O powerpoint e a tatuagem

É óbvio que não se vai comparar, do ponto de vista físico, o ato de tatuar a testa de um rapaz drogado que estaria tentando roubar uma bicicleta com o de um procurador da República que exibe,  em rede nacional de televisão, slides  de um powerpoint acusando alguém de ser o “chefe da cleptocracia”.

Mas não há dúvidas de que o objetivo é o mesmo: tomar a si o poder de julgar e o de promover a execração pública de alguém, marcando visualmente sua testa ou o seu nome com o estigma de ladrão com base apenas em suas próprias razões.

Em ambas as situações, não faltam os elogios e aplausos dos fanatizados, dos cheios de ódio, dos festejadores do “escracho”, esta praga que tomou conta da vida brasileira.

Mas há uma diferença essencial: os dois torturadores que recriaram – da versão tatoo – as marcas a ferro quente dos campos de concentração nazistas são dois sujeitos primários, embrutecidos como tanto e, felizmente, cruéis como poucos.

Na outra cena, que o fez sabia perfeitamente, por estudos e profissão, que o ser humano não pode ser vítima de linchamentos, nem físicos, nem  morais.

E o fez, deliberada e meticulosamente, por convicções, aquilo que já seria inadmissível por provas.

Atos assim, como tantos outros feitos pela mídia ou por autoridades públicas com o dever do equilíbrio certamente ajudam os monstrinhos da tatuagem acharem que é normal e bom fazer seu tenebroso powerpoint na testa de alguém.

Fernando Brito:

View Comments (19)

  • Exemplo disso são os casos de rasparem as cabeças dos presos. Já seria uma agressão só pelo fato em si, ainda mais quando o preso não está nem condenado. A bestialização parece normal à essa sociedade doente.

  • O Lhula não é nada santo, mas o que fizeram (e estão fazendo) com ele, é típico de ditadores querendo, e conseguiram, tomar o poder.

    • Tens razão, Lula não é nada santo, é torneiro mecânico e ex-presidente do Sindicato, do PT e da República, "Santo" é o leguminoso, como o pai da sorveteira é o "Careca".

  • Texto irretocável!
    Muito pertinente a comparação.
    .
    Só queria acrescentar que a única diferença é que os MONSTRINHOS da tatuagem vão pagar pelo que fizeram. Pois são pobres e anônimos. (nenhuma peninha deles, tem mais é que pagar mesmo, com todo o rigor da lei).
    .
    Já o MONSTRO de Curitiba provavelmente, não.

  • O ditado diz "que aquí se faz e aquí se paga"Acredito que numa volta ao Estado Democrático de Direitos a atitude intencional, maldosa e truculenta daquele procurador imitando aos inquisidores da Inquisição e aos agentes da Gestapo alemã, será objeto de um devido processo legal.Leia sobre os processos em Nuremberg

  • Só faltou esse procuradorzinho dizer que fala diretamente com Deus. Num Estado Laico, como o nosso, isso de misturar politica com religião deveria ser punido com 10 anos de prisão. É a inconsistência da bancada evangélica, que prega uma coisa e faz outra.

  • A comparação é interessante mas a responsabilidade do estudado promotor não se compara ao do outro bandido, doublé de tatuador.Esse estudou para combater o que ele mesmo fez. O outro, às vezes tenho pena que a civilização nos tenha obrigado a rechaçar a Lex Talionis. Ambos são covardes e querem dispor de um poder transitório para execrar o seu próprio condenado, em uma carroça de madeira, em praça, hoje transformada em redes sociais e em redes de tv.

  • Deus me disse que nunca ouviu falar do concurseiro,disse ,nas palavras Dele, " deve ser clone ..ou programa de auditório que vivificou....""

    Fiquei na minha ,dizem que Deus sabe o que fala,fico na dúvida se Ele sabe o que faz...

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