O Ocidente não quer um cessar-fogo na Ucrânia

No discurso do presidente Joe Biden, ontem, e no dos dirigentes europeus, há tempos, não se ouve a expressão “cessar fogo”.

Sim, simples assim: parem de atirar, imediatamente.

Esse é o primeiro e indispensável passo para que negociações – sejam militares ou diplomáticas – avancem e, nestes casos, sempre é lento e milim´´etrico cada avanço.

Na terça à noite aconteceu o primeiro passo para uma negociação intermediada, quando a China respondeu ao presidente ucraniano que estava disposta a atuar por uma cessação das hostilidades.

Outra potência atômica, a Índia, demonstrou a mesma disposição e Narenda Modi, de jeito algum, pode ser chamado de comunista, como o governo de Beijing. Dos Brics (além de China, Índia e a África do Sul abstiveram-se e Rússia, é obvio, votou contra, só o Brasil voltou a favor das sanções, porque é incapaz de fazer diplomacia, porque estaria estabelecido um bloco de países amigos da Rússia que teria peso no mundo negociando o fim do confronto militar.

Porque ninguém quer este fim, o Ocidente não quer um cessar-fogo, ao contrário, quer que Vladimir Putin solte as correntes com que, até agora, tem contido o tamanho da guerra.

Ou você acha que os enormes contingentes de homens, tanques, foguetes e mísseis estão contidos, com diz a propaganda da mídia, porque lhes falta combustível? Será possível que achem que um exército como o russo, com quase 1 milhão de homens, 160 bilhões de dólares de orçamento e que derrotou Napolão e Hitler não vai levar óleo diesel para seus blindados ou está “economizando míssil” por não fazer um ataque no padrão “Choque e Terror” de Bagdá?

Hoje, o chanceler russo, Serguei Lavrov, fez um movimento que, para quem estivesse buscando a paz, seria importantíssimo: reconheceu a legitimidade do presidente ucraniano Volodimir Zelenski, o que é quase o mesmo que não colocar sua saída do comando do país como uma condição de entendimento, já que é reconhecido como legítimo.

Foi o que bastou para que a mídia ocidental “comprasse” uma história “vazada” ao The New York Times” de um “relatório de inteligência ocidental afirmando que altos diplomatas chineses não só estavam cientes dos planos de invasão como apelaram aos russos para que fossem transferidos pela depois das Olimpíadas de Inverno de Beijing.

O que, claro, os tornaria cúmplices dos russos e, assim, os desqualificaria como mediadores.

Não há uma palavra a retirar sobre o que já se disse aqui que, para Biden e para os líderes europeus, a Ucrânia apresenta-se com um bucha de canhão para o desmonte do regime russo e a possível fragmentação daquele país nas mãos de um Boris Yeltsin 2,0.

Para deter a escalada da Rússia sobre a Ucrânia é preciso deter a escalada da sinonímia Otan/EUA/União Europeia sobre a Rússia.

Pretender fazer que o exército russo recue, de rabo entre as pernas, mantendo as quase “atômicas” sanções à Rússia é não só uma impossibilidade como uma sangrenta imprudência.

 

 

Fernando Brito:
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