Assisti trechos da entrevista de Sergio Moro a Pedro Bial – aliás, agora também garoto propaganda de bitcoin – e confesso ter prestado mais atenção à sua forma de se expressar que ao conteúdo – ralíssimo – do que dizia.
Sobre isso, recomendo a leitura do jornalista Chico Alves, no UOL, que ironiza a declaração do apresentador de BBB, de que precisaria de um detector de mentiras para entrevistar Lula, dizendo que muita falta fez não ter levado um polígrafo para analisar a fala do ex-juiz:
Principalmente no trecho em que ele trata da eleição de 2018. “Eu não interferi naquele processo eleitoral”, disse Moro, o homem que determinou a prisão de Lula e depois teve a sentença anulada pelo Supremo Tribunal Federal. Se tirar da disputa o principal oponente de Jair Bolsonaro não é interferência, o que seria?
Fixei-me na figura de Moro, dura como uma pedra, sempre agressiva e com raros sorrisos, que pareciam alienígenas na sua desértica expressão facial. Nada do que dizia tinha o tom de indagação que, numa conversa, sempre surge, até porque queremos, ao dizer algo que consideramos certo, amaciar e moldar a compreensão alheia.
Não é mesmo? Não é verdade? Olha só… Você não acha? O tom coloquial é sempre cheio destas concessões, que estabelece o verdadeiro sentido de conversa, de diálogo, de troca.
O tom de Moro é o de ordem, de verdade absoluta, de dictat, que nem a estudada informalidade da gravata que faltava ao terno justo conseguia quebrar.
O contracenar de Pedro Bial na tela dividida era quase sempre o de contínua concordância, balançando a cabeça repetidamente, assentindo com o “Doutor Moro”.
Em tudo havia um ar autoritário, que a inteligência limitada, a falta de espirituosidade e a dureza atropelada da “verdade” da qual se faz possuído só faziam ressaltar. Só ele importa, só ele decide.
Impossível deixar de sentir o medo de que se volte a dar poder a alguém que nem sequer pratica a mais básica das interações sociais: sorrir. o que nele só surge, de raro em raro, como um esgar debochado.
Não parece refletir sobre nada e, por isso, nada precisa ouvir, sobre nada precisa pensar. Tudo está pronto e é simples, é o que ele acha, o que ele quer, o que ele manda.
Moro ainda se acha julgador de tudo e de todos. Felizmente, agora, quem será julgado é ele.