O segundo turno já pega carona no primeiro

É provável que a pesquisa Ibope de hoje à noite já aponte um empate estatístico entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.

Não se trata de “chutar” números, apenas de observar as linhas que se desenharam em pouco menos de um mês, desde que surgiram os fatos relevantes na eleição: o ataque a faca a Bolsonaro, no dia 6 e a entronização de Fernando Haddad como candidato apoiado por Lula, não nas crônicas políticas, mas onde isso influi: na TV e  no rádio.

Bolsonaro, na semana passada, já havia interrompido sua trajetória de alta; Haddad continuava escalando os índices de intenção de voto.

O segundo turno começa a lançar sua presença sobre o primeiro round das eleições e os imensos movimentos do #EleNão foram a maior evidência disso.

Não atingiram, claro, o “núcleo duro” da campanha bolsonarista, formado por grande parte dos 30% que votariam (e já votaram, com Collor) em qualquer candidato de direita, por mais tosco que fosse.

Mas tornaram muito mais difícil que ele possa se expandir por outros setores da classe média e até entre os candidatos que, daqui a uma semana, estarão fora da disputa.

Hidrófobos, os chefes do bolsonarismo – até mais que o próprio candidato – não conseguem controlar o seu radicalismo furioso e virão mais episódios de misoginia, grosserias e agressões brutais.

Uma bobajada, como a que veio me dizer, na fila do banco, uma senhora que repetia que “nossa bandeira jamais será vermelha”. Eu apenas perguntei  se ela estava falando dos comunistas “feito o Fernando Collor”, aquele que tinha tirado o dinheiro da poupança da classe média. Saiu bufando, a coitada.

O discurso do medo, a ridícula escolha de uma “venezuelização” do Brasil, nada disso tem poder eleitoral, embora seja necessária uma articulação ampla para evitar que se torne, na Avenida Paulista e nos quartéis, fachada de uma nova ofensiva golpista, de recusa ao resultado das urnas.

Para quem enxerga a política além de algo como uma paixão clubística, esta já não é uma escolha de preferências pessoais. É, como expressa em sua carta, o ex-presidente Lula, uma “disputa entre civilização e barbárie” na qual  “deve-se escolher um lado”.

É legítimo e respeitável caminhar com outras candidaturas, nas quais até se imagina encontrar contendores mais fortes para enfrentar o adversário fascista.

Mas quem forma no campo popular tem, como primeiro dever, estar ao lado do povão e aceitar o terreno da luta que ele escolhe.

Ele escolheu e cabe a todos saber que o muro é para os covardes e para cúmplices envergonhados.

Fernando Brito:

View Comments (24)

  • Onde, quando e como a venezuelização do Brasil promovida pelo PT?

    Seriam mais honestos se dissessem que não gostam do Lula e ponto.

  • Está difícil fazer prognóstico. #elenao e Haddad disputarão o segundo turno, mas quem terá mais votos não está definido. Há muita gente no armário com vergonha do fascismo que carrega.

    • Ninguém acredita mais no Palocci. O povo está se lixando pra delação premiada desde que seu emprego e sua renda foram destruídos pelo golpe.

    • Lembrar que Moro adiou oitivas de Lula para depois das eleições para, segundo ele, "evitar o uso político" (bem entendido: que pudesse, pelo descrédito em que o golpe se encontra, favorecer a campanha petista).
      Entretanto, o juizeco retira sigilo da tal delação de Palocci precisamente às vésperas das eleições. Será para "evitar uso político"? Porque, por maior o ridículo de que goza o Palocci atualmente, há sempre a possibilidade de causar transtorno à campanha petista).
      O que sei é que nada me surpreende no comportamento "dois pesos e duas medidas" do canalha togado, até porque sempre tive certeza de que os asseclas do golpe não aceitariam pacificamente morrer na praia depois de terem nadado tanto e que alguma coisa aprontariam.
      O comportamento do juizeco (se surtirá ou não efeito que agrade aos golpistas, eu não sei) faz parte do novo cardápio de malandragens criminosas de que farão uso!

  • Da uma olhada nessa animação. Ela mostra a distribuição espacial de tweets #EleNão e #EleSim durante momento de maior pico de atividade no Twitter no dia 29.09.2018. Esse vídeo representa apenas 15 minutos de tweets. Nesse período, houve 10 mil tweets com a hashtag #EleNão e pouco mais de 2000 com a hashtag #EleSim. Os círculos em cor roxa representam tweets #EleNão, os círculos em cor verde representam tweets #EleSim. O tamanho dos nós varia *logaritimicamente* de acordo com o numero de tweets, seguinfo a legenda na parte superior direita do vídeo. Não foi só nas ruas que o Brasil disse "Não" ao fascismo! Foi também nas redes! E será nas urnas!

    #DataSCOUT #EleNão:
    https://www.facebook.com/datascout.analytics/videos/286081052227626/

    • E mesmo assim porque o coisonaro dispõe de um grande exército de robôs, minions e outros seres replicantes.

  • Um dia, disse para um cidadão que o vermelho é usado desde a revolução francesa como símbolo da luta dos trabalhadores. O cara disse que eu estava mentindo pois o PT não era tão antigo assim. Dizer o que?

    • Então podia mudar o nome do Brasil, de brasa, do vermelho, do Pau Brasil para Verdil, Amarelil, Azulzil, Branquil, Cinzil, ou coisa parecida. Ora bolas!

    • Pois eu ouvi esses dias de um finado amigo, morto simbolicamente, que os petistas-fascistas-comunistas fizeram a Revolução Francesa... Daí você olha pro sujeito (sic) e pensa: por onde devo começar? Em seguida penso, mas nunca ouso dizer: lembra do Caminho Suave? Vai que ele não lembra, né?!

  • Texto sensacional! Trata-se mesmo de um debate, não entre partidos, mas entre civilização e barbarie.

  • Mayors Challenge - Grand Prize Winner Fernando Haddad

    "Em 2016, Fernando Haddad foi o grande vencedor de uma competição entre prefeitos de toda a América Latina e Caribe, por um projeto que conecta pequenos produtores de alimentos orgânicos a mercados e restaurantes. O prêmio foi organizado pela Bloomberg Philanthropies, entidade do ex-prefeito de Nova Iorque, Michael Bloomberg."

    https://mayorschallenge.bloomberg.org/news_posts/sao-paulo-selected-as-the-2016-grand-prize-winner/

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