O ministério pode ser novo, mas o estilo do governo continua o mesmo.
Comunicação zero.
Os novos nomes estão sendo vazados para a mídia à seco, sem que o governo dê uma palavrinha sobre os planos subjacentes às respectivas pastas.
Fazenda?
Joaquim Levy. Ponto final.
Não aparece um porta-voz (até porque não existe), nem secretário de imprensa (que também não existe), para dizer aos brasileiros que, independente do nome, o ministro vai seguir as diretrizes A ou B.
Agricultura?
Katia Abreu. Ponto final.
A informação vem seca e dura para engolirmos, sem que o governo tenha gentileza de vir à público explicar que a sua política de apoio à agricultura familiar vai continuar firme, ou mesmo se expandir, e que há planos para aprofundar a reforma agrária.
O anúncio de Katia Abreu na Agricultura tinha de vir acompanhado do nome do ministro para o Desenvolvimento Agrário, que é a pasta ocupada pelo representante da agricultura familiar, dos sem terra, e, geralmente, o maior defensor da reforma agrária dentro do governo.
Com isso, as acusações (justas) de conservadorismo, exacerbadas quando se lembram as posições tolamente antibolivarianas de Katia Abreu, seriam compensadas com elogios à ousadia nas áreas mais fundamentais para a esquerda que pensa a agricultura: o meio ambiente, as condições dos trabalhadores rurais e a questão fundiária.
O blog Diario do Centro do Mundo republicou, há pouco, trechos de um artigo de Katia Abreu para a Folha, sobre o bolivarianismo.
É um amontoado de exageros, e busca fazer festinha com o eleitorado de direita.
Mais uma razão para o governo entrar em ação, com um porta-voz explicando que o pensamento de Katia Abreu não reflete o pensamento do governo. E externar, então, o que o governo pensa sobre o tema.
Transparência, transparência, transparência.
Somente a transparência nos salvará.
Até nos EUA, pátria do direitismo, os dois principais partidos adotam extrema cautela para não ferir as suscetibilidades do eleitorado de esquerda, que é muito grande na terra do tio Sam.
Na última edição da New Yorker, um articulista lista os possíveis pré-candidatos dos Democratas que podem fazer frente à Hillary Clinton, considerada centrista demais, nas eleições presidenciais de 2018.
Outros nomes democratas ensaiam discursos mais progressistas, para seduzir um eleitorado desencantado com Obama.
O próprio Obama, ao lançar a medida que ajudará 5 milhões de ilegais, acena para a esquerda e sua imensa base social, com a qual deverá contar para enfrentar um congresso agora dominado por republicanos conservadores.
Ao mesmo tempo, o governo brasileiro poderia fazer política, ou seja, explicar a seus correligionários que o agronegócio não pode ser demonizado, e que o governo precisa de um nome forte do PMDB para aumentar a influência sobre a escolha do novo presidente da Câmara, e aprovar reformas democráticas.
Nas entrelinhas, ficaria subentendido que o governo já começou a lutar para derrubar Eduardo Cunha de uma possível presidência da Câmara.
Enfim, política se faz com ideias, com persuasão, com informação, e, sobretudo, com comunicação direta e constante entre o representante e o público.
É disso que Fabiano Santos falava, em entrevista à TV Brasil, quando dizia que “política transforma”.
O governo precisa entender que a escolha de ministros transmite uma mensagem à sociedade, inclusive na maneira como a informação é vazada.
Por isso mesmo, o processo de escolha dos novos ministros, que inclui as inevitáveis fofocas, tinha de vir acompanhado de entrevistas, depoimentos e esclarecimentos constantes por parte do governo.
Custa tanto assim contratar gente da área de comunicação e política?
Com todo o respeito aos ascensoristas e garçons, o Planalto não poderia mandar embora alguns servidores e ampliar a sua área de comunicação e política?
Não se trata de algo exatamente para beneficiar o governo, mas um gesto de respeito para com a população.
Recebi, há pouco, um longo email do presidente dos EUA, Obama, explicando a sua nova medida em apoio aos imigrantes ilegais.
Comunicação direta entre o presidente da república e o povo.
Dilma não pode fazer o mesmo?
Não pode mandar um email para todos os brasileiros, que se cadastrarem em algum site, explicando porque escolheu este ou aquele ministro, debelando assim as inevitáveis crises que surgirão, vide que será impossível agradar a todos?
Seria “bolivarianismo”?
Será que passaremos mais quatro anos abominando a comunicação do governo, que não existe?
É claro que, sem fazer nada, relegada à inércia total, a comunicação governamental só tende a se deteriorar, porque só se aprende fazendo.
Fazendo, errando, fazendo, acertando.
Comunicação é uma necessidade para uma governo democrático, e trata-se, repito, de um gesto de respeito para com o povo brasileiro, que não merece ouvir falar do governo apenas através da nossa mídia, cujos defeitos conhecemos muito bem.
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A essência é covarde ou eles se locupletam mais do que imaginamos. Gostaria muito que os blogs sujos se dedicassem, com afinco, nas críticas a este governo que, via de regra, nos desconsidera após as eleições...
Esses blogs a qual eu gosto, defendo e leio com muita frequência, dificilmente terão a capacidade de criticar tão firmemente o governo, são governistas demais.. Eu diria pra você o seguinte: Senso crítico.
odeio senso critico seletivo, so antiPT
Ricardo, meu velho,
quanto féu!
Na verdade é assim: Elegemos a Dilma , mas a oposição montará o sistema, entende ?
Levy mão de tesoura na Fazenda significa - arrocho ! Mas sinceramente, não considero a Katia Abreu um nome ruim para a Agricultura, podem ter certeza, será melhor que muita gente dita de esquerda.
O silêncio, este silêncio do Governo é que mata !
Outra questão é esses 42% para juros e amortizações, sem uma auditoria ampla dessa dívida vamos pro limbo. Aqui nos trópicos também P.O.D.E.M.O.S !
Iskra, calma voce nao gosta do Levy, mas considera Katia de Abreu, entao Iskra fica dificil satisfazer todo mundo, eu penso de maneira diferente ,o outro de outo jeito por isso elegemos a Dilma que tem bom senso, os ministros nao sao defitivos, mas uma vez calma e confianca nao basta o negativismo da oposicao, vamos nos portar a favor do Brasil nao facamos o jogo do inimigo, aguarde faz parte nao declinar os nomes antes, tudo tem seu tempo, como eu disse, nao da para agradar a todos e uma questao de estrategia nao falar antes, por causa da oposicao , Ninguem mais do que Dilma quer acerta, a nos cabe UNIAO E CONFIANCA!
Isso aí! Cabeça baixa e dizendo amém pra tudo que vem da capula.... Petista nota 10!!
A oposição é "coxinha" nos somos "lixo".
O que mais a oposição precisa agora é de coisas como essa deixando entender que eleitor da Dilma seria tão imbecil que nem sabia do que essa iria mesmo fazer
Miguel do Rosario. calma tudo tem o seu tempo, nada de afogadilho, vamos deixar a Dilma trabalhar,nao da para por a carroca na frente dos cavalos, entendo voce, estamos ansiosos mas sao varios ministerios, nao esqueca a pressa e inimiga da perfeicao, na hora certa tudo entrara nos eixos, paciencia nao e virtude dos jovens mas e necessario lapida-la. Tudo vira a seu tempo, imagine se Dilma for falar neste momento sobre cada escolha, vamos aguardar! O tempo e o senhor da razao!
"Será que passaremos mais quatro anos abominando a comunicação do governo, que não existe?"
Se isso acontecer serão mais quatro anos de crises. Nem bem apagado estiver o incêndio de ontem, as labaredas do de hoje já estarão altas.
O problema do governo é que ele aceita o PIG como fonte válida de informação.
Ainda não perceberam o óbvio. Que o PIG é o partido da oposição aos trabalhistas. O governo, Dilma à frente é formado por gente de classe média, pré internet. Isso explica a presença na festa da Folha, o omelete da Braga, entrevistas para o PIG etc.
Enquanto o governo não tiver a sensibilidade de perceber quem é por ele, a vaca caminhará para o brejo.
O brilho de Lula iluminou Dilma 2 vezes, na segunda ela dependeu muitíssimo mais da militância.
Se Ela não percebeu isso, 2018 já foi "pro saco".
Não importa a qualidade do governo. Nem que a inflação for zero, o desemprego estiver em zero, os aposentados com reajuste de 100% acima da inflação além dee reposição de perdas e ainda já tivermos, com tecnologia própria, enviado um homem a lua.
Em 2018 teremos outro Collor, Aécio, Richa, Lobão para presidente!
Já era!
Katia Abreu ????? Mulher do agronegócio, desde quando ira dar atenção à agricultura familiar, pouco importa quem vai ser o ministro para o Desenvolvimento Agrário, qual o orçamento dessa pasta, ínfimo aposto. Agronegócio recebeu 140 milhões + ou - , já a agricultura familiar em torno de 24 milhões... Como posso esperar algo diferente?
Joaquim Levy ????? La vem o ORTODOXO na economia, esqueceram do que a gente tanto falou na CAMPANHA, criticamos tanto aécio quando marina por suas posições macro e micro econômicas!!! E estamos a caminho do mesmo...
É Fernando, parece que o governo prefere investir em vazador do que em porta voz.
Do que a Dilma tem medo? de golpe? do STF? da direita nas ruas?
Ou será que falta a manifestação de apoio da esquerda nas ruas?
Até dá pra entender um economista ortodoxo na Fazenda, já que é Dilma quem, verdadeiramente, determina os rumos da economia. O que não dá pra entender, e espero que seja desmentida, é a escolha da extremista e conservadora de direita Katia Abreu para um ministério importante como o da Agricultura. Espero que todos os Movimentos dos Sem-Terra se mobilizem conjuntamente e impeçam que este pesadelo se torne realidade, bem como os que vivem da Agricultura Familiar e do Agronegócio que regredirão se derem poder de decisão a essa neofascista.
Que, bem me lembro, era (é) a favor da 'flexibilização' do trabalho escravo. Eu acho que a turma do aécio que está lançando este nome e ele não será chancelado pela Dilma!
Na sua incrível teimosia e absoluta falta de traquejo político, indesculpável após tantos anos de vida pública, Dilma demonstra achar que não deve nenhuma satisfação à militância, responsável pelas suas eleições. Está, sim, claramente, dando satisfações ao mercado, QUE PERDEU A ELEIÇÃO e que, embora pare de lhe fazer oposição por um tempo, nunca a apoiará nos momentos difíceis. Do jeito que ela vai, corre o risco de não ter apoio de ninguém, quando precisar, porque, como dizia o poetinha naquela famosa canção (Regra Três): "o perdão também cansa de perdoar".