O sangue é o fruto da diplomacia do confronto

 

Não se trata de ser condescendente com os erros do regime venezuelano, mas de não os usar para produzir novos, tão graves quanto os anteriores e mais ainda, o de justificar outros.

A situação econômica da Venezuela  é certamente grave e a diplomacia do confronto multiplicou a gravidade por diversas vezes, criando embargos para a venda do petróleo – a quase única fonte de receitas do país – , impedindo-os de comprar remédios, alimentos e outros artigos essenciais ao abastecimento.

A situação política da Venezuela é, também, certamente grave, com o país polarizado, tomado pelo ódio – algo que agora estamos começando a compreender como é danoso – e a diplomacia do confronto também só fez multiplicar isso, quando se escolheu exclusivamente um lado que que sequer tem o controle físico do país e proclamou-o um “governo de mentirinha”.

Fomos atropelando, um a um, os marcos de pressões políticas civilizadas, como têm sido a tradição dos últimos 40 anos. Fizemos letra morta dos princípios de autodeterminação dos povos e juntamos governos – o nosso, inclusive – a defender uma intervenção militar sobre a Venezuela, sem sequer o pudor de ocultar o desejo que ela viesse dos Estados Unidos, aluno repetente de experiências golpistas, pelas mãos da mesma diplomacia do confronto, aquela que nos tira qualquer possibilidade, pois nos obriga ao alinhamento automático com um lado e a oposição total a outro.

O resultado disso foi o que se viu, ontem, em Caracas.

Aos olhos da direita, o melhor seria uma quartelada bem-sucedida, o que não ocorreu. Para outros, o resultado melhor a ser alcançado é a total militarização do regime de Caracas, o que não parece estar longe de acontecer.

Nosso país, com seu peso na América Latina capaz de dar-lhe a condição natural de coordenador da comunidade de nações, é reduzido a um coadjuvante de – vá lá, por boa-vontade, de segunda linha.

Nosso vizinho, com o qual já tivemos uma importante relação comercial, já não existe em matéria de destino dos nossos produtos e serviços.

E o pior, está lançado a uma situação de instabilidade, de violência e de impasse político aparentemente insolúvel.

No meio de tudo isso, o sr. Bolsonaro vem falar em “declaração de guerra”, embora improvável. De forma, aliás, além da insanidade,  absolutamente ignorante em matéria legal. Era algo que há 80 anos não se ouvia e  – mesmo na declaração de guerra ao Eixo, onde houve uma reação ao torpedeamento de navios brasileiros – sem que tenhamos sofrido nenhuma agressão militar.

Não se trata, como se disse ao início, de julgar o governo Maduro. Trata-se de julgar o governo brasileiro e sua enxurrada de erros e irresponsabilidades.

A diplomacia do confronto já nos chamaria ao desastre. Com personagens do tipo que temos no comando do país, nos ameaça lançar no meio de um banho de sangue.

 

 

 

 

 

Fernando Brito:

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    • Sim. Será que ninguém percebeu que o "gestinho" da campanha não era uma pistolinha, mas uma metralhadora. Pode-se xingar o Bozo de tudo, menos de mentiroso. Tudo o que está fazendo foi dito (ou urrado) durante a campanha.

  • Maia lembrou ao capitão que não é exclusiva dele coisissima nenhuma a decisão de intervir militarmente na Venezuela. Pegou até leve com ele porque se desrespeitar o congresso é um caso clarissimo de impecheament.

    • Nosso presidente deve ter levado uma "prensa" da turma de Washington para se manifestar e mostrar apoio à intervenção.....Como não leu a Constituição, meteu os pés pelas mãos....Ué, nosso governo não foi aos EUA prestar vassalagem a Dom Trump I???Então...agora está sendo cobrado para prestar serviço nas guerrinhas do império.Vassalos servem para essas coisas.

  • Quando durante os governos petista os golpistas canalhinhas diziam que o Brasil acabaría como «uma Venezuela» , antes do horror, o que expressavam de verdade era um desejo. É que não contavam com a expertise de nossos golpistas puro sangue e sua «tecnologia da destruição» e de controle. E imaginavam que precisariam de Leop(ó)ldo Lopez, de um Guai(da)dó e do auxílio nada luxuoso dos yankees. Os golpistas venezuelanos invejam mesmo os golpistas brasileiros.

  • A Venezuela não está ameaçando o Brasil em nenhum sentido. O capitao está insuflando o país a entrar em guerra com a Venezuela intervindo nos assuntos daquele país o que pode vir a obriga-los a retaliar. A intenção do capitão ficou clara já que seu filho foi para a fronteira da Venezuela ontem. Além disso, ele disse que a decisão de intervir militarmente na Venezuela é exclusiva dele como se o congresso não existisse Portanto, é preciso avaliar se essa conduta pode ser um caso para impechameant.

  • O dia em que a vida desses valentões estivesse pessoalmente ameaçada por causa de um conflito militar, acho que saberiam ser mais diplomáticos. Mas olhando de perto, qual é a situação histórica que justifica algum conflito militar? O sufoco artificial imposto é um dos recursos mais daninhos. Há um ano quando rolou a grevezinha do caminhão a gente viu uma casquinha de ponta de iceberg.

  • Bom dia, Fernando.
    Muito se fala sobre os erros do governo venezuelano mas, afinal, quais são mesmo estes erros?

    Abrs.
    Deusdédit Ramos

  • Ante à ameaça de invasão, para a espoliação, de um inimigo externo e seus satélites, não caberia outra solução que não fosse o recrudescimento da militarização do país para o enfrentamento de uma guerra que se avizinha. A não ser que os militares venezuelanos desistam de seu país e de defender a sua soberania e suas riquezas, as quais, neste caso, são invejáveis e cobiçadas não apenas pelo Império Central, mas também por outros.
    Espero que os militares venezuelanos não se inspirem em seus pares brasileiros, que optaram pela subserviência e ao entreguismo. Mas, espero também, que a militarização do país vizinho não se restrinja aos militares de carreira e que seu povo se arme em defesa de sua dignidade e defenestre por vez de seu país os traidores da pátria, além dos invasores.

  • BOZO se vale do MEDO.

    Faça-se de frango e acabará numa CANJA.

    Erram os democratas que esperam a virada pelas urnas. Erram os conservadores que serão INCAPAZES de deter o aparelhamento, o desmonte e estragos que estão havendo.

    A MAIOR covardia do regime militar foi não ter ENJAULADO quem, depois da anistia, se mostrava arredio e de espírito terrorista, tipo o TENENTE JAIR ..a maior OMISSÃO da democracia, foi ter feito vistas grosas aos fascistas que, de dentro, a agrediam e corroíam e CRIMINALIZAVAM a política.

    Erros e mais erros que o tempo nos cobra.

    Um pesadelo.

    em tempo - por insuflar o país contra outros povos o CAPITÃO comete crimes não só contra a lei 7170, mas contra a Constituição tb.

  • Falar em erros do regime venezuelano, atribuir à diplomacia venezuelana o agravamento da crise econômica, dizer que situação política grave com o país polarizado, tomado pelo ódio, esbarra na pieguice e, pior, joga água no moinho dos minúsculos e relativamente muito poucos golpistas de lá. Análise sem profundidade é risco n'água e só serve à direitalha. Se aproveita à DIREITALHA, nos prejudica. Ademais a Globo (tv, rádio jornal) são imbatíveis nisso.

    Por favor, não se desrespeite, estimado Fernando Brito. Prefiro as suas análises do panorama brasileiro, que são excelentes e sempre num texto limpo e elegante.

    Não vivemos num mundo de sonhos, erros há em todo lugar e todo mundo erra. Os EUA não só erram; cometem crimes. Todos os dias em toda a parte do planeta e contra todo mundo. Na Venezuela há muitos criminosos, quase todos do lado dos gringos.

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