Um dia, num engarrafamento no Eixo Monumental de Brasília, o motorista do táxi virou-se para mim e disse:
– Você sabe o que meu pai contava sobre o que diziam desta pista do Eixo ser tão larga? Diziam que o Juscelino e o Lúcio Costa estavam ganhando no metro de asfalto, porque quase não tinha carro, então pra que essa largura toda?
Rimos, mas ficou na minha cabeça o vício de minha geração e das que a sucederam (triste já ter que botar isso no plural, né?) em pensar todas es coisas em micro e pequena escala. Uma obra aqui, um viaduto ali, um prediozinho reformado acolá, além de “projetos sociais” para salvar uma que outra comunidade carente ou nicho ambiental, devidamente impressos no papel couchê dos balanços sócio-ambientais.
Claro que temos lá nossas razões, por vermos tantos projetos faraônicos que não deram em nada.
Mas acabamos com o vício de pensar miúdo.
E de achar que tudo o que é, aparentemente, grande demais seria, como diziam de JK e Costa naquela imensidâo deserta do Eixo Monumental, onde dúzia e meia de fuscas, kombis e fenemês passavam, solitários, sido feito assim por conta de megalomania ou corrupção.
Penso sobre isso quando vejo esta reta final do leilão de Libra, quando vejo tanta gente ainda presa apenas a raciocínios quase que contábeis, que vão desde discutir se não teria sido melhor fracionar a área, para irmos aos pouquinhos, ou se tal ou qual cláusula do edital é 5 ou 10% maior do que deveria ser para cada detalhe da realidade exploratória.
Não desqualifico nenhum destes pensamentos, mas peço licença para ampliar meus pensamentos.
Espero fervorosamente que a Petrobras tenha a maior parte do controle do campo e um plano de investimentos – inclusive para o parque de refino que deve corresponder minimamente ao aumento de nossa produção de petróleo – que se possa sustentar e avançar com a rapidez que o país necessita.
E creio, com grande firmeza, que é isso que se vai verificar.
Depois de tantos posts tentando aclarar as regras deste contrato pioneiro de partilha, sinto a necessidade e creio ter o direito de convidar meus caros e raros leitores a pensar grande comigo, sem ter deixado de atacar as questões concretas.
Existem outras coisas em jogo, no que tange aos benefícios para o país, cada uma delas duramente conquistada, como a própria mudança do modelo exploratório.
A maior delas é a repercussão, em nossa economia, que só pode acontecer porque a Petrobras, qualquer que seja o resultado do leilão – e será bom – irá garanti-lo, com o suporte que apenas lhe dariam acordos de governo a governo, como os que foram feitos entre Brasil e China.
Muito antes que o primeiro óleo comercial saia das profundezas de Libra, nossos estaleiros estarão abarrotados – mais do que estão – de navios-sonda, tanque, barcos de apoio. As fábricas de estruturas, tanques, dutos, idem. As empresas de suporte marítimo e de prestação de serviços agitadas, se preparando para entrar num negócio que equivale a meia Petrobras hoje, em termos de demanda.
Não teremos mão de obra? Bendito seja ouvir isso para um camarada feito eu que viu engenheiros estudarem para vender livros ou jornalistas para fazer concurso do Banco do Brasil. Teremos, sim, , porque isso será dirigido por uma empresa comprometida com o desenvolvimento brasileiro e não por outra que traga seu “canudinho” quilométrico para sugar nossa riqueza e deixar como herança apenas alguns tupiniquins beneficiários de seus negócios e outros, em número maior, com a mente devidamente colonizada.
Quem duvidar do que essa injeção de recursos nos fará, que me acompanhe num dos intermináveis engarrafamentos até Niterói a que meu exílio carioca me obriga e veja a Baía da Guanabara fervilhando de barcos, navios e plataformas de todo tipo. Dez anos atrás, cruzava-se um cemitério de navios prontos a virar sucata. Lembro-me bem de um deles, o “Toro”, encalhado na lama do porto de Niterói, a desfazer-se em ferrugem. Que visão terrivelmente mórbida!
Digo isso para afirmar a todos vocês que há diversas coisas neste leilão que me desagradam e me desagradarão sempre, porque este podia ser um país já tão rico que prescindisse de quaisquer capitais – chineses, malaios ou até marcianos – para explorar seu potencial.
E seria, se não nos tivessem nos levado tanto ouro, tanto açúcar, tanto ferro. Em lugar de nos servirem de alavancas de progresso – salvo em alguns raros momentos – nos foram saqueados pelas metrópoles, com o auxílio de uma camada de colonizados sem a qual nenhum império pode saquear terras alheias.
O Estado brasileiro, única válvula de retenção deste país contra a drenagem colonial, foi, por isso mesmo, reduzido, degradado e, pior, esterilizado na tecnocracia, para que suas “agências reguladoras”, como as famosas imagens santas nos bordéis, assistissem à orgia de ganhos que aqui se realizou e ainda se realiza, embora com pouco mais pudor.
Estamos ainda recém engatinhando no caminho de recobrar a soberania e a riqueza que cabem a um país continental como somos.
É por isso, meus caros e caras, que amanhã o resultado do leilão será apresentado como um “fracasso”, com os “sabidos” verberando contra o excesso de Estado e de regras e, também, como se o acordo com os chineses, a cujas disputas energéticas e geoestratégicas interessa uma Brasil mais forte, fosse comparável a qualquer acerto que se poderia fazer com as grandes multinacionais privadas, ou semi-privadas, porque braços e mãos do império americano.
Desculpem-me o tom menos “técnico” que adoto hoje sobre o tema, que creio esgotado sob este aspecto.
Mas é que momentos assim, salvo para os que rastejam na condição de colonizados e não enxergam seus horizontes, devem nos fazer olhar adiante e nunca perder o rumo que nos mantém lúcidos em meio às vicissitudes da política e da economia: o desejo de que o povo brasileiro possa ser livre, digno e feliz.
Amanhã, daremos um passo imenso para mais perto deste horizonte de nossas vidas, a de nossos filhos e a de nossos netos.
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Na primeira vez que perdeu para FHC, Lula da Silva começou a campanha afirmando que não iria acabar com o Plano Real, acho que a presidenta Dilma vai passar boa parte da campanha afirmando que não privatizou o pré-sal.
Gildo Araújo.
reportagem que começa falando em off, já perde a credibilidade, não há como acreditar ma matéria quando cita uma fonte se dar nome, só acredita quem gosta de ser enganado.
reportagem que começa falando em off, já perde a credibilidade, não há como acreditar ma matéria quando cita uma fonte se dar nome, só acredita quem gosta de ser enganado.
Booomm... Isso é boooommm...
BRAVO, Presidenta!