Flávia Lima, a ombudsman da Folha, chama hoje, em sua coluna, a atenção para a indulgência da mídia para com a (su)posta candidatura de Luciano Huck à Presidência, muito bem definida por ela como “o sonho de um grupo de tucanos da velha guarda”.
De fato, trata-se de um fenômeno paradoxal, o da “originalidade repetida”.
Pode-se buscar o mais remoto antecedente da fracassada candidatura de Sílvio Santos em 1989, providenciada às pressas pelo gruo que ficaria conhecido pela simpática expressão de “Os 3 porquinhos” – Hugo Napoleão (na época governador do Piauí), Marcondes Gadelha (deputado pela Paraíba) e Edison Lobão (senador pelo Maranhão), como forma de substituir a candidatura de Roseana Sarney, abatida pelos maços de dinheiro da Operação Lunus.
Mas basta ficar no fato de que Huck é uma “novidade” tão velha que vem desde 2017, quando a direita pressentia a fraqueza dos nomes de que dispunha para a eleição presidencial e Jair Bolsonaro era uma presença lateral e folclórica no processo de escolha presidencial. O apresentador passou meses ameaçando colocar o pé na canoa da candidatura mas preferiu continuar a pô-lo em seu luxuoso iate.
Não obstante, observa ela, o apresentador é presença “recorrente nas páginas de política dos jornais e regularmente agraciado com espaços para escrever sobre tópicos de sua escolha”, sem ter de responder perguntas sobre o que pensa, com quem pretende alinhar-se e porque disse, nas eleições de 2018, que “Bolsonaro tinha uma chance de ouro de dar novo significado à política no Brasil e quais foram os motivos que o levaram posteriormente a se surpreender com o comportamento do presidente”. Ou, acrescento, as razões de “desparecer” com os beijos e abraços a Aécio Neves.
Huck não precisa disso por ser o que, lá nos meus tempos antigos, era daqueles sujeitos que as “famílias” achavam admirável: o “bom rapaz”, qualidade que se adquiria por ser rico, ter boa aparência, nenhuma opinião e muita simpatia.
E, por isso, tinha direito a liberdades que os ‘gentinha’ nunca poderiam ousar.
Mesmo com uma vida pública limitada a sorteios de sabão, lanternagem em fubicas e a distribuir “um qualquer” para jovens ambiciosos que querem entrar na política – serve qualquer partido, pecunia non olet – o perfil de Huck isso não importa a senhores decaídos, como Fernando Henrique Cardoso, que certamente gostariam a se tornar, de novo, consultores da República.
Claro que, na prática, o “bom rapaz” era ou um bobo ou um finório, que ser servia desta capa para conduzir ao que, naquelas priscas era, chamava-se “o mau caminho”.
Aparentemente, porém, este risco não corremos, porque o “popularíssimo” Huck faz três anos e pico que não decola em pesquisas.
Tem mais bico do que asas.