O “fundamentalismo anti-islâmico” e o cientista, por Florência Costa

Estava há tempos para escrever sobre a crueldade feita pela revista Época contra o cientista franco-argelino Adlène Hicheur, condenado na França por, no máximo, “crime de opinião” (num julgamento questionado por insuspeitos jornais como o Le Monde e o NY Times). Agora no Brasil legalmente, sem pendências judiciais, Hicheur está trabalhando aplicadamente na Universidade Federal do Rio de Janeiro, com sua incontestada capacidade de físico nuclear.

Não escrevi e não vou escrever. Porque Florência Costa, velha amiga a quem décadas já nos separam, desde que foi ser correspondente do JB na então (re)nascente Rússia, escreveu uma bela reportagem para o site Colabora (vale a pena a visita, tem muitos craques desiludidos do jornal, mas não do jornalismo).

Reproduzo um trecho e me orgulho de ter vivido um tempo em que os jornalistas, mesmo os mais novos, como Florência, tinham que entregar seu trabalho, mas não seu caráter. E que nela, ainda uma mocinha naquele final dos anos 80, sobrevive a humanidade, correção e justiça com que trata a história do professor Hicheur. Ao contrário de quem deixou tudo isso de lado para se tornar policialesco, desumano e ávido por embarcar na onda da islamofobia, em troca de notoriedade.

Infelizmente, se pode dizer o mesmo do Ministro da Educação, Aloízio Mercadante, que se apressou em vergar a espinha e dizer que o cientista, “não deveria ter entrado no Brasil”, embora não devia nada à Justiça, tenha sido convidado e passado por todos os trâmites legais. Se os americanos fossem pusilânimes como ele, Werner Von Braun – e por muito, muitíssimo mais que o professor Hicheur, que não participou de nenhuma ação criminosa- não teria feito o programa espacial dos EUA.

‘Sou cientista e vou continuar sendo um cientista’

Florência Costa, no Colabora

Na manhã do dia 18, uma segunda-feira, Adlène Hicheur estava ansioso dentro de sua sala do Instituto de Física da UFRJ, no Rio. O cientista franco-argelino já havia preparado seu Power Point recheado de tabelas e gráficos. Eram complexas análises de dados sobre a procura por uma rara partícula subatômica (“Bc”). O relógio marcava meio-dia no Brasil. Eram 15h em Genebra. A voz de Hicheur foi ouvida e seus slides exibidos por meio de uma vídeoconferência para dezenas de cientistas que ocupavam a sala 24, no 1º andar do prédio 32 do CERN (Organização Europeia para Física de Partículas), na fronteira entre a Suíça e a França.

Além dos cientistas presentes no CERN, outros em vários lugares do mundo assistiam, naquele dia, a sua apresentação. Seu trabalho foi aprovado sem ressalvas. Mergulhado nos estudos sobre matéria e antimatéria, ele pavimentou, assim, o caminho para assinar um importante artigo sobre o assunto, como representante da UFRJ, em uma grande revista científica internacional.

Durante os 40 minutos da apresentação, Hicheur pôde esquecer a verdadeira explosão que o atormenta desde o último dia 9, quando seu rosto foi divulgado por uma revista brasileira, que o carimbou como “terrorista”. Passou a ser caçado pela mídia até mesmo no corredor de seu prédio, que não tem porteiro. Uma jornalista invadiu o edifício e bateu na sua porta. Ele avisou que chamaria a polícia. A jornalista ignorou a advertência e ficou escondida. Mas Hicheur viu que a luz automática do corredor continuava acesa: ela ainda estava lá. Ele, então, telefonou para um colega cientista que chamou a Polícia Federal. Uma agente foi imediatamente enviada ao prédio do físico e a jornalista foi obrigada a deixá-lo em paz. O delegado contactado avisou que se o franco-argelino precisasse de qualquer proteção era só dizer.

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Fernando Brito:

View Comments (9)

  • Pode ser só impressão, mas sinto que tem o dedo podre anglo-sionista nessa história absurda. O Brasil está prestes a perder um dos maiores cientistas do mundo nessa área tão estratégica, por causa da capa irresponsável de um panfleto de extrema direita. Até quando?

  • E a segunda revista lixo não responde por nada? Está querendo ganhar o primeiro lugar? Pobre Brasil; mais uma injustiça criada pela mídia e nada. Isso não é liberdade de expressão é ditadura de informação dirigida sempre a favor dos interesses nos países ricos. O governo tem que demonstrar firmeza e não permitir o retorno do cientista por um motivo absurdo e surrealista desses.

  • Boa noite,

    o E.I que é o problema do mundo, ou são os JUDEUS, com apoio dos TIO SAN, na sua ditadura mundial. Todo povo tem direito a luta, seja por meio que for, pois eles( Judeus e E.U) matam(ram) os muçulmanos e demais povo e saquearam seus bens e o mundo fechou os olhos para eles junto com a ONU. Agora a época vem com essa! Eu como arroz e feijão, sugesta não...

  • Isso acontece porque a presidente da República, Dilma, está tão acuada, escondida quieta no apartamento, quanto esse cientista franco-argelino Adlène Hicheur.

    O pior é que ela só tem para ligar e pedir ajuda para o Zé, da Justiça. Tá lascada...

  • Não creio que a revista Época seja só anti-islamica. É algo mais profundo, e a revista pretende na verdade é acabar com o Brasil e entrega-lo aos verdadeiros donos da revista. O ataque às instituições que fazem ciência de ponta feito pelas revista e Lava jato não pode ser visto como mera coincidência.
    Nossas desculpas ao Dr. Hicheur, e lembra-lo que a revista não representa o povo brasileiro.

  • Francamente o que mais espanta foi a posição do Ministro da Educação, Aloízio Mercadante, sem procurar saber das credencias que levou a UFRJ. a contratá-lo. Espero que os cientistas do departamento de Física dessa Universidade façam um manifesto de repúdio a essa violência por esta ação sórdida de ignorância e preconceito e fação uma ação de solidariedade em nome da ciência. Fora os processo de Macartismo nas Universidades brasileiras.

  • Sr. Hicheur os nossos conservadores são ignorantes há 500 anos. Nunca valorizaram a educação neste Brasil.
    Espero que o dpto de física defenda a todos que lutam para o avanço da ciência brasileira.

  • Nos tempos do éfeagá não teríamos esse problema. Não só é o principinho um mela-cueca que tira os sapatos pra inspeção no aeroporto, como ele deixava a ciência brasileira às moscas, sem dinheiro para projetos de professores visitantes!

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