pode andar de jatinho de doleiro e outro não pode!!!! E esse outro pode também fazer campanha ao senado desviando $ público ...
http://soldadonofront.blogspot.com.br/2014/04/doleiro-preso-recebeu-dinheiro-desviado.html
Agora sim, este deputado andre vargas estava no descaminho no mundo patricinho usando nosso mandato para fazer coisas erradas e sujar nosso governo , vamos coloca-lo aos costumes petista expulsa-lo
Como militante do direito e da democracia digo que devemos iniciar um movimento junto a sociedade civil e entidades como a OAB, a CNBB e o MCCE(Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral), as mesmas que propuseram a Ação de Inconstitucionalidade buscando banir a "doação de dinheiro" de empresas privadas para campanhas políticas junto ao Supremo, e partir agora para lançar mão de uma petição online no site avaaz.org solicitando que o Ministro Gilmar Mendes declare o seu voto na ADI 4650 a tempo de que este julgamento seja válido para as eleições de 2014. Os Ministros Luiz Fux, relator da ação no STF, e o Ministro Dias Tóffoli, considerado por alguns como um dos maiores especialistas em direito eleitoral do país, lembraram que os partidos políticos tem até o dia 10 de junho de 2014 para fixarem, livremente, os valores das verbas do fundo partidário para as eleições deste ano! Ou seja, não há qualquer impedimento legal para que seja não adotada essa sistemática ainda este ano. Se não pressionarmos o Gilmar Mendes ele NÃO VAI LIBERAR SEU VOTO, mesmo sendo minoritário e tendo perdido o debate no plenário do STF que já fez maioria pelo placar de 6 x 1! Entenderam? O Supremo precisa concluir esse julgamento até o final de maio! Se ele não concorda ele precisa dizer isso nos autos da ADI 4650, não somente nos microfones que a “mídia amiga” põe a sua disposição ou nas palestras país afora como a proferida no V Encontro Anual da Associação dos Advogados de São Paulo, que aconteceu nesta sexta-feira (4/4). Afinal, juiz deve falar nos autos, e não pelos cotovelos! Ok?
Acho que o deputado Vargas deve ser sim investigado e, se for o caso, punido exemplarmente, inclusive no âmbito do PT. Relações íntimas com doleiros é inadmissível pra um deputado, principalmente se for do PT.
Acho também que a par disso o PT exponha a viagem do Ministro Gilmar Mendes no jatinho do maior contraventor do Brasil, Carlinhos Cachoeira, demonstrando íntima relação entre ambos, situação igualmente inadmissível pra um ministro do STF.
A pauta da direita prevalece enquanto nâo houver uma emissora de esquerda, inclusiva e indepedente. Pela lógica de inquisição da Globo não vai sobrar nenhum deputado do PT. E quando os fatos forem esclarecidos já terá sido tarde. O PT não pauta, se deixa pautar.