O mais impressionante na entrevista concedida ontem pelo ex-presidente Lula não foi o que ele disse.
Foi como o que disse doeu na grande imprensa.
E dor maior ainda porque, embora continuasse a poder selecionar o que lhe interessava, a mídia tinha um freio: o fato de toda a entrevista ter sido transmitida ao vivo pela internet.
E que Lula tivesse podido falar o quanto quisesse, livre, sem a preocupação de fazer frases curtas, de olho na edição.
Claro que quando se pensa em falar na televisão ou no rádio, é preciso ter essa preocupação.
Mas este momento é o de falar com os agentes políticos, com os militantes, com aqueles que são os multiplicadores de ideias políticas.
Que são exigentes e que, mais do que entender, precisam sentir o que se passou, o que se passa e confiar nos seus líderes.
Não há um que ouça Lula falar e encontre dúvidas, reservas, subterfúgios.
Claro que é prudente, mas não fechou a boca sequer sobre os assuntos mais espinhosos: André Vargas, Joaquim Barbosa, mensalão…
Eu cortei o trecho (de quase meia hora) da resposta à provocação que lhe fiz, tanto sobre economia quando sobre Petrobras. Está na seção videos, do lado direito da página.
Na crise de 2008/2009 e na CPI da Petrobras daquele ano, Lula não repetiu o erro de 2005, quando sua eleição chegou a ser ameaçada pela falta de combate político à ofensiva contra a economia e contra a principal empresa do governo brasileiro.
Em ambas a situação, Lula foi o “caixeiro-viajante”, o animador das políticas que seu Governo desenvolvia.
Quando um governante age assim, ele próprio se torna a “comunicação” de seu Governo.
Ele, que se investiu de legitimidade pelo voto dos cidadãos, levanta este valor contra a onda de interesses particulares que se travestem de públicos.
E essa legitimidade é uma imensa força, se for usada com sabedoria e coragem.
O recado de Lula foi claro.
Se formos esperar justiça, equilíbrio, neutralidade da mídia, passivamente, esperaremos até morrer.
Embora, neste caso, não se vá esperar muito, pois morreremos – no sentido político – bem rápido.
Quando há uma forma imensa e poderosa como a do poder econômico e a de sua mídia soprando avassaladoramente sobre um país e o livre processo de formação de consciência de seu povo, é preciso contrapor a ela uma outra força, ainda mais irresistível: a da verdade, sincera, desabrida quase, exposta diretamente aos olhos e ouvidos da população.
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MacLuhan tinha razão: o meio é a mensagem. No caso, o Lula em si já é a própria mensagem.
Presidenta Dilma, Lula deu o caminho a ser seguido. Veja o PIG de hoje.
Usar a internet. Falar, e falar, sem cortes, sem medo de edições. Responder sabendo que não será editado ou manipulada a resposta. O conteúdo estará todo à disposição. Dê uma entrevista pro Movimento dos Sem mídia, na sede do Barão de Itararé. Fale de marco civil da internet, de Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos, PRONATEC, Petrobras, de infra-estrutura, economia, de erros e acertos.
Experimenta. Use essa ferramente, fale para a blogosfera.
O PIG vai se doer.
Assisti, de ponta a ponta, à entrevista, e posso asseverar o seguinte: se o ex-presidente Lula entrar na campanha com esta disposição demonstrada na entrevista, Dilma terá junto a si um cabo eleitoral como nenhum outro! Seus argumentos estão afiados, sua memória continua prodigiosa, seu poder de convencimento está tinindo e, o principal, como fez questão de repetir algumas vezes, ele tem um lado muito bem definido. E todos sabemos qual é!
Muito importante a entrevista. Assisti toda, mas o povo mesmo não assistiu, apenas a parcela mais ligada à política. Seria mais importante o governo usar uns cinco minutos em horário nobre para responder de forma didática os ataques que sofre diariamente. Como no caso da Petrobras. O grosso da população não tem a dimensão do que é a empresa e só tem notícias dos escândalos. Um bem feito vídeo sobre a empresa, divulgado no horário nobre teria um efeito muito positivo.
Avante à proibição de financiamento privado.............................................da MIDIA!!!! ahahahahahahah
Por que o governo não usa a " cadeia nacional ", como o próprio Lula falou, para se comunicar com o povo e desmentir o PIG e seus penduricalhos? Esta é a pergunta! Só 10 minutos de esclarecimentos e desmentidos. Queria ver esta força toda do PIG, kkkkkkkk! Mas parece que estão esperando a casa cair para pensarem nisto.
Vou ficar cafona, não tem jeito. Ouvir o Lula, sentir sua paixão pelo país me agiganta. Transbordo de Brasil. Minha paixão só não é maior porque não conheço o Brasil todo. Viva o Lula, Dilma 2014!
Maria Rita, faço suas palavras as minhas! "Ouvir o Lula, sentir sua paixão pelo pais, me agiganta..." Parabéns! Lindas e verdadeiras! E a você, Fernando Rodrigues, não somente esse texto sobre a entrevista com o Lula, mas como todos os que aqui escreve, merecem o meu aplauso. Você e demais blogueiros presentes a entrevista histórica, muito nos honram. Sinto-me representada e muito bem representada por vocês: jornalistas inteligentes e que, assim como o Lula, amam esse nosso querido Brasil!
Por favor, conserte o "Rodrigues" para BRITO, há tanta diferença no compromisso com o País...
Parabéns ao Fernando. Sua pergunta foi perfeita. Também me senti representado.
Maria Regina, é Fernando Brito, Fernando Rodrigues é aquele outro da Folha.
Falando dos dois ex-presidentes nos post do Tijolaço, Lula engoliu FHC, com farofa, azeitona e uma boa dose de inteligência.
Marino, obrigada pela correção. Falha imperdoável! Fernando Brito, claro, o nosso jornalista aqui do Tijolaço.
Lula quando estava no poder também deu verbas para o PIG e não levou adiante a regulamentação da mídia.