Numa das cenas mais delirantes do filme Doutor Fantástico, um general americano ‘explica’ ao coronel inglês vivido por Peter Sellers que nunca bebe água, exceto destilada ou da chuva porque a fluoretação da água é uma conspiração comunista para esterilizar os norte-americanos e que os russos “só bebem’ vodca para continuarem se reproduzindo e dominar o mundo.
A extraordinária e irônica imaginação de Stanley Kubrick parece ter se transplantado para o mundo (e o Brasil) de hoje.
Semana passada, numa consulta de dentista, estranhei que a atendente apontava a pistola de medição de temperatura para o pulso e disse a ela que podia medir na testa, como convencionado para obter leituras corretas, porque eu não acreditava nas bobagens sobre isso causar câncer ou danos à glândula pineal.
“Você não acredita”, disse ela, “mas a maioria dos pacientes têm medo”.
É isso, esta estupidificação das pessoas, o que explica o resultado da pesquisa Ibope divulgada hoje pelo Estadão, dando conta de que um quarto dos brasileiro se recusará ou terá resistências a tomar a vacina contra a Covid-19.
Entre as razões, diz o Ibope, estão “teorias da conspiração das mais diversas, como a de manipulação genética ou implantação de um chip por meio da vacina e até a hipótese de que o produto seria feito com fetos abortados”.
A estupidez, porém grassa em outros e vários temas.
O presidente do Supremo, Dias Tofolli, ao dizer que “nunca viu uma atitude antidemocrática” de Bolsonaro, só faltou agradecer ao presidente pelo “acabou, porra” e por insuflar os manifestantes que pediam o fechamento do STF e a intervenção militar. A coisa anda de tal forma que ele esqueceu até a leniência bolsonárica com o ministro que queria por na cadeia os “11 vagabundos” do Supremo.
O general do flúor esterelizante do filme, um desempenho magnífico do ator George C. Scott, multiplicou-se aqui por uma vintena de oficiais provectos, que acham o mesmo do vírus comunizante.
Dá calafrios só de pensar no subtítulo do filme de Kubrick: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb ou, numa tradução livre, Como Eu Aprendi a Parar de me Preocupar e a Amar a Bomba (Atômica).
Afinal, como diz o filósofo presidencial, todos nós vamos morrer um dia, mesmo.
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Acho ótimo. As pessoas razoáveis tomam a vacina. As outras não. Resultado final: reduz-se a proporção de idiotas na população.