Uma amiga me conta que a mãe telefonou para saber como ela tinha ficado “durante o apagão”.
– Mãe, aqui não teve apagão!
– Mas como, minha filha, deu no jornal!
– Mas não teve. E aí, teve?
– Não. aqui não faltou luz, nem lá na sua tia fulana que falou comigo agora, lá de Florianópolis.
– Pra você, mãe, aprender a não acreditar em tudo o que sai no jornal…
Detalhe: esta amiga é jornalista.
Como é jornalista, dos melhores, o veterano Luciano Martins Costa, que publica, no Observatório da Imprensa, uma trágica crônica sobre a forma e a escala de destaque do que sai nos jornais brasileiros.
Que me consegue traduzir o nojo com que li a chamada “Dom Evo I”, na manchete de O Globo, um deboche contra a autenticidade de um índio, Evo Morales, assumir a presidência do país segundo a tradição de seu povo – e seu povo é a imensa maioria do povo boliviano.
E que registra, com explicitude, o tratamento esquizóide com que se analisa a política econômica.
O que é “bom”, é Levy. O que é “ruim”,mesmo sendo bom, é Dilma.
Quem sai no retrato
Os jornais de quinta-feira (22/1) refletem uma circunstância corriqueira na relação da imprensa com o poder político e reproduzem o estado de guerra que domina o ambiente midiático. As manchetes e outros títulos de destaque nas primeiras páginas procuram exacerbar as dificuldades da economia nacional, ao mesmo tempo em que tentam colocar o problema de abastecimento de água em São Paulo na conta das mudanças climáticas.
O conjunto de notícias e opiniões que os diários apresentam como a síntese do período induz o leitor a acreditar que o Brasil é um comboio em direção ao abismo, e que o condutor, o ministro da Fazenda Joaquim Levy, está tomando as providências para reduzir a velocidade e desviá-lo de volta para o trilho do desenvolvimento. A presidente da República, responsável pela estratégia que o ministro deve administrar, é citada quase exclusivamente no meio de declarações sobre o escândalo da Petrobras.
Há espaço, ainda, para a fotografia do presidente reeleito da Bolívia, Evo Morales, envergando a bata tradicional na cerimônia indígena que antecede sua posse. Com exceção do Estado de S. Paulo, os jornais expõem na primeira página a imagem de Morales junto a xamãs nativos, acompanhada de textos que mal dissimulam o preconceito. No Globo, o título do conjunto é: “Dom Evo I”. Na Folha de S.Paulo, o título chega próximo da zombaria: “Pelos poderes de Evo”, diz o jornal paulista.
A imprensa não suporta essa coisa de indígena fora de reservas, ocupando palácio de governo e resolvendo problemas centenários de seus países.
Como se vê, há uma série de elementos a serem observados nas escolhas dos editores. Um dos aspectos mais interessantes é o posicionamento que a imprensa faz dos principais protagonistas da cena pública.
Evo Morales, que vai para seu terceiro mandato com um histórico de êxitos na recuperação da economia e da autoestima dos bolivianos, é retratado como uma aberração excêntrica, numa América Latina cuja elite se imagina europeia. A presidente do Brasil vira personagem secundária na crônica do poder. Por outro lado, o governador de São Paulo, responsável direto pela crise que ameaça o bem-estar de milhões de cidadãos, é retirado de cena quando deveria estar respondendo perguntas incômodas, porém cruciais.
Racionamento de fato
Se a imprensa aprova as medidas anunciadas pelo governo federal, o destaque vai para o ministro da Fazenda. Se a imprensa se vê na contingência de reconhecer o descalabro na gestão dos recursos hídricos e no sistema de distribuição de energia em território paulista, o foco vai para auxiliares do segundo ou terceiro escalão. O governador Geraldo Alckmin aparece apenas para criticar a empresa responsável pela gestão da energia, AES Eletropaulo, numa clara manobra para criar um novo foco de atenção e desviar do Palácio dos Bandeirantes o olhar crítico do público.
O isolamento da presidente Dilma Rousseff no noticiário sobre medidas econômicas (que a imprensa apoia) vem acompanhado de comentários que amplificam supostas reações de dirigentes de seu partido às medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda. Assim, o leitor é induzido a pensar que Joaquim Levy conduz a economia à revelia da presidente e contra a orientação do partido que a reconduziu ao poder.
No caso paulista, quem vai para a frente da batalha comunicacional é o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, que em artigo na Folha de S.Paulo tenta convencer o cidadão de que não há racionamento de água, mas pode vir a acontecer. Aproveita para reconhecer que a principal causa da crise hídrica é a fartura de vazamentos na tubulação. São 64 mil quilômetros de tubos enterrados sob o asfalto da região metropolitana, uma extensão correspondente a uma volta e meia em torno do planeta.
O presidente da Sabesp só não explica por que seu chefe, o governador Geraldo Alckmin, não exigiu que a empresa corrigisse essa deficiência desde a primeira vez que ocupou o Palácio dos Bandeirantes, em 2001. E a Folha de S.Paulo esquece que publicou no dia 12 de outubro de 2003, um domingo (ver aqui), uma reportagem na qual alertava para o fato de que, se nada fosse feito para reduzir as perdas, a região metropolitana só teria água até o ano de 2010.
Nada foi feito. Tudo que sai dos mananciais do sistema Cantareira se perde nos vazamentos. A Sabesp raciona a água, a imprensa faz o racionamento dos fatos.
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Fosse o Evo um sheik árabe, trajado à rigor e dono de uma fortuna bilionária de petrodólares, eles respeitariam, pois os magnatas da mídia familiar parasita poderia cruzar com eles em algum convescote de elites, em algum iate milionário.
Um preconceito digno de neocolonialistas servis. O Brasil não quer mais esta mídia vendida e à serviço do capital internacional.
Quem vencerá ? A mídia ou o povo ?
Fiz o sacrifício de assistir o decadente Jornal Nacional. Não acreditei no que vi… Não dava pra ver a diferença entre as reportagens e a propaganda eleitoral do PSDB. A Globo perdeu a vergonha de vez. Assumiu que faz política de oposição ao governo. As estratégias de manipulação ficam tão evidentes, que só sendo muio ingenuo para acreditar nesse ipo de jornalismo.
Já tem tempo que é assim, Luciano. Às vezes também, tampo o nariz, tomo um remédio para enjoo e vou ver até onde vai a desfaçatez, a cara de pau de William Bonner Simpson e suas auxiliares, cheios de caras e bocas para louvar a oposição e execrar o PT e o governo. E o que vemos é esse nojo aí que você descreveu, travestido de jornalismo.
Não se preocupem muito, que o Netflix, o Amazon e o Google já estão dando um geito no PIG. É só dar tempo ao tempo e claro lutar pela Lei dos Médios no Brasil.
Netflix, Amazon e Google são tão PIG quanto qualquer Rede Globo.
Alias segundo o conselho da "amiga" jornalista, não acredite no que sai nos jornais, muito menos em certos blogs.
Mas outras coisas não tem "geito" de evitar.
EU já retirei a REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES da programação da minha TV faz tempo. Não sintonizo na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES nem para assistir futebol. Minha qualidade de vida melhorou bastante depois disso. Recomendo.
"O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES - O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS"
Fernando, e agora que a mídia chacrinha decretou que o reservatório Paraibuna, da CESP, no estado de SP, destinado basicamente a geração de energia, virou o "maior reservatório do Rio de Janeiro"? Ok que ele e o Jaguari alimentam o Paraíba do Sul, mas é necessário ver o nível dos outros reservatórios que existem até o sistema Guandu, principalmente Santa Amália e Ribeirão das Lajes, além do nível do próprio rio em Barra do Piraí, em vez de sair alardeando que o abastecimento da região metropolitana do Rio já está usando volume morto do Paraibuna (a quase mil quilômetros de distância fluvial).
Outra confusão deliberada: misturar volume morto de represa de hidrelétrica com volume morto de captação de água; aquele é muito maior, já que há de se respeitar uma coluna d'água mínima para geração eficiente de energia. Além disso, mesmo no Paraibuna há vazão de saída. Mas as notícias dão a entender que na saída da represa o Rio Paraíba do Sul está seco, já que não passa água pelas turbinas, ignorando que há vertimento.
Se possível, escreva um post sobre o tema.
Se deixarem a globo SBT BAND e toda a mídia televisiva vão continuar mentindo todos os dias prestando informações falsas ao povo brasileiro sobre as nossas águas rios e energia se o governo não tomar providencias de exigir que eles se retratem.
O posicionamento da midia brasileira é claramente preconceituoso. As manchetes já tomam conta de alardear o que é "feio" e o que é "ruim". O bonito e o bom são os modelos que espelham os colonizadores, sua estética e seus conceitos.
Apesar de não haver qualquer semelhança entre o povo brasileiro e os modelos ditados nas manchetes, muitos brasileiros leitores de manchetes absorvem o preconceito na rápida leitura dos títulos nos jornais expostos nas bancas. Às vezes de dentro de um ônibus, às vezes na passagem apressada pela banca o "leitor" brasileiro forma conceitos sob o raio cruel e subliminar da manchete com o comando da elite.
Motoristas de taxi, em geral são vítimas fáceis das mensagens diretas e carregadas de preconceito emitidas pelas redações. Quem nunca comprou, nem folheou um jornal ou uma revista imediatamente passa a manifestar um comportamento preconceituoso elitista e restritivo contra sua própria raça, sua condição social e sua aparência.
Regulamentar a midia é libertar as pessoas que são presas fáceis da ditadura das manchetes.
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************* Abaixo o PIG brasileiro — Partido da Imprensa Golpista no Brasil, na feliz definição do deputado Fernando Ferro; pig que é a míRdia que se acredita dona de mandato divino para governar.
Lei de Mídias Já!!!! **** ... "Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma" *** * Joseph Pulitzer. **** ... ... "Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo" *** * Malcolm X. ... ... ... Ley de Medios Já ! ! ! . . . ... ... ... ...
A mídia grande é um LIXO ! Assim como vem sendo um LIXO os primeiros dias de governo (?) Dilma, medidas esdrúxulas, recessivas que gerarão desemprego e arrocho.
Veto a correção da tabela escorchante ( ou seria escrotante ) do IRPF em 6,5% após anos e anos de maquiagem, enquanto as montadoras embolsaram bilhões em impostos desonerados.
A Europa injetará um trilhão de euros via BCE para salvar sua combalida economia , aqui se saúda arrocho fiscal, aumento de tarifas públicas, aumento de juros, aumento de impostos ( incidente sobre os pobres) e restrição monstruosa de benefícios sociais.
Parece que foi o Aécio que ganhou a eleição ! E pensar que perdemos tanto tempo defendo a Dilma para isso que está ai !
Bem disse a Luciana Genro, que a Dilma e o PT faria tudo q
Bem disse a Luciana Genro que a Dilma e o PT fariam tudo que diziam que o Aécio e o psdb fariam.
Enquanto isso o Syriza avança na Grécia e o Podemos na Espanha, aqui necessitamos urgentemente de uma alternativa de esquerda, social e democrática para por fim ao cinismo de um partido que caminha celeremente para o fim.
Pura desfaçatez, traição e ladroagem, como seu siames o PSDB do Alckmin, Serra e Aécio, ambos atolados até o pescoço com o PMDB que vai de Sarney a Temer e Eduardo Cunha.
Desse barco estou pulando fora, pois a vida "não é só comida" !
ontem dia 22/01/15 vi o manchetrometro do jornal extra em letras garrafais .RIO NO FUNDO DO POÇO.pensei logo,não sera são paulo.comprei o jornal e la estava mais um especialista ,ex presidente do ceivap, dizia que se,porem ,toda via,la pro fim do ano iria faltar agua no rio de janeiro,que mananciais secariam.edilson de paula andrade o especialista do caos,
MUSEU DE ARQUEOLOGIA DE XINGÓ - MAX
Hoje é sexta! Dia de relaxar um pouco da luta política. E se isso puder acrescentar cultura, melhor!
Eles estavam aqui antes dos fenícios inventarem a escrita. Conheça os sertanejos do Velho Chico na visita virtual ao MAX. No Reino de Clio!
http://reino-de-clio.com.br/index.html