O jornalismo não é um exercício de morbidez

O trabalho da repórter é pífio, metido a engraçadinho e brinca de “beliscar” a ideia de que o Hotel Saint Peter, onde – talvez – o ex-ministro José Dirceu trabalhará no seu regime prisional semiaberto, seja um hotel de luxo (embora, como a própria matéria o registra, esteja bem longe disso). Natural, coisa de alguém que acha que jornalismo é diversão descomprometida e tem as ideias de “matéria de ambiente”  que transitam sobre o território da subliteratura.

Mas o editor do site do Estadão não foi apenas fútil como a repórter.

Agiu deliberadamente para “criar” uma impressão de “poder” ao escrever um título – a parte mais lida de qualquer matéria – assumidamente mentiroso.

Novo trabalho de Dirceu terá vista para a Praça dos Três Poderes é a frase que encima a matéria.

Quatro linhas abaixo, a repórter escreve:

“Muito diferente da sala no 4° andar do Palácio do Planalto, com vista livre para a Praça dos Três Poderes, o novo endereço do ex-ministro será um espaço no subsolo do hotel, em um corredor mal iluminado próximo à garagem.”

Não, não foi o chefe deste editor que o mandou fazer isso.

Foi a morbidez que tomou conta de minha profissão.

Já vi muito coleguinha de TV forçando a barra para fazer seu entrevistado chorar, combinando com o cinegrafista.

O ser humano objeto de sua matéria perde essa condição.

Vira algo a ser explorado: lágrimas e “mundo cão”  dão “ibope”.

Os condenados estão sendo exibidos como pessoas cheias de regalias, em lugar de ser exibido um sistema cheio de crueldades.

Não choca a ideia de que negros, pobres e anônimos sejam maltratados num presídio, onde, em tese, vão se recuperar de seus descaminhos e regressar ao convívio social.

O chocante é que alguém não seja tratado como um animal, embora recolher-se, todo fim de tarde, a um presídio não seja propriamente a vida de um “rei dos camarotes”.

Mas não basta punir, é preciso maltratar, humilhar, porque a morbidez assim o exige.

E morbidez não é jornalismo.

É doença.

Fernando Brito:

View Comments (22)

  • Lixo, só isso! Por isso que o Estadão está à venda e ninguém quer comprar. Ter apadrinhados no Governo é a última chance de evitar a falência. A Justiça Eleitoral deveria computar as matérias do PIG como doação de campanha!

  • ESTADÃO É UM JORNAL RUIM, PÉSSIMO, DEVERIA SER PROCESSADO, FECHADO.

  • A matéria no UOL de hoje é, no mínimo, estarrecedora. Eduardo Guimarães já tinha denunciado, mas a coisa é pior. A gente só não tem noção do que virá, mas poderemos indicar quem, insuspeitadamente, está gerando o monstro. No início da matéria começa citando uma declaração da CNBB- Conferência Nacional dos Bispos no Brasil, de que os direitos dos presos devem ser iguais. Tudo bem, disse direitos. Seguem dizendo como é a luta das famílias dos presos nos dias de visitas. Depois entram com a decisão dos juízes da vara de sentenças Bruno Ribeiro, ÂNgelo de Oliveira, Márcio Regalo.
    "É justamente a crença dos presos nesta postura isonômica por parte da Justiça que mantém a estabilidade do precário sistema carcerário local. Essa quebra encontraria justificativa apenas se fosse possível aceitar a existência de dois grupos de seres humanos: um digno de sofrer e passar por todas as agruras do cárcere e, outro, o qual dever ser preservados de tais efeitos negativos, o que, evidentemente, não é legítimo admitir", diz trecho da decisão.

    Os juízes ainda usam decisão para fazer críticas ao Poder Executivo dizendo que faltam investimentos nos presídios e que a precária situação não podem ser usadas por réus para obterem tratamento diferenciado, mas deveria servir, sim, para uma "postura mais responsável" por parte da administração pública.

    "As deficiências atuais do sistema penitenciário, local e nacional, são fato público e notório, fruto de um histórico descaso do Poder Executivo, devendo servir não de justificativa para a indevida atribuição de tratamento diferenciado, mas de uma postura mais responsável, inclusive através dos investimentos que se fazem, sabidamente, necessários".
    Só que, no entendimento dessa nova junta jurídica que lembra uma junta militar, o que ela erroneamente defende é a violação dos direitos dos presos de forma enviesada e criminosa, ainda culpando o governo federal pela situação. Somando essas informações com as que estão sendo divulgadas sobre os novos empregos e salários, o caminho para uma extorsão e uma vingança dos 'leões' que estiverem sendo alimentados na cadeia sabe Deus por quem (isso para encobrir um crime encomendado é perfeito), o quê podemos esperar num futuro próximo? Pão e circo é pouco para o que está acontecendo.Desde quando esse BBB prisional começou, estamos vendo que não são os direitos dos presos que estão em questão. A sociedade que nunca esteve atenta na vida de presos a não ser insuflada pela imprensa, deve saber que hoje é um deles. Amanhã pode ser qualquer um de nós. Direitos Humanos não é igual a violação de Direitos Humanos. Temos que acionar nossos íntegros homens da lei, instituições internacionais de Direitos Humanos e até nossa ministra de Direitos Humanos. Isso já está passando do ponto. PRESTEM ATENÇÃO!

  • Estou triste e preocupado com o meu País, o caminho que estamos tomando não tem mais volta e o pior poucos reagem.

  • Jornalixo é isso mesmo, e os pseudo jornalistas do Estadão se prestam a isso. Publicar lixo.

  • Alguns podem ter , mas não é possível que seja regra geral! Aliás eu acho que não é possível um jornalista profissional achar de maneira tão cretina deste jeito e sim como são paus mandados, eles escrevem aquilo que seus patrões ditam de modo que......!!!

  • O ódio com que a mídia se refere a políticos progressistas, particularmente do PT, me faz crer ainda mais no partido. É sinal claro de que uma organização política está tentando romper com o sequestro, com a chantagem, com o achaque aos representantes eleitos. Wainer, Chateaubriand, Marinho, Mesquita e/ou Frias agiram e agem com o mesmo modus operandi. Ao que tudo indica, pelo despudor com que seus contemporâneos e sucessores uniram-se para, diariamente, desde 2001, é bom que se diga, tentar desqualificar os progressistas, essa tática não está garantindo os ganhos. A opinião publicada agir e reagir como está, é sinal de que estamos avançando, de que a opinião pública percebe e concorda com a ação afirmativa dos investimentos nas pessoas, sobretudo as mais vulneráveis. E são dezenas de programas e investimentos públicos que visam a evolução e a emancipação, que permitirão, cada vez mais, que a autodeterminação das pessoas as conduza e leve, com autonomia e senso crítico. Para desassossego dos barões do império, o povo anda rejeitando o cabresto.

  • D. Lisandro que vergonha! tripudiar sobre um apenado e sem nenhuma prova do crime que lhe foi atribuído. um herói da luta contra aditadura, que dedica sua vida a impropero por um Brasil melhor e nunca mediu sacrifícios para isto. Veja se você pode fazer melhor.

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