O “meia” culpa de José Padilha com Moro

José Padilha, depois de ter legitimado meses a fio em artigos e entrevistas e de ter dirigido uma série endeusando Sérgio Moro e a Lava Jato, o cineasta José Padilha resolveu entender que o seu ex-herói estimula, com seu projeto dito “anticrime”, o arbítrio, a violência policial e as milícias.

Padilha, ainda que eu possa crer que racionalmente pense o contrário, sempre foi um propagandista destes métodos. Orgulho-me  de não ter assistido mais de dez minutos o blockbuster “Tropa de Elite” , exatamente por isso, por tornar os “caveiras”, policiais violentos e executores personagens “do bem”.

Não dá para achar que é o bastante. De qualquer forma, importante registrar seus argumentos, até por virem de quem vêm. Reproduzo um trecho:

O ministro antiFalcone

José Padilha, na Folha (trecho)

Sergio Moro finge não saber o que é milícia porque perdeu sua independência e hoje trabalha para a família Bolsonaro. Flávio Bolsonaro não foi o senador mais votado em 74 das 76 seções eleitorais de Rio das Pedras por acaso…

O pacote anticrime que Sergio Moro enviou ao Congresso —embora razoável no que tange ao combate à corrupção corporativa e política— é absurdo no que se refere à luta contra as milícias. De fato, é um pacote pró-milícia, posto que facilita a violência policial.

Se Sergio Moro tivesse estudado os autos de resistência no Brasil teria descoberto que:

1 – Apenas no Rio de Janeiro, a cada seis horas, policiais em serviço matam alguém;

2 – A versão apresentada por esses policiais costuma ser a única fonte de informações nos inquéritos instaurados em delegacias para apurar os homicídios;

3 – Como policial tem fé pública, a sua versão embasa a excludente de ilicitude, evitando a prisão em flagrante;

4 – A Polícia Civil, além de raramente escutar testemunhas ou realizar perícias no local dos assassinatos, tem mania de desfazer as cenas do crime para prestar socorro às vítimas, apesar de a maioria delas morrer instantaneamente em decorrência de disparos no tórax;

5 – Desde 1969, quando o regime militar editou a ordem de serviço 803, que impede a prisão de policiais em caso de “auto de resistência”, apenas 2% dos casos são denunciados à Justiça e poucos chegam ao Tribunal do Júri.

Aprovado o pacote anticrime de Sergio Moro, esse número vai tender a zero. Isso porque o pacote prevê que, para justificar legitima defesa, bastará que o policial diga que estava sob “medo, surpresa ou violenta emoção” —ou, ainda, que realizava “ação para prevenir injusta e iminente agressão”.

O hábito que os policiais milicianos têm de plantar armas e drogas nos corpos de suas vítimas para justificar execuções é tão usual que deu origem a um jargão: todo bom miliciano carrega consigo um “kit bandido”. Aprovado o pacote de Moro, nem de “kit bandido” os milicianos precisarão mais.

Sergio Moro nunca sofreu atentados e nunca lidou com a máfia. Mas o juiz Giovanni Falcone, em quem o ministro diz se inspirar, foi morto aos 53 anos de idade na explosão de uma bomba colocada pela máfia em uma estrada. Sua mulher e três seguranças morreram com ele.

O crime foi uma reação da máfia à operação “Maxiprocesso”, que prendeu mais de 320 mafiosos na década de 1980. Ela deu origem à operação “Mãos Limpas”, que mostrou que a máfia elegia e controlava políticos importantes na Itália.

Ora, no contexto brasileiro, é obvio que o pacote anticrime de Moro vai estimular a violência policial, o crescimento das milícias e sua influência política. Sergio Moro foi de “samurai ronin” a “antiFalcone”. Seu pacote anticorrupção é, também, um pacote pró-máfia.

Fernando Brito:

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  • OS MILITARES E PROCURADORES CONSPIRAM PARA UM GOLPE NEONAZISTA NO BRASIL,CONSPIRAÇÃO ABERTA PEDE,EXIGE E OBRIGA A PRISÃO IMEDIATA DOS MILITARES E PROCURADORES DA LAVA JATO A COMEÇAR PELO CHEFE SÉRGIO FERNANDO MORO.

  • O destino é um deus sarcástico.
    Tanto acusaram o PT de ser uma orcrim, que acabaram por, efetivamente, colocar no poder no Brasil uma verdadeira organização criminosa.
    E agora, para tirar?

    • É a máxima do Olavo de Carvalho: acuse-os daquilo que você é, ou vai fazer!

    • É a máxima do Olavo de Carvalho: acuse-os daquilo que você é, ou vai fazer!

  • Se Padilha quer mesmo recuperar credibilidade, que faça um filme contando sua história de como se deixou enganar por Moro, pela grande mídia e pela elite econômica, para cooperar com o golpe de estado e com a quebra da Democracia e do Estado de Direito no Brasil.

    • Seria uma boa continuacao pro "O inimigo agora eh outro". FB nao assistiu, mas, por incrivel que pareca, sao bons filmes. O primeiro filme mostra a ascencao do novo recruta nesse modelo de violencia e o segundo mostrou as consequencias disso no RJ (a virada do filme eh a parte do "GatoNet"). Agora chegou a hora de contar a historia de como isso chegou a Brasilia.

    • Um filme contando tudo isso do Padilha não dura 3 minutos.
      Esse animal não foi enganado por ninguém: canalha é canalha.

  • Também me orgulho de jamais ter assistido a algum filme ou série deste canalha.

    #LulaLivre

  • Mesmo que "Sergio Moro tivesse estudado" o que quer que fosse continuaria a ser o que é: péssimo ator de si mesmo. Moro, como Bolso, não são sujeitos, são objetos, mero instrumentos de um Golpe de Estado impotente até mesmo para dar o salto final a uma desejada ditadura policialesca e tecnocrática, como foi a última. Não têm nada a oferecer a população a não ser caos e destruição como meio e como fim. O problema, insisto, são seus chefes.

    • Parece que há um movimento que conta com sólida cobertura militar, que está interessado em defender e recuperar o respeito do poder judiciário, pondo fim às exceções que proliferam principalmente na Lava-jato. Este movimento não quer que o já visível arcabouço de uma ditadura de extrema direita avance e se posicione sobre o país. Bolsonaro está se sentindo tolhido diante deste movimento preventivo de golpe, e a coisa mais pavorosa para ele é sentir-se tolhido e meio desamparado. Por isso está lançando cartadas incertas de desespero, como a convocação de mil policiais federais que já passaram em concurso público, mas estavam encostados e sem prazo para serem aceitos. Ele quer sentir de alguma maneira que está aumentando seu apoio, no caso com uma espécie de guarda policial, diante de forças bem mais poderosas. Além de causar extrema preocupação nos fiscalistas que pregam a não nomeação de concursados, ele também não vai conseguir nada desta turma recém-nomeada. Todos eles vão se engajar dentro de esquemas racionais burocráticos e pré-montados de serviço policial, e não vão formar diante da residência do Bolso.

  • Como ministro da justiça, Moro é um excelentíssimo professor de portugues

  • Desnecessário dizer duas coisas:

    1) Os traficantes nas favelas são meros serviçais do crime;
    2) Essa política de confronto faz muitas vítimas inocentes.

    No dia em que esse energúmeno do Witzel falar em "mirar na cabecinha" de certos frequentadores de luxuosas coberturas e mansões, aí pode ser que eu dê algum crédito a ele.

  • Padilha ,sujeito malandro ,montou-se na euforía fascista ,lucrou .
    Hoje, com o caminhão de dementes descendo a ladeira sem freio e nenhum obstáculo à sua queda no abismo ,imagina poder colocar a máscara e bancar o "democrático".
    Ele não percebe que isso é impossível,tem tatuado na testa a palavra, CANALHA.

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