O PIB já foi, o que vem é bem pior

É o mais comum da natureza humana, diante dos grandes problemas, agarrar-se ao otimismo, à crença, à chegada de soluções mágicas para o que a sua razão não consegue resolver.

Estamos diante de um destes momentos, sem dúvida.

Como tudo em volta de nós – doença, morte, a opressão solitária a que estamos obrigados, a crise, a miserabilização do Brasil – é desastroso, queremos, quase sempre, agarrar-nos mais às esperanças que aos fatos.

Mas os fatos não permitem qualquer otimismo.

Já escrevi aqui que o lockdown – sim, sempre “meia-boca” , porque é apenas assim que a falta de energia política destes tempos permite – seria inevitável .

Está acontecendo e São Paulo volta ao máximo de restrições que a política concede à ciência.

Os indicadores econômicos, que se salvaram, ainda que estropiados, em 2020 graças ao auxílio emergencial, estão assinalando que vamos começar o segundo mergulho em condições piores do que as do ano passado.

Agora temos uma inflação alta, o dólar (“lambendo” os R$ 5,75 neste momento) muito elevado, o desemprego maior do que então e um sistema produtivo às voltas com uma alta das matérias-primas que é quatro ou cinco vezes maior que a inflação oficial.

Sim, “há” a vacina mas, ao menos que acreditemos que todas as doses que se anunciam vão, de fato, ser compradas (e isso anda de um jeito que, se somarmos todas as promessas, já “temos” um bilhão de doses) a vacinação, ainda que dobre a velocidade atual, levaria um ano e meio para imunizar 75% da população.

No campo da política, dispensemo-nos de falar de Jair Bolsonaro e atentemos para o evidente desastre que virá da presença de Artur Lira na presidência da Câmara. Em um mês, a coleção de derrotas é vistosa e o autoritarismo com que ensaia conduzir a Casa só rivaliza com a ineficácia do que sai de lá: invariavelmente legislação de “esperteza”, que proclama o inverso do que se fará.

Mas o presidente garante que estamos bem preparados para a batalha. Temos cloroquina sobrando, vamos buscar o spray milagroso e, se isso não bastar, temos atiradores muito bem armados, graças aos decretos que baixou.

 

 

 

 

 

 

Fernando Brito:
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