O tempo e a cena da estréia de Temer

Tenho um bocado de medo de escrever sobre coisas subjetivas, porque acho que isso é privilégio dos poetas (poetas, Dr. Michel, poetas e não “beletristas”) e dos pintores e seus primos apressados, os cartunistas.

Mas foi tão forte a impressão da imagem, ontem, vendo o primeiro ato do governo Temer e tão generalizada a sua percepção disso que vou atrever-me: definitivamente, a cena e a data não combinavam.

Até na incondicional Globonews foi chamado de “retrô”.

Eu procurava, na imagem, algum jovem. Não havia, senão um rapazote lourinho, ao que parece um certo deputadozinho de extrema-direita do Rio Grande do Sul.

Um negro, um mulato, alguém com cara de gente simples…Nada.

Mas também não parecia com uma corte de nobres diante Sua Majestade, até porque majestade não havia qualquer e nobreza não parecia haver alguma.

Desculpem meus amigos de lá: eu estou acostumado com a cara de Brasília, a peruagens e “ternuras” (de terno de pano) que por lá abundam, mas ontem estava demais.

Era só isso.

Não tinha nada a ver com o Brasil aqui de fora, Nem com o pobre, nem com o rico. Nem o simples, nem o chique.

Só com o Brasil besta, dos “negócios e oportunidades” de esperteza.

Talvez o governo do PT tenha se perdido por deixar-se encher de gente assim, louca por sua própria ascensão. Diria o Dr. Temer, do tempo em que se aprendia galicismos: os parvenus.

Nem mesmo os lá de cima, há séculos.

Não, os que acham – e com razão – que chegaram à nata por tais espertezas.

E, como na nata, as gorduras lhes abundando sobre os cintos e colarinhos.

Não vou, claro, ficar no primarismo de dizer que se houvesse negros ou mulheres no ministério ele seria tecnicamente melhor. Capacidade gerencial não tem a ver com sexo ou cor da pele. Mas a gestão pública, ao contrário do que parece, não é só técnica, é representação e não tem jeito de alguém se ver representado quando quase não se vê.

O tempo e a cena não combinavam.

Aquilo não era o Brasil de 2016 que você vê na rua, em qualquer rua.

Ninguém vai ficar contra o governo porque tem tantos ou quantos (ou tantas e quantas) assim ou assado. Nada ou ninguém é melhor do que ninguém, por ser azul ou roxo, careca ou cabeludo, magro ou gordo, mas o Brasil de hoje já se acostumou – no governo, na rua e até mesmo na elitista televisão – a ver a si  mesmo como um conjunto heterogêneo.

Talvez nem o expresse, mas sente.

Até na publicidade, que não te diz nem “bom dia” sem antes fazer uma boa pesquisa de aceitação, o Brasil já não é, faz tempo, aquele.

Ou sê-lo-ia?

Se o caro leitor  e a amiga leitora espera que eu chegue a alguma conclusão política ou sociologicamente genial sobre isso,  a leitura lhe foi inútil.

Digo apenas que não é o tempo que se ajeita às coisas, mas as coisas é que devem se ajeitar aos tempos.

Quando não se ajeitam, o tempo logo as descarta.

Fernando Brito:

View Comments (26)

  • Como assim não tinha nenhuma majestade? MT é a rainha da Inglaterra!

  • Para entender o que ocorre vou lembrar o que dizia o grande Darcy Ribeiro :
    Essa nação tem uma Classe dominante que é do filho ou descendente de senhor de escravo e que trás na alma o pendor ou calejamento do Senhor de escravo. Quem é o Senhor de escravo? É aquele que comprou o homem e tira dele com chicote o trabalho que aquele homem pode dar . Enquanto o escravo está condenado a lutar por sua liberdade e seu quilombo, o senhor de escravo usa esse homem como carvão que queima para a produção e para dar mais lucro.
    Ou você assume que esse povo tem se alfabetizado e o que vale é redimir esse povo ou então você assume a atitude sacana da classe dominante, em que esse povo é como um carvão que deve ser queimado para dar lucro e não importa o que aconteça com ele. Essa é a postura dessa classe , uma atitude perversa e pervertida.
    Eu vivi no mundo inteiro e digo que não há um pais melhor do que esse. Mas tem tem uma classe dominante ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa, que não deixa o país ir pra frente!"
    Ontem estavam ali representado essa classe que é a escória do país. E como já disse alguém " O Brasil tem um grande passado pela frente" e ontem ele retornou.

  • Assim é o governo globo/cunha/temer/bolsonaro/malafaia/aecio dos
    coxinhas. O unico jovem, newton cardoso jr, que SERIA ministro da defesa, caiu antes da posse, que coisa.

  • As duas primeiras palavras do discurso do Temer foram "meus amigos". Que tal?

  • A urna será o sol do vampiro usurpador e de seus zumbis cambaleantes.

  • Capitães-do-mato de luxo esse grupo que ascendeu por vias indignas ao poder.
    Fazem o serviço sujo para a "Casa-Grande", os EUA.
    Em troca de gorjetas e proteção, entregam as riquezas e a liberdade do povo brasileiro.
    Parabéns aos coxinhas! Com seus tênis nike e camisetas da CBF conseguiram ajudar a trazer o que há de pior na política do país. Agora todos teremos que aguentar o que vem por aí.

  • Olhando de longe, é sem analisar a "folha corrida", o ministério do Temer poderia ser confundido com um grupo de cidadãos da Escandinávia.

  • Tirante a má vontade explícita do "brog" em relação ao novo governo do vice eleito por 54 milhoes de votos petistas, nenhuma leitura é inùtil!!!

      • É o primeiro site que acesso jà de manhazinha!!!

        Uma mão na xìcara de café bem fumegante e a outra no celular!!!!

        • É doente. Sente prazer ao assistir o choro, o desabafo, a opinião de quem sofreu uma grande derrota recente. Sádico, baixo, vazio, vil.

    • Ei bronco. Pra quem queria eleger o Aloysio 300 mil, você tá gostando demais do vice petista. Só tem uma falha na sua armadurinha hipócrita. O Furnécio (candidato dos otários), e o Temer (alternativa viável para os otários) foram citados na Lava Rato. Cuidado para não ser visto defendendo corruptos, logo você, cidadão de bem que quer moralizar a política brasileira da funesta influência da quadrilha petista.

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