Já se escreveu aqui que Bolsonaro pratica a falsa sinceridade e é sinceramente falso.
Diz que “entregou a alma do governo” ao Centrão para conseguir a “paz institucional” e, em seguida, corre a atacar outra vez o Judiciário, dizendo que o presidente do TSE, Luiz Roberto Barroso, é contra a democracia.
E, ao mesmo tempo, dizer que está em dúvida sobre concorrer à reeleição, como se não fosse isso o que faz desde os dias em que pôs os pés no Planalto.
Ele é um ex-militar que odeia o Exército a que pertenceu e os contemporâneos que alcançaram o generalato e o que os compraz é ter poder sobre eles, manipulando suas ambições e desprezando todo o dano institucional que causa às Forças Armadas: à sua disciplina, à hierarquia e à sua imagem pública.
Quem foi, como ele próprio confessa, um soldado raso do velho Centrão sente prazer em manobrar as ambições cargais e verbiais dos caciques das bancadas que o integram para que se afundem junto com ele.
Militares e políticos caem no papel pega-moscas que Bolsonaro lhes estende.
Sabem, mas não resistem a desconsiderar, como nos versos de Noel Rosa, o ódio sincero para fruir do amor fingido do Mito pela política, pelo país, pelas instituições.
Bolsonaro a tudo reveste do papel de seda brilhante: defende o voto impresso para favorece a intimidação e a fraude; diz que Deus está acima de tudo e quer armar seus seguidores como fossem arcanjos Gabriel, diz que o Brasil está acima de tudo e se comporta como um líder colonial.
Pois é bom que o vejamos sempre com a desconfiança de quem cuida com um sabotador, à procura de maneiras sub-reptícias de consumar seus planos.
O seu jeito tosco e aparentemente imbecil ajuda a desconsiderá-lo o perigo que é.
E é.