O desafio para Dilma

O povo coloca um partido – ou uma força política – e um candidato no poder para que ele o exerça, não para que “ganhe” o direito de ocupar posições, ministérios e o direito de ser chamado de “Sua Excelência”.

O faz para que execute políticas, medidas e decisões que correspondam aos interesses da maioria que o elegeu.

É preciso que nós entendamos que é nisso em que o povo brasileiro votou: crescimento econômico, distribuição de renda, inclusão social, melhorias na infraestrutura do país e preservação e ampliação das liberdades públicas.

Ao governante, portanto, se exige capacidade de viabilizar, no debate e no exercício do poder político que possui, estes objetivos.

No mundo real, não que fica um andar abaixo – e em geral muito mais que um andar apenas – abaixo do mundo dos desejos.

Mas este não pode ser deixado de lado, porque além de nos perdermos, em lugar de elevar a ele a realidade, aceitamos a confusão e nos tornamos frágeis, como aquele que só olha para baixo ao fazer uma escalada.

O nome disso: conviver e move-se nas pedras da realidade sem deixar de mirar o cume, chama-se política.

O Governo Dilma, nesta segunda etapa, tem imensos e intrincados desafios.

O primeiro deles, está evidente, é escapar do cerco institucional que lhe fazem hoje todos os poderes reais: o parlamento, o poder econômico, o aparelho judicial – Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal – e, sobretudo, a mídia brasileira.

No médio prazo, isso só se fará com mobilização popular – a mais legítima das pressões – mas no curto prazo é preciso “quebrar” este bloco, que é, no mais das vezes,  interesseiro, mesquinho, corporativo e  – viu-se muito bem no episódio Veja – desprovido de considerações e limites éticos.

Conversar e ceder ao limite do tolerável e isolar aquilo que é o intolerável, o bandido, o criminoso, o chantagista.

A estes, como ficou evidente no mesmo caso Veja, isolar significa fazerem sentir o peso da lei,  sem tergiversar em ilusões de omeletes em rede nacional.

Mas, ao mesmo tempo, entender que quem  empurrar o governo Dilma para o radicalismo é a direita, não a esquerda.

Porque a direita é quem aposta no isolamento deste governo, na sua incapacidade de reunir forças que o permitam fazer aquela singela lista de desejos do povo brasileiro que elenquei acima.

Dilma e as forças vencedoras da eleição de domingo, embora tenham o dever político de chamar todos ao diálogo e governar para todos os brasileiros, seus eleitores ou de Aécio, têm também a obrigação de implementar as posições e políticas que saíram vitoriosas do pleito e isso não será feito sem partir a aliança que contra ela se formou e a distância política  – em que ela se viu prisioneira, durante bom tempo  –  daqueles que se beneficiaram de um surto de progresso e justiça como raramente se viu na história deste país.

A eleição acabou – embora a direita mais transtornada não se conforme com isso –  e teremos de ser maiores no governo do que fomos na campanha.

Se os derrotados não adotam uma civilizada postura de se vergarem à vontade popular, é preciso levar a opinião pública a perceber  sua insubmissão à democracia.

O que temos de impedir é que o preconceito e a irracionalidade conquistem tanta gente, como conquistaram.

A batalha por corações e mentes é a maior que enfrentaremos, mas também a mais promissora de todos.

Porque foi no coração valente de Dilma e na mente lúcida do povo brasileiro, que soube colocar sua vida real acima do tsunami de mídia com o que o tentaram afogar, que se conquistou a vitória eleitoral.

Como, há 50 anos, Getúlio sobreviveu, mesmo morto, ao “mar de lama” udenista com que se o matou.

Estamos no Governo, embora não estejamos inteiramente no poder, como previu Vargas àquela época.

Cabe-nos, na batalha política, enfrentar a  nova UDN e tomar-lhe a hegemonia em que em nenhum campo foi tão grande  como na comunicação.

E, nessa luta, criar as condições para a continuidade do processo de transformação da sociedade brasileira.

Que é mais lento do que desejamos, mas que é mais rápido do que, senão em nossos melhores sonhos, está acontecendo.

E porque está acontecendo de fato, vencemos as eleições contra a mais monstruosa aliança conservadora –  que reuniu políticos, mercados e mídia – já formada neste país.

Fernando Brito:

View Comments (25)

  • Dilma está cercada pelo parlamento, pelo judiciário, pela mídia, por tudo onde se olhe, mas esse segundo mandato será fascinante. Existe com ela a força poderosa do povo que a colocou nesse posto por duas vezes. Se ela souber rebater , especialmente a mídia, em algum momento tudo se abrirá, porque a voz dela tem o poder de milhões e milhões de brasileiros que deram o voto de confiança a ela. Dilma só precisa tomar consciência disso quando for fazer qualquer coisa.

    • Quando a Dilma irá processar a Veja? Quanto vai exigir de indenização?

      Vamos exigir que seja proibido publicidade do governo federal e das estatais na revista Veja.

      Se algo tão simples não for feito desistam do resto . . .

      • falou tudo. Se processar a Veja for inviável para o governo, serão mais quatro anos apanhando.

        • Calma, gente ! Deixem-na (Dilma) descansar um pouquinho. A refrega foi grande. Venceu contra tudo e contra todos, com o apoio popular, claro. Ela é a maior interessada no desenrolar desse novelo. Veja que até o "aliado" Sir Ney votou contra, o que não me surpreendeu. O filme da votação é ilegal ? Sim, porém real. Foi pro saco o infeliz.

          • Desculpe-me, Sônia, mas o maior interessado é o povo brasileiro, não a Dilma.
            Se nós, o povo brasileiro, virmos qualquer sinal de corpo mole por parte dela para ir pra cima da Veja (não estou falando da blindagem jurídica que virá, certamente), qualquer tentativa de contemporização, ela estará inapelavelmente só: terá que arranjar apoio em outro lugar pois não nos representará mais.
            É o que penso.
            Abraço.

      • Ronaldo, a unica coisa que eu quero da minha Presidenta, é o obvio quanto a revista veja,
        depois continuaremos revistando todas as salas do predio da Marginal.
        E não adianta dizer que foi contra a revista,mas eu preciso do meu emprego...
        Ela foi torturada pelo BRASIL, para ela não havia futuro..

  • Inicialmente, convocar uma Constituinte exclusiva para a reforma política, mobilizando para isso a população, esse Congresso não tem legitimidade para fazê-la, explicar que é necessário que se elejam representantes exclusivamente para a reforma porque os parlamentares atuais estariam legislando em seus próprios interesses, uma Constituinte faz a reforma política e se dissolve e elege-se novos representantes sob as novas regras!!!!

  • Penso que o voto para escolher o presidente tem, sem dúvida, o caráter da visão de mundo do eleitor, que vota por convicção em determinados valores, reconhecimento de competência do candidato, credibilidade. O voto no deputado e no senador são, em regra, motivados pela visibilidade do candidato em razão da sua exposição na mídia, e, eventualmente, uma vaga lembrança do que o candidato já fez que a lembrança recomenda. Parece que não há muita identificação entre o voto para o executivo e para o legislativo. Daí o problema que o próprio eleitor cria para o governo e para ele mesmo, problema que é agravado pela inexistência de uma Reforma Política que impeça a picaretagem. Esse Congresso que está aí é marcadamente de direita, o que vem a partir de janeiro é muito pior. Penso que sem povo na rua não sairá nada de verdadeiramente positivo ao país. É uma pena, quando se acha que saiu de uma guerra percebe-se que a vitória foi só de uma batalha.

    • Concordo e reitero que temos que ir para rua, pois os ditos parlamentares não parlamental, futrica.
      É povo na rua, é bandeiraço, é caminhada. Não faltarão caminhantes..."Caminante non hay camino, se hace el camino al andar"...Vamu pra cima companheiro.

  • Os mesmos que nunca propuseram um Reforma Política, agora, querem colocar um "cabresto" no povão! Plebiscito SIM! Não queremos uma "modernização conservadora". Aliás, se o Congresso Nacional quisesse, de fato, realizar uma Reforma Política já teria sido feita. Lembrem-se! A mídia nativa é parte interessada no fracasso da Reforma Política, já que não deseja o aumento da participação popular nos destinos da vida política brasileira. Não sejamos ingênuos! O Poder Econômico e a Grande Mídia desejam manter os cidadãos afastados do centro das decisões fundamentais dos destinos deste país. A luta pela Reforma Política com um Plebiscito Popular está apenas começando! Sexta-feira já teremos o primeiro ato popular no Rio de Janeiro exigindo a realização da Reforma Política! Vamos a luta e de volta as ruas! Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!

    • Reforma política via plebiscito ou Constituinte Exclusiva, sem financiamento empresarial e em dois turnos: no primeiro, votamos só na legenda, e, no segundo, nos candidatos do partido. Referendo, com esse Congresso, de jeito nenhum!

  • Fernando bom dia:
    A batalha da comunicação começa nas escolas, onde os professores (principalmente os de história, geografia, filosofia e sociologia) precisam pegar as matérias propositalmente incompletas e tendenciosas publicadas nos grandes veículos de imprensa e destrincha-las, inserindo as informações faltantes, estabelelecendo as comparações dos dados com outros países, fazendo comparativos históricos para mostrar como as velhas táticas se repetem.
    Com isso poderemos incutir na cabeça dos jovens pelo menos a dúvida e assim não serão meros papagaios do que sai na mídia reacionária.

    • Concordo plenamente, toda a criticidade que possuo se deve a duas professoras de história (uma do primeiro grau e a outra professora de um cursinho pré-vestibular que metia o pau na Veja e recomendava Caros Amigos e Carta Capital). Nossas Universidades e cursos de pós estão contaminados de professores alienados e alienantes que não dispertam o senso crítica e a dúvida na cabeça do aluno.

  • Não tem jeito...é povo na rua. Sindicatos, partidos apoiadores, todo mundo. Já o fizemos mais de uma vez na defesa da Petrobrás.
    Não faltarão motivos durante as investigações da Petrobrás.
    Mas vamos dar um pouco de corda para se enforcarem...Ou vocês acham que não vão acabar se engalfinhando ? A briga pelo butim é de verdade...Sempre estiveram acostumados a sugar na veia do Estado...Aí vem uma mulher que começa a sanear..Daí vem a origem do ódio ao PT, afora as suas próprias besteiras.

    É povo na rua minha gente.

  • Não tenho a menor dúvida quanto à disposição da Dilma de transformar este país fazendo a reforma política e a da mídia, continuando as várias políticas sociais que já estão em curso. O problema da Dilma está em casa, no PT. Lula já se coloca em campo trazendo água fria para abater a fervura no seu pior estilo, aquele que ele mais domina, que é o da conversa, da conciliação (entre os inconciliáveis): aquilo que ele chama de governabilidade, fonte de desgraça da política nacional. E o PT já está propondo até ministros para a Dilma, como o Meireles para a economia (argh!). O PT lança prematuramente Lula a candidato em 2018, num desrespeito e desconsideração acintosa a um segundo mandato da Dilma que nem começou. Com Lula e o PT as coisas não vão mudar. A única saída são as ruas. Que Dilma ganhe as ruas, a militância renascida e revigorada.

  • O povo brasileiro escolheu o projeto de desenvolvimento com inclusão social e redução da desigualdade e da injustiça. Ninguém quer prejudicar os aplicadores da bolsa de valores e mercado financeiro, mas eles têm que entender que fazem parte do 1% que detêm a maior parcela da riqueza do País e sempre foram privilegiados. O provo brasileiro não aceita mais privilégios e quer deveres e diretos iguais para todos. A mídia reacionária, vil e golpista juntamente com os partidários do PSDB e parte do PMDB, com suas tramas, fraudes e boatos, como as doleiro preso, continuarão agora com as tentativas de inviabilizar o governo. Mas os brasileiros saberão dar a resposta a esses trapaceiros.
    O povo unido jamais será vencido. A luta continua!

  • Dilma tem que fulminar qualquer tentativa golpista no congresso , no qual o PMDB esta se articulando é o partido mais canalha do BRASIL , o PSDB o povão já conhece bem e é fácil anular , já o PMDB se faz de amigo e te enfia a faca nas costas.

  • Dilma, tire logo esse ministro zé da justiça, que deixou os "exércitos inimigos" invadirem seu Palacio. Ponha pulso firme na PF, senão os escândalos serão novamente varridos para baixo do tapete.

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