O espetáculo global é “barriga” ou denúncia?

Cumprindo sua missão de espetacularizar o que deveria ser coisa séria, O Globo hoje dá manchete a um monte de bobagens envolvendo o uso de forças especiais do Exército Brasileiro, que imaginam como “Seals”, os “comandos” do exército americano.

E se não é bobagem, antes fosse, porque do contrário seria colocar o Exército Brasileiro em missões secretas de extermínio.

Admitamos, porém, que estas forças “secretas” estejam sendo empregadas, como diz o jornal, com todo o aparato bélico que lhe atribui, para missões de reconhecimento e definição de alvos e das abordagens que eles terão.

Os “rambos”, diz o jornal, subiriam à noite os morros portando mochilas com até 35 kg de armamentos, granadas, munições e explosivos diversos. Mais o fuzil, o capacete e o colete à prova de balas (nos níveis 3 ou 4, para resistirem a munição pesada), tem-se que o desafortunado Stallone andará morro acima, em trilhas e vielas, carregando 50 quilos.  Um saco de cimento, portanto.

Que deslocamento, que agilidade, que capacidade de reação veloz ao perigo!

Pelo amor de deus, será que não têm respeito pela inteligência dos leitores ou dos planejadores de ação?

E metralhadora .50? Calibre para perfurar blindados, embora não se tenha notícias de blindados entre o inimigo.

Nem mesmo nova a apelação é.

Em 2007 o mesmo O Globo dava manchete e fotos para o inspetor Leonardo da Silva Torres, o “Trovão”, que fumava charutos e gabava-se de ter morto 19 em um só dia. Ele aparecia, em outros jornais, , numa viela juncada de corpos, trajando uma indumentária cenográfica igual, inclusive os mesmos alegados 35 kg na mochila, como você vê na imagem ao lado.

Quatro anos depois, “Trovão”estava preso por negociar fuzis e receber propina do tráfico, em troca de serviços e informações.

“Trovão” estava apenas repetindo, em atos, o que ouvia dele dizerem: era um herói de guerra, diante do território hostil e do inimigo morto. Tinha direito ao butim, como reflete hoje Nilo Batista em seu artigo no JB.

Supondo, como se espera, que o Exército não esteja enviando missões noturnas de extermínio e que a “barriga” de O Globo seja apenas devaneio de jornalistas embasbacados, loucos para serem “correspondentes de guerra” à distância de um táxi de suas vidinhas normais e das baladas de final de semana. a manchete deveria ser um alerta aos chefes militares responsáveis pela ação militar no Rio de Janeiro.

Se não desmentida e condenada, é um apelo à “rambização” das tropas e à ambição de qualquer tenente em ser “Trovão”.

 

Fernando Brito:

View Comments (28)

  • O exército brasileiro está em guerra. A guerra é contra seu próprio povo...

  • Um precioso treinamento para as tropas de elite do Exército? Tendo como inimigo real os criminosos que se confundem com o povo pobre do Brasil? O Exército deveria se ater a reformar a polícia e descontaminá-la do tráfico, para que esta pudesse fazer seu trabalho. Se os criminosos tivessem um dedo mínimo rígido como os invasores alienígenas da famosa série de TV, então seria mais fácil identificá-los, bastava mandar levantar a mão e em seguida fechá-la. Cabe pensar que esta crença na capacidade de identificação de criminosos entre pobres parece um resquício do tempo em que se podia identificar "cientificamente" os criminosos através de métodos lombrosianos. Traficantes são inteligentes, inventivos e audazes, eles podem muito bem estar infiltrados entre os ricos e remediados.
    Mas só os pobres podem ser tocados como gado para fazerem triagem onde não há seguramente nenhum deles... Tudo isto é uma insanidade. Parece que o real objetivo é deixar o povo pobre com ainda mais medo, muito mais medo de viver, já que o Estado não está a seu lado, mas à sua frente, apontando-lhe um fuzil. Aos que trabalharam tanto e dedicaram suas vidas no sentido de integrarem as favelas com as cidades, resta ver que as cidades agora resolvem sitiar suas favelas e declarar-lhes guerra, como se criminosos não existissem nas cidades, só nas favelas. Parece que as forças repressoras estão se adiantando e treinando para impedir qualquer futuro levante popular, enquanto a vida no país faz seu ajuste neoliberal, matando quem não consegue mais ter como viver. E a classe média as aplaude, enquanto sua própria vida torna-se difícil ao extremo, e enquanto o processo de dissolução da segurança jurídica ainda não a atingiu.

  • Um rambo desses é facilmente imobilizado por um par de boleadeiras, uma atirada nas pernas e outra na região do tórax.
    Um boleadeira para os que não conhecem é facilmente feita com 3 pedaços de corda amarradas juntas numa das extremidades e um peso na extremidade livre (pode ser mesmo uma pedra com um trapo ou uma meia).
    Boleadeira é uma instrumento secular e rudimentar que os gaúchos usam para imobilizar bois fujões.
    O crime se combate com inteligência e presença do estado fornecendo serviços básicos a que a população tem direito (e necessita).
    Mas não é o combate ao crime o objetivo dessa gente, menos ainda ao tráfico de drogas. Se fosse o caso, teriam que ir atrás dos grandes traficantes onde eles estão, entre os que detem o poder econômico e político e mesmo nas forças de segurança.

  • Boleadeira é feita com couro trançado. São duas pedras móveis e uma fixa, envoltas, também, com couro trançado. Eram usadas pelos índios charruas para caçar.

    • Luis Carlos, a boleadeira improvisada que descrevi acima é aquela facilmente à mão de qualquer um, até nos morros do Rio. E a bandidagem não ficaria trançando couro e deixando evidências antes de usá-las.
      Não é obviamente a boleadeira tradicional dos gaúchos que voce descreveu, mas funcionam pois quando eu era guri a gente brincava com isto.

    • Mas que FRESCURA é esta ??? O Rio perto de se tornar um banho de sangue nas miseráveis e desassistidas favelas e os "INTELECTUAIS" da web discutindo as "bolas" pra derrubar toro...Peguem os bagos de vocês, façam um laço neles, pendurem numa árvore e se enforquem como um "bagual"...Por este POVO este Pobre País Rico NÃO SAI MAIS DA MERDA QUE ENTROU...LAMENTÁVEL !!!

      • Voce não entendeu nada, por isso roda a baiana.
        É exatamente isto, os rambos da vida só servem para um banho de sangue de inocentes.
        Porque para enfrentar a bandidagem rambos não servem, como desmoralizado pelo texto doFernando Brito e ridicularizado pelo exemplo das boleadeiras.
        Vou repetir o que escrevi acima: O crime se combate com inteligência e presença do estado fornecendo serviços básicos a que a população tem direito (e necessita).

        • Posso rodar as boleadeiras, não a baiana...Entendi teu texto sim, que eu não sou gaúcho retardado !!! Sou de Uruguaiana, mas NÃO OBEDEÇO A RB$onega Zelotes Hora !!! Concordei com teu texto que é coerente...É com o Estado Presente que se melhora as condições de vidas dos menos favorecidos (no caso, favelados). Contestei os outros idiotas de curto alcance discutindo a merda das boleadeiras e ainda postando música como exemplo... Quando tu só usaste uma analogia...Com uma funda e uma boa pontaria, um guri escondido em uma laje também abate um "Rambo", com uma pedrada no olho...

  • O inspiradíssimo cantor e compositor gaúcho MAURO MORAES foi muito feliz (como de costume) ao retratar a boleadeira na música

    A PEDRA DA BOLEADEIRA

    Era pedra, e seguiu pedra
    Era mato e virou lenha
    Era tropa e se foi embora
    Num grito de venha, venha

    A pedra da boleadeira era do campo e da terra
    Ganhou as asas do céu pra ser palavra de guerra
    Quando era pedra redonda, moradora deste chão
    De certo já derrubava por conta de um tropicão

    Depois foi feita redonda, eterna em ciclos de lua
    Paciência por precisão nas mãos de um índio charrua
    Eram só pedras de campo, cansadas de andar à toa
    Até que um dia alguém disse: Ah! Será que pedra não voa?

    Ganhou parceiras pra guerra e tentos pra irem ao céu
    Uma firme e duas soltas, rodando sobre o chapéu
    Voava de rumo e vento fazendo um zum pelo rastro
    Quando pegava era um tombo, quando cruzava era pasto

    Pra bolear potros velhacos bem antes dos alambrados
    A pedra da boleadeira tem ressábios do passado
    Hoje em dia nem se enxerga três marias pelos céus
    Se foi o tempo dos tombos, das potreadas e buléos

    Mas sei que ainda há destino na pedra da boleadeira
    Que quando tem rumo certo é muito mais que certeira
    Mas sei que ainda há destino, na pedra da boleadeira
    Que quando tem rumo certo é muito mais que certeira

  • A mídia nazifascigolpista fazendo serviço de marketing pare empresas que fornecem equipamento militar.

  • Alguém tem que avisar a Globo que Rambos, Cobras e Volverines só existem nos filmes de ficção e aventura.

  • Enquanto não explodir as organizações criminosas globa, não adianta nada, nadinha.

  • A GRoubo investe no imaginário idiotizado da classe mérdia. ..agora sim , vcs estão seguros !
    A pergunta que não quer calar : De onde virá a cocaína que abastece o Leblon ?
    Ou seria o caso de que os " Rambos " vão ajudar a classe mérdia a cheirar em paz ?

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