O que nos arruina não é o gasto público, é o rentismo privado

Escrevi ontem aqui que sem investimentos públicos – o que não teremos – não há recuperação econômica que passe da espuma da especulação financeira.

Você certamente já cansou de ler e ouvir, na mídia, que foi a “gastança” petista e a pretensão megalomaníaca de atirar-se a novos projetos (refinarias, transposição do S. Francisco, hidrelétricas, ampliação da rede de universidades, habitação, etc) que nos levou à situação de penúria orçamentária em que nos encontrando, acumulando déficit imensos.

É balela, e das grossas.

O Valor publica hoje esta tabela elaborada com dados do Observatório de Política Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), onde o Brasil ostenta a nada animadora penúltima posição em investimento público numa amostra de 42 países, em matéria de investimentos públicos, entre 2000 e 2017, periodo que claro, engloba todos os governos petistas.

E vai piorando:

Após 2014, porém, o investimento público por aqui recuou com força, devido à crise fiscal da União e também de Estados e municípios. Com isso, a distância entre esses dados para o Brasil e para outras economias aumentou. Em 2017, as três esferas de governo investiram o equivalente a 1,16% do PIB, o menor nível da série iniciada em 1947.

É pouco mais de um terço da média mundial, e com reflexos que poucos acham estar relacionados ao nosso dia a dia, como explica Manoel Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal do Ibre/FGV.

 “Não é à toa que estamos observando desabamento de estruturas públicas como pontes e viadutos em algumas grandes cidades do país”, escreve ele. “Os problemas causados pelas enchentes também têm causado perdas de vidas, congestionamentos e muitos transtornos na vida dos brasileiros.”

O que consome e arruína as finanças públicas brasileiras não é o investimento público, é um sistema financeiro perverso, que drena não só o dinheiro público, mas também a rentabilidade do trabalho e da produção e, com elas, a capacidade contributiva de empresas e do cidadão. Somos governados por um “mercado” parasitário, totalmente desligado da economia material e que ganha sempre, estejamos em expansão ou em recessão.

Fernando Brito:

View Comments (7)

  • Simples assim.
    O estado brasileiro é escandalosamente mínimo. Para o mal.
    Só quem se dá bem por aqui é a elite financeira, rentistas e especuladores.
    Começou a se modificar essa situação nos governos do PT. Mas para se evitar isso, os favorecidos, com a cumplicidade da grande mídia e de boa parte do judiciário, fizeram lavagem cerebral no povo, para enxergar como errado tudo de certo que o PT fez.
    E com isso, a partir de 2014 conseguiram fazer o Brasil retroagir para o início do século passado, por volta de 1900.
    Será que um dia as pessoas que se deixaram manipular pela grande mídia vão se dar conta disso?

    • Pode ter certeza que não... são os idiotas úteis, ignorantes e extremamente teimosos... Guiam-se pela mídia corrupta e não possuem capacidade crítica... Parecem torcedores de futebol...

    • Não. Esse povo é mais burro que o imbecil e filhos que conseguiu eleger. Agora está como quer.

  • O novo governo será de banqueiros, empresários (ambos de passado nebuloso), evangélicos fundamentalistas, militares, policiais, e ruralistas. Que compromisso esta gente terá com o povo?

  • O mercado é só um meio de escravizar a população, sem chicotes, sem chibatas, mas pelo medo de não ter o que comer. Pagamos juros de dívidas que não escolhemos fazer, pagamos salários altos para políticos e juízes em forma de impostos, não recebemos saúde e educação. Um povo não educado não sabe o que é ter direitos e não tem meios para reclamar. Se o Brasil fosse igualitário não iria existir o tal "Sonho Americano" nos EUA.

  • O que desanda o Brasil é o gasto com o JUDICIÁRIO de 1,5% do PIB.
    Se gastássemos como a Alemanha 0,4% do PIB, com o judiciário, teríamos mais de 3% do PIB para investimentos, o que nos colocaria na média diante do mundo.

  • Repetimos aqui em verde-e-amarelo a experiência catastrófica dos EUA da era Bush. Oba-oba financeiro patrocinado pela União, e auxiliado por uma classe politica chupim. Não é de se dizer que os EUA aprenderam a lição, afinal em politicagens dignas de fazer o Cunha corar o Estado resgatou os banqueiros ladrões (mas só os amigos da família Bush) às custas do povo americano. Mas aqui seguimos, com uma defasagem de pelo menos quinze anos, a mesma receita da economia do Tio Sam: rentismo pago pelo Estado e à revelia do Estado, mas no final quem arca com as consequências é o povão fodido que fica sem emprego e na lama por falta de infraestrutura.

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