O risco “Belíndia” da Covid-19

O economista Edmar Bacha, um tucanésimo “pai do Cruzado”, tornou-se conhecido por cunhar, nos anos 70, a expressão “Belíndia” para definir o Brasil: um país que tinha uma pequena parte da população com altos níveis de vida, como na Bélgica, e multidões miseráveis, como a Índia.

Quando você olhar a explosão de casos de Covid que está acontecendo naquele país asiático, com 260 mil casos confirmados de contaminação ocorridos só ontem – não deixe de ter em mente esta comparação.

Principalmente quando lê o alerta, publicado hoje na BBC, do cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt de que as medidas de restrição à circulação estão sendo revogadas de forma “bastante precipitada”,o que cria o risco de “criar uma explosão muito maior de casos”. Fui buscar no Twitter de Isaac os dados do Google sobre a redução de circulação de pessoas, com base na localização de seus aparelhos de telefonia celular, que estão aí em cima.

O movimento nos locais de trabalho está praticamente nos níveis normais pré-pandemia e em algumas áreas do comércio (farmácias e supermercados) até acima do que se registrava antes. Em todas as áreas, como ele destaca, o movimento vem subindo desde a Semana Santa.

O lado “Índia” do Brasil é extremamente suscetível, como lá, a explosões de contaminação, pela aglomeração doméstica e pelo confinamento em vielas e ambientes estreitos. Dos ônibus e trens em que as pessoas de menos recursos têm de se apinhar para irem ao trabalho, nem se fala.

Tudo o que já é grave no lado belga do Brasil, acontece de forma catastrófica no lado indiano.

O fato é que, por não fazermos um lockdown digno deste nome, além de não resolvermos os problemas da economia – onde estão os créditos para comerciantes e microempresários e os programas de preservação de empregos? – estamos sujeitos ao risco que este esta “Índia” brasileira, que existe fora dos ambientes higienizados da elite, provoque novas centelhas de contaminação, velocíssimas: do início do mês os casos dispararam de 60 mil para 260 mil e as mortes, de 460 para 1.460.

Fernando Brito:
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