O “Doutor Confere”

Nutro a maior antipatia política pelo Sr. Sérgio Cabral, e até me orgulho de jamais ter dado um voto.

Muito antes da revelação de seu esquema de propinas já o sabia – e todos o sabiam – corrupto contumaz e a sua mansão na Costa Verde do Rio de Janeiro era, há 20 anos, a prova concreta de seus desvios de conduta.

Mas ele é um ser humano e a seres humanos todos estamos obrigados a tratar como tais.

E não há dúvidas que, pela execração pública que Cabral atraiu, há muita gente que se aproveita da antipatia popular pelo ex-queridinho da Globo para tratá-lo como não se deve tratar nem a um animal.

Estão recentes na memória as algemas nos pés e nas mãos para conduzi-lo, mesmo sob a escolta armada de quatro ou cinco agentes armados de fuzil e pistolas, com o objetivo evidente de produzir a imagem da humilhação.

Agora, tem-se este episódio sádico de sua colocação na “solitária” porque recusou-se a ficar, como diz o próprio autor da ordem, o promotor André Guilherme Freitas,  na ‘posição de confere’, isto é, de revista, encostado na parede e de cabeça baixa.

Desobedecido, determinou verbalmente que Cabral fosse colocado na “solitária”.

O Ministério Público não é agente penitenciário para dar “ordem unida” a presidiários, muito menos para mandar colocar “na tranca” um prisioneiro.

Sua função é fiscalizar abusos ou regalias e só deve se dirigir ao preso para fazer indagações que se prestem a esclarecer irregularidades no seu tratamento.

Convencido delas, para um lado ou outro, deve se dirigir ao juiz para que se os apure ou corrija.

O tal Dr. André foi a tal ponto atrabiliário que o próprio juiz de Execução Penal – que é a autoridade no caso de presos – disse que sua atitude foi “manifestamente ilegal”.

É o que dá ter se deixado o Ministério Público ter se “ameganhado”.

Agem, agora, como qualquer PM: “encosta aí e abre as pernas”.  Talvez, para ficar mais polido e  “republicano”, “encosta aí e abre as pernas, cidadão”

Se o Dr. André quer ser agente penitenciário, que deixe o Ministério Público e abrace uma nova profissão.

Infelizmente, não se pode garantir que, como carcereiro,  haja um promotor de Justiça a frear-lhe os instintos autoritários.

Porque, além dele, estamos cheios de outros “Dr. Confere” que, quem sabe, qualquer dia estejam metidos em alguma blitz, prontos a dar um “esculacho”…

Fernando Brito:

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  • Cada abuso cometido e ignorado abre caminho para outro maior. E o país como um todo paga o preço por esse judiciário ensandecido e descontrolado. A dignidade humana há muito foi esquecida nesse ambiente, mas agora eles se orgulham em exibir esse espetáculo, lembrando que se no caso de Cabral trata-se de alguém outrora notório podemos imaginar bem o que nao se passa com os milhares de anônimos cujo sistema prisional brasileiro destrói ao invés de recuperar. É muita tristeza.

  • MP já há algum tempo quer ser muito mais que um 4o poder. Avoca os 3 poderes para si, investigando, acusando (essa sim a função dele), julgando e executando.

  • Tem sido muito estranho o tratamento espetaculoso dado a Cabral num país de Abdelmassihs, Cunhas e Neves.

    Há caroço nesse angu e não entendi qual é a jogada de xadrez nessa execração.

    • A ação espetaculosa em cima de Cabral só tem uma função, culpa-lo publicamente pela falencia do Rio e desviar a atenção do verdadeiro motivo do caos no estado: a destruição da cadeia do petróleo.

  • Registre-se que todo o MINISTÉRIO PUBLICO,se reveste pelas funções,pouca coisa mais que MEGANHAS.Estão em concorrência,com os MEGANHAS HISTÓRICOS,as POLÍCIAS.Não passam disso.

  • A arrogância que se apoderou dos ungidos "concursados" do MP é tamanha, que consegue transformar o capo Cabral, faço questão de registrar, o ex queridinho da Globo, em vítima.

    A tempos essa turma de falsos vestais vem dando "um confere" no Estado Democrático de Direito, enquanto os órgãos de fiscalização do MP, dormem no corporativo berço esplêndido.

  • Estsmos sob um regime, ou um sistrma, ou o escambau, onde um juiz de primeira instância gravou ilegalmente ligação telefônica presidencial e vazou criminosamente o áudio; que fez condução coercitiva ilegal de um ex-presidente; que condenou um ex-presidente sem culpa provada e por ai vai, recebendo, em troca, título de herói nacional, tapinha nas costas ou, na pior das hipóteses, um "não faça mais isso", continuou e continua fazendo e tudo dá em nada.
    Diante de tantos e tais abusos e absurdos, nada mais óbvio do que servir de estímulo e exemplo para outros agentes públicos dispostos a exibir suas vaidades, prepotências e carências pela via de transgressões.
    Então, qual a surpresa se o País se afunda mais e mais, a cada dia, no esgoto das arbitrariedades?

  • O MPF tornou-se uma aberração, como bem previu seu próprio idealizador, Sepúlveda Pertence.
    Tem que ser extinto pelo Poder Constituinte, o povo brasileiro. Esta é a única solução para evitar a arbitrariedade de um poder sem freio nem contrapeso. Uma jabuticaba venenosa.

  • A ação espetaculosa em cima de Cabral só tem uma função, culpa-lo publicamente pela falencia do Rio e desviar a atenção do verdadeiro motivo do caos no estado: a destruição da cadeia do petróleo.

  • esse mpf se tornou um antro de fascistas e o pior é que é explicito que a justiça é para todos, porra nenhuma!!!!

  • Esse arbítrio que vemos com Lula, Cabral, e outros é amplamente praticado no país todo, não é algo novo, as vezes lemos na "blogosfera progressista" textos que tratam o Brasil como se fosse o paraíso da Justiça equânime e das sentenças justas, e somente agora após golpe que o arbítrio está acontecendo, semelhante ao que aconteceu com as torturas, praticadas desde 1.500, só virou tema da esquerda depois que os filhinhos de papai da esquerda passaram a sofrer o mesmo que negros, pobre e camponeses sempre sofreram. É o caso de Cabral, é o caso de Lula.

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