Ontem, no final da tarde, inicio da noite, a calçada da Visconde de Pirajá, por sete ou oito quadras era pródiga em lições de economia, de sociologia, de filosofia e uma prova a medir quanto nos resta de humanidade.
Ipanema, bairro rico da cidade, primeiríssimo mundo, gente bem cuidada e bem vestida – ainda mais nestes tempos de frio – , está vazia. É inverno, não há turistas, os bares já não existem como antes, quase todos amesquinhados pela “gourmetização” da classe média, com nomes e cardápios estranhos e bestas.
Na “ida” da caminhada, como é comum nestes tempos, alguns pedintes, embora em maior número do que em tempos recente. Sessenta anos de Brasil injusto, porém, acostumam a gente a estas cenas, ainda que não nos levem à indiferença.
Na volta, porém, a noite caíra e o frio – nem tanto quanto na véspera, é verdade – fazia brotar, diante das lojas fechadas, pelo horário ou pela crise – um jardim monstruoso de papelão e de cobertores rotos a servirem de ninho a gente, gente e mais gente que se começava a se preparar, como bichos no crepúsculo, para a hibernação na rua.
Aqui e ali a uniformidade da miséria se quebrava: uma senhora idosa, a pele do rosto vincada pelo tempo, sentada sobre um degrau, comia os restos de uma quentinha, talvez a sobra do que conseguira na generosidade do dia; um ou outro cão, destes da raça “não-pet” que saltita, feliz, a provar que amor não é privilégio nem do dinheiro nem do ser humano; o garoto, aí de uns onze-doze anos que cuida, carinhoso da irmã pequena, enquanto a mãe ou quem lhe faça às vezes sai para a caçada de esmolas…
O trabalho de procurar poesia no que faz, a eles e a quem os vê, humanos é, porém, tanto doído quanto cínico.
O blogueiro pensa em tirar fotos, mas o sujeito que o abriga não permite: não posso tirar mais deles nem a imagem, nem o anonimato, não posso os tratar como objetos da curiosidade pública.
Volto o olhar para os que passam por eles. Há nos olhos a mescla de desprezo e medo; nenhuma culpa, porém, porque para isso seria preciso que sua religião e seu deus não fossem uma hipocrisia.
Melhor negá-los, não vê-los, dizer, quem sabe, dizer que não há fome no Brasil, que os desvalidos são os “paraíbas” indolentes – os que não são como os que os servem como porteiros, garçons, cozinheiros, empregadas domésticas.
É gente indolente, preguiçosa, que se acostumou às “bolsas disso e daquilo”, como diz o homem a quem fizeram “Mito”.
Os intelectuais discorreriam sobre o desemprego, a recessão, o crescimento das desigualdades, o desalento que deforma e prostra o ser humano, na degradação da vida urbana que desumaniza pobres e também os ricos e os “remediados” como nós.
Outros sobre os erros do PT, uns de seu republicanismo ingênuo, alguns sobre suas composições com a velha política que induziram a deformações.
Todos podem ter razões, certamente as terão.
Eu prefiro pensar que o ódio aos pobres, aos “paraíbas”, a tudo o que cheire a povo brasileiro nos levou a isso e, pior ainda, não nos deixa sair disso.
E que, no fundo, tudo aceitam, menos o paraíba que nos fez acreditar que o país era de todos e, por essa heresia, há de ser posto a dormir no frio de uma cela em Curitiba.
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Hoje ao acordar comentei com minha esposa: - Como a população de rua está enfrentando esse frio?
Brito nos dá a resposta e aponta esperança de solução: #Lulalivre
Ante ontem morreu um excluído no frio da madrugada perto de casa,na praça da igreja,andava adoentado,creio que com pneumonia.
Deus permitiu q nós aqui em pleno Nordeste, os paraíba, com muito orgulho, tivéssemos sempre o quentinho do sol e as noites mornas para não morrermos de frio. Ao menos isso. De fome, sim, muitos começarão a morrer. Enfim, a classe média branca remediada conseguiu trazer de volta o Brasil que tanto tinha saudade: o Brasil da FOME.
Ana essa "classe média branca " são as próximas vitimas de suas escolhas , pois o povo pobre já perdeu quase tudo , quando isso acontecer vão perceber a merda que fizeram.
Neste inverno, aqui em sampa, já morreram vários.
O prefake substituto (covas) do prefake original (doria) mantém com muita galhardia a tradição tucana de expropriar cobertores e pertences de quem já não tem quase nada. Isso quando não os despertam com jatos de água fria.
Os bem-nascidos e bem-nutridos parecem ter decidido que eliminar a pobreza é demodé - preferem eliminar os pobres, mesmo.
https://youtu.be/4qtwsXF_p5s
Hoje ao acordar comentei com minha esposa: - Como a população de rua está enfrentando esse frio?
Brito nos dá a resposta e aponta esperança de solução: #Lulalivre
Esqueci de quem é a frase: "aqueles que os deuses querem destruir começa por enlouquece-los". Nestes últimos dias bozo está num crescendo de sandice e destempero emocional (sim porque, burro, violento, ignorante e mau ele sempre foi, só está exacerbando agora). Vamos lá pessoal, todo mundo atacando o facínora. Vamos perde-lo atacando o mais desrespeitosamente possível, se der até com pontapé na bunda. Quem com ele tem contato, meta-lhe provocações que ele reage: é isso que ele sabe fazer, a sua natureza (deus do céu, respiramos o mesmo ar!) e o que vai derrubá-lo. Derrubá-lo com uma interdição, pois esta é a fórmula para termos novas eleições, senão teremos que aguentar mais do mesmo com estes idiotas dos militares que deveriam ter vergonha na cara e nunca mais sair de seus quartéis.
Estou de acordo que basta de tratar com respeito quem nos desrespeita.
Devemos usar a mesma arma que ele, isto é, a baixaria. Temos que irritá-lo até ele pedir exílio no manicômio mais próximo.
TIVE UNS QUARENTA MINUTOS DE TEMPO PARA VER O QUE SERIA POSSÍVEL SE APROVEITAR PRA POSTAR QUE NÃO FOSSE DESANIMADOR PORQUE NADA QUE ACABRUNHA DEVE DEIXAR O DOMINGO MELANCÓLICO, DEPRIMENTE A PONTO DE TRAZER A NOSSAS VIDAS A REVOLTA.
MAS VEJO ESSE TEXTO DO BRITO E É IMPOSSÍVEL NÃO LEVAR AOS AMIG@S DE CAUSA .
DOMINGO É DIA DE FAMÍLIA ,DOMINGO MERECE UM POUCO DE DESCANSO DA ALMA,UM POUCO DE ALEGRIA.
ENTÃO ME LEMBRO QUE NAS PRISÕES BRASILEIRAS O DOMINGO É SOLITÁRIO,NÃO É DIA DE VISITA.
ESSA É A MAIOR MALDADE DA MAIORIA DE NOSSAS PRISÕES; DOMINGO SOLIDÃO.
Outro grande erro de Lula foi não ter atacado, com ferocidade, a situação dos presídios brasileiros.
Alguém precisa perguntar ao ministro Toffoli qual o real efeito da decisão dele sobre a investigação do Flávio. . Como a investigação dele parte dos dados do coaf isso significa que ele não será mais investigado? A coisa está muito nublada e precisamos que o ministro esclareça a questão.
Em várias ruas de São Paulo as cenas são semelhantes. Muito triste.
Mas eu ando com meu botton de Liberdade para para o Paraíba, digo, Liiberdade para Lula, preso na roupa, e muita gente me diz palavras de consolo.
Se eele não quer nada com os nordestinos, então que não dê aos desconhecidos o que pertence aos paraíbas: A base de lançamentos de foguetes de Alcântara.
https://theintercept.com/2019/07/21/deltan-dallagnol-sergio-moro-flavio-bolsonaro-queiroz/
O novo twitter do Moro, chamando os jornalistas que avalizaram a Operação Vazajato de "defensores da corrupção", significa o fim da picada. É um claro sintoma de desespero. Ele agora quer se agarrar seja aonde for, nem que seja na ignorância dos que ainda acreditam nele por pura ingenuidade.
Fernando, o senhor tem o poder de arrancar lágrimas e revolver as entranhas de alguém que sofre quase patologicamente por seu país, povo, planeta...Usarei seu texto como última postagem em grupos. Se suas palavras não persuadirem, que farão as minhas?
Tenho que reconhecer com tristeza, pois vejo com clareza que um sentimento que sempre desprezei, aflorou.
Preconceito.
Ouço falar ou penso nesse evangélicos politicos é no rebanho que usam o nome de Jesus pra tocar o Diabio.
Vixe!
Judiciário, mídia (Globo), essa turma do interruptor, batedores de panelas que pensam que são elite..
Desculpem... Que nojo!
Vou parar pra tomar o remédio contra ânsia de vômito.