O pato quem pagou foi a democracia

Excelente reportagem de Jamil Chade, no Estadão, com o reconhecimento de Dilma Rousseff de que “fez uma grande burrada”  ao reduzir impostos cobrados sobre grandes empresas, acreditando que isso iria trazer mais investimento e emprego.

“A ex-presidente Dilma Rousseff admitiu que cometeu um “grande erro”ao promover a desoneração fiscal. Em Genebra, na Suíça, para participar de debates e seminários, a brasileira foi questionada se era capaz de assumir seus erros e se estava arrependida de alguma decisão que tomou enquanto governou o Brasil. “Eu acreditava que, se eu diminuísse impostos,eu teria um aumento de investimentos”, disse a ex-mandatária.
“Eu diminuí e me arrependo disso. No lugar de investir, eles (os empresários) aumentaram a margem de lucro”,afirmou. 

O raciocínio é correto, mas incompleto.

O erro, na verdade, é achar que a redução de impostos é um ponto chave para o desenvolvimento de nosso país, pura e simplesmente.

Afinal, Lula também fez desonerações tributárias e  foi bem sucedido.

Os problemas da economia brasileira, claro, têm a ver com impostos, mas não necessariamente por sua redução, mas com o seu perfil de incidência e destino da receita que deles resulta.

Primeiro, porque têm a ver com a capacidade de financiar investimentos em infraestrutura e em indústria pesada, o que não será feito sem (muito) dinheiro financiado pelo Estado. Banco, no Brasil, não se interessa por negócio de longo prazo, de taxa de retorno baixa e longa maturação.

Segundo, porque o problema essencial de nossa indústria não é o tributo, mas a escala. E esta só se amplia na hora em que você desonera na ponta do consumo, apenas lá, e por prazo determinado, porque obriga ao aproveitamento da janela de oportunidade, o investimento e o crescimento da produção em ritmo  razoavelmente rápido e, portanto, capaz de compensar a redução da arrecadação.

“Numa crise, todos precisam pagar. Mas quem paga? Um pato de seis metros de altura foi colocado nas manifestações, dizendo: eu não pago o pato. Mas quem colocou o pato? O presidente da Fiesp. O que quer dizer isso? Eu não pago impostos. Eu só quero cortes e mais cortes”, atacou Dilma. Na visão da ex-presidente, o impeachment que sofreu ainda estaria ligado a propostas que ela tinha de elevar impostos. “Meu impeachment também foi por não pagar o pato, e o pato eram os impostos”.

Uma constatação tardia, mas que ainda contamina boa parte do pensamento econômico progressista.

Há uma lenda, quase que unanimemente aceita, de que o Brasil não pode crescer com uma política de expansão de consumo e de ampliação de exportações pela via de um enfraquecimento do câmbio sem que isso gere uma alta taxa de inflação.

Pode e só pode assim, mas isso exige um Estado capaz de suprir a falta de investimento privado e, com isso, fazer girar a manivela da atividade econômica. Mas seletivamente.

O pato empresarial brasileiro só vai pagar menos  com escala produtiva.

O resto é só fazer o país retroceder.

Fernando Brito:

View Comments (22)

  • desonerar sem exigir contrapartida da parte do empresariado é realmente muita ingenuidade. não é burrice.

    • ... Por ser uma mulher absolutamente honesta e responsável, a legítima, honrada e impávida presidenta Dilma Rousseff confiou, pelo menos, no bom senso do [troglodita] empresariado brasileiro!

  • DISCORDO! O ERRO FOI DO EMPRESÁRIO QUE NÃO INVESTIU EM EMPREGOS E TECNOLOGIAS COM OS BENEFÍCIOS DA EXONERAÇÃO OPTANDO POR APLICAR NO MERCADO FINANCEIRO E APÓS DILMA ABAIXAR OS JUROS A METRALHARAM DE ÓDIO.

  • Acredito que tem outro aspecto importante:
    a grande diferença no segundo governo Lula, foi que a desoneração se centralizou em tributos diretamente sentidos pelo consumidor, no repasse aos preços finais e mais "fáceis" de serem fiscalizados pela sociedade, como a isenção do IPI por exemplo.

    No caso do Gov Dilma, tivemos a isenção da contribuição patronal à Previdência, sobre a folha de pagamento, o que, além de derrubar a arrecadação (pois, a tributação sobre faturamento retornava uma receita menos que proporcional), não era tão "fácil" de ser mensurada e fiscalizada nos bens e serviços, assim como não tinha impacto direto na estrutura produtiva e/ou de geração de empregos.

  • É um postulado básico: Governo popular q faz concessões à burguesia, pede pra ser derrubado!

    • Exato! Aliás, a maior "burrada" (de longe) foi não ter acabado com o monopólio da Rede Goebbels. Burrada do PT (Lula e Dilma), e não somente da Dilma.

      • Deixe de sonhar,cairia em dois minutos por menos derrubam.pra acabar com essa sina só a força das armas mas quem está disposto?passamos vergonha diante de uma criança Cubana.Muito mais fácil foi a transposição das águas. porque a mídia ficou calada.Entenda no Brasil não temos elite temos gente rica defendida pela toga fascista.

  • Burrada economica mesmo, mas é o tal negocio: uma vez iniciado um ciclo de renúncia fiscal em favor de grandes grupos - tipo o automotivo - o beneficio é sempre renovado no vencimento por causa dos empregos e tal. Quando em 2015, no pos eleição era preciso anular isso, uma recessão por vácuo fiscal viria em de qualquer jeito.
    Ai em janeiro o derrotado Aécio se rebela e o empresariado embarca no ''nao vamos investir nada'', e "Fora Dilma," Em fevereiro, Eduardo Cunha manobra e hoje se sabe COMO, para presidente da câmara.
    A vazajato assume o noticiário a partir da plimprim.
    O resto já é Historia.

  • O grande erro de Lula, Dilma e de qualquer outro presidente realmente interessado no progresso do país e melhoria da situação de seu povo é não fechar, por bem ou por mal, a globo e descer o porrete no resto da imprensa golpista. Na hora em que entreguistas, golpistas, corruptos e membros da justiça partidarizada perderem o apoio desta mídia escrota, as coisas vão começar a andar.

  • Tem mais um erro crasso na nossa carga tributária: tributar excessivamente o CONSUMO, e ter tributos de RENDA e PROPRIEDADE fraquíssimos!

  • O que me surpreende não é a "burrada", é a ingenuidade de Dilma. Viveu quanto tempo por aqui? É de uma inocência praticamente infantil achar que nosso empresariado iria repassar ou investir todo o dinheiro grátis que ganhou do Governo... Pelo amor de Deus!

  • Um(a) presidente(a) da república não tem o direito de ser ingênuo e infantilmente confiante.

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