Na página 6 da edição deste domingo, sob o falso título “Jornalista Janio de Freitas deixa de publicar coluna na Folha“, publica-se um monumento ao caráter sórdido do jornalismo empresarial brasileiro.
A notícia, afinal, deveria ser apresentada aos leitores tal como é: Folha deixa de publicar coluna do jornalista Janio de Freitas, por que é assim o fato: a vergonha de que um jornal pretenda sepultar em vida o maior jornalista deste país.
Já nas primeiras linhas, a “justificativa”, inverossímil e despudorada: “contenção de despesas”, como se ter Janio de Freitas em suas páginas valesse tanto quanto trocar as lâmpadas da redação por outras, mais econômicas.
Talvez seja isso mesmo, prefira-se a escuridão e a penumbra para que não se revele a proximidade entre intenção e gesto: o de abolir a possibilidade de que se ilumine a sordidez do papel político que a grande mídia brasileira exerce.
Aos 90 anos de idade e quase 70 de jornalismo, Janio não será silenciado por executivos de jornal, que se empavonam com o nome de publishers , dando boa ideia de como o colonialismo mental os faz ter horror a quem não comunga e e ora pela cartilha do pensamento único a que se reduziram.
Até como empresários são medíocres, porque não entendem que seu jornal ainda sobrevive pela qualidade de seus colunistas e pela profundidade das análises e originalidade das visões que oferecem aos leitores. O resto tem no Twitter, enquanto Elon Musk deixar.
Volta e meia, como lhe dão direito as nove décadas de brilhante carreira e o valor daquilo que escreve, logo voltaremos a ler, ávidos como sempre, o que a lucidez de Janio de Freitas tem a nos mostrar e fazer refletir.
Vivido como é, ele sabe que, no jornalismo, caráter coisa rara e minguante.
A Folha não matará Janio : ao, contrário, é ela que caminha um pouco mais para o fim da imagem que, 40 anos atrás, salvou-a da condição de jornal provinciano e a fez o jornal brasileiro mais temido pelos poderosos e autoritários.
Longa vida ao mestre Janio e, para um jornalista como ele foi e é, isso significa muitos textos que ainda virão.