A patética entrevista de Rodrigo Maia ao “Valor” republicada em O Globo), com queixas fora de hora ao prefeito de Salvador, ACM Neto – cuja proximidade com Bolsonaro não era segredo para ninguém – resume o drama que ele – e outras figuras notórias da direita “não-bolsonarista” enfrentam. O presidente cercou-os de tal forma que ficaram numa situação em que não tem força para prevalecer sobre ele entre os votos conservadores, mas também não têm condições de encontar uma aliança à centro esquerda que lhes possibilite enfrentá-lo, ainda que num segundo turno.
Pagam o preço de terem, além de patrocinar o golpismo desde a derrota de Aécio Neves. aceitado a aliança tácita com jair Bolsonaro em 2018, mesmo sabendo – ou devendo saber – que lidavam com um “lobo solitário”, nada afeito à democracia e, por isso, também não aos acordos e alianças leais.
A lógica de Jair Bolsonaro não é a da composição de interesses, é o aprofundamento dos conflitos, maré propícia ao seu exercício de demagogia e brutalidade, o homem comum, honesto e medíocre, lutando contra os corruptos e esquerdizantes.
A fieira dos “um dia acreditei que ficar com Bolsonaro seria bom para mim”, capitaneada agora por Maia, de incluir o ex-ministro Luiz Mandetta, da Saúde, mas não deverá ser grande e dificilmente terá outro caminho que não o PSDB -embora contra este pese o fato de que Doria é outro “dono” e, mesmo com a vacina, não tem grandes vantagens eleitorais fora de São Paulo (e olhe lá) – ou o insípido Cidadania, com apenas sete deputados na bancada.
No PSL, onde o poder de Bolsonaro ainda prevalece, tanto que o partido abandonou o bloco de Baleia Rossi pouco antes das eleições, é improvável, a não ser que se consume a expulsão dos parlamentares bolsonaristas e, ainda assim, com o ônus do recall da sigla ao ex-capitão.
Todos, então, terão se se apertar no barquinho de Doria, inclusive Sergio Moro, se não se desgraçar ainda mais com a anulação dos processos de Lula.
Paradoxal que pareça, a direita não bolsonarista depende da esquerda para sobreviver nas disputa de 2022 onde alguém terá de assumir o outro polo diante da ameaça Bolsonaro e, como está evidente, ela não tem força para fazer, nem mesmo na São Paulo de Doria.
Se não se reabilitar Lula como o comandante deste confronto, seja ele ou não o candidato, será impiedosamente esmagada pelo extremismo do ex-capitão. Se o fizer, talvez tenha uma chance de compromisso de pacto político.
Não é apoio, não é coligação, não é aliança. É apenas devolver ao jogo político uma força imensa, a qual não pode ser cooptada pelo autal presidente.
De outro jeito, não há pacto, não há convívio. Há apenas o processo de degola do qual o de Rodrigo Maia é o pescoço mais recente.