O “nude” da estupidez

A “era Bolsonaro” no Brasil vai, um dia, ser prato cheio para estudiosos de psicologia social.

Não é só o conservadorismo – melhor, o reacionarismo – que a marca, mas a construção de uma espécie de “império da estupidez” no governo e em muitas partes da sociedade.

Há farto material para análise patológica deste fenômeno.

O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, definindo as mulheres como “portadoras de vaginas” o que, em alguns casos como o de sua concepção, talvez seja mesmo um “defeito”.

Hamilton Mourão, o cavaleiro (sem H) que habita a vice-presidência da República, chama a Argentina de “eterno mendigo”, numa reunião com possíveis investidores estrangeiros.

Jair Bolsonaro dispensa comentários: diz que o STF está quebrando a Constituição ao determinar que o presidente do Senado instale a CPI da Covid, o que está procrastinando há tempos, mesmo contra o que determina o regimento da Casa.

O país chega a 4,25 mil mortes em um dia e não há uma manifestação de tristeza ou de alerta das autoridades públicas.

O Ministério da Economia, alegando que só os ricos leem, quer taxar o livro para que, quem sabe, nem por eles e, não lhes venham estas ideias malucas de ciência e humanismo. Ademais, está aí a inteligência artificial para suprir o dinheiro, não é?

Mas há, ainda, a cereja do bolo: a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, publicada pela Folha, dando conta que mais de um quinto (22,5%) dos médicos apoia o uso de medicação não referendada cientificamente para o combate à Covid.

O que, na prática, equipara os doutores – já que não estão participando de um experimento regular de medicamentos – à categoria dos charlatães que, agora, ganhou o belíssimo nome de “liberdade para os médicos”.

Liberdade para serem estúpidos com a vida alheia.

O que há de comum em tudo isso? Arrisco sugerir aos que, no futuro, estudarem o que se passou aqui, venha que há um traço comum a tudo isso: a estupidez perdeu a vergonha de exibir-se em público.

Vivemos a era do ‘nude” da ignorância que, antes, tinha o pudor de se vestir-se de silêncio e que agora se exibe, vaidosa de sua ferocidade.

Fernando Brito:
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