O dólar ainda é o senhor do mundo

A disparada do dólar nada tem a ver com alguma situação específica da economia brasileira, mas com o quadro em que os sinais de recuperação da economia americana fazem que o capital procure – como sempre fez desde a 2a. Guerra Mundial, quando o dólar substituiu o ouro como padrão monetário mundial – refúgio na moeda americana.

O gráfico ao lado, que mostra o desempenho da rúpia – moeda da emergente Índia, em posição assemelhada à nossa na economia mundial – certamente é muito parecido com o quadro que se faria com o real. Idem ocorreria se o rand sul africano os substituísse no gráfico. Seria diferente com o rublo russo, porque este já tinha experimentado forte desvalorização em 2012 e com o yuan chinês, porque este é fortemente controlado pelo governo nacional, apenas.

Não haverá, por conta da moeda americana, disparada interna de preços e nem mesmo os especuladores do mercado financeiro creem que as cotações vão permanecer onde estão.

Mas o movimento de alta vai seguir forçando por mais alguns dias, enquanto não há definições mais precisas quanto à política do Federal Reserve americano e ao processo sucessório (veja o post anterior) na grande torneira dos vasos comunicantes do capital mundial.

E, como nossa capacidade de controle disso é muito pequena, ficamos limitados às intervenções do Banco Central no mercado, queimando parte das – felizmente enormes – reservas cambiais para tornar menos traumático o chacoalhar da moeda, ainda mais quando ela se encontrava aqui, como estava, supervalorizada, ao ponto de comprometer nossas receitas de exportação.

A Índia ameaça impor mais controles cambiais do que já fez, limitando as remessas de pessoas físicas para o exterior. Aliás, ela nunca abandonou – como nós, quase que totalmente fizemos – o controle sobre o fluxo de moeda, seja nos períodos de governos de centro-esquerda, seja nos de direita.

A onda liberal dos anos 80/90 arruinou, nos países com liderança frágil, a capacidade das moedas nacionais de serem diques para as marés do capital internacional.

É certo que sem diques os capitais entram mais facilmente, irrigando as economias.

Mas, na hora do refluxo, não lhes sobra jeito de evitar que a volta do dólar tenha um efeito de arraste que desestabiliza tudo o que se construiu.

Fernando Brito:

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