O vício da força cria dependência, cuidado

É evidente que se precisava fazer algo no quadro de insegurança que se espalhou no Rio de Janeiro, e há muito tempo.

Assim como é claro que a presença ostensiva de tropas militares vai aumentar a sensação de segurança da população – e a sensação de segurança é a medida palpável de qualquer avaliação de segurança pública.

Mas é preciso ver se a presença do Exército vai se limitar a isso ou vai, efetivamente, contribuir para que se anulem os principais sintomas da violência – porque a causa é outra e envolve bem-estar social, educação, emprego, valores, comunicação, tudo o que vem degradando o convívio coletivo, aqui e no Brasil, o que não se combate com exército.

As experiências anteriores, como a longa ocupação do Morro do Alemão não são de deixar muito otimista quem se lembre delas.

Nada a ver com a correta e moderada utilização da tropa em eventos, que tem outra natureza, transitória. Essa, ao contrário, leva ao vício da permanência da força armada como forma de organizar a vida social.

Há, é certo, questões legítimas e, também, outras, perigosas.

A primeira questão, diretamente afeita à Forças Armadas, é a do armamento pesado, que se espalhou graças à banalização de seu uso policial , a um controle de fronteiras pífio  e à falta de um permanente trabalho de inteligência para  capturá-lo. Nem é preciso dizer que tudo isso se deve, em boa parte, ao grau de cumplicidade existente entre polícia e tráfico.

É um contrassenso demagógico pretender tirar armamento pesado das cidades ao mesmo tempo em que, por falta de verba, se paralisam as operações a Polícia Rodoviária Federal, com a qual, se houver investigação e inteligência policial, grandes apreensões podem ser feitas sem operações espalhafatosas e arriscadas para a população.

A segunda questão é o uso propagandístico da força. Blitzen, desde que eu me entendo por gente, jamais se prestaram a desbaratar organizações violentas. Ou são inúteis – e tumultuam a vida urbana – ou se prestam a recolher veículos com imposto atrasado e a desestimular o hábito de beber e dirigir. No resto, é loteria e loteria não é das formas mais promissoras de atacar o problema.

A terceira – e mais delicada – é não ceder á tentação midiática e da própria  cultura militar de tratar as comunidades pobres  como terra estrangeira, onde está o “inimigo”. Nelas, o Estado não costuma “dar as caras” com seus serviços, curiosamente nem os serviços policiais menos agressivos, como a guarda municipal, que não atua nas favelas cariocas e, quando aparece, é para tiroteios.

Tratar o assunto como “guerra” só nos dará mais uma guerra perdida, como é, desde que Richard Nixon, perdendo a do Vietnam, criou o termo “Guerra às Drogas” para arranjar um inimigo interno conveniente. Infelizmente, é como se tem tratado disso há quase 40 anos.

Só um cego não vê que há hoje – certamente muito maior que nos anos 60 – um mercado consumidor que não vai deixar de usar drogas porque o Exército ocupa a Cidade de Deus. Como aconteceu com a Lei Seca nos EUA dos anos 30, quando o álcool criou uma estrutura criminosa e corruptora, a droga fez o mesmo lá e aqui.

Não pode continuar a ser tabu – e é cada vez mais – a ideia de algum grau de legalização. Afinal, Mujica e Fernando Henrique não são dois  “vaposeiros doidões” ao defendê-lo. Se não se vai eliminar o vício, porque não eliminar o tráfico?

Portanto, um combate feito assim tem tudo para ser “enxugar gelo” e, pior, arriscar-se a contaminar as Forças Armadas com aquilo que o tráfico contaminou as instituições policiais: brutalidade, corrupção e ódio.

No mais, ajuda a reforçar dentro das Forças Armadas e na opinião pública a ideia de que a missão das Forças Armadas é encostar os cidadãos na parede e revistá-los e não serem a espinha dorsal da soberania deste país.

E esperar o Bolsonaro venha passar em revista às tropas.

Fernando Brito:

View Comments (18)

  • O estado que está ruim financeiramente devido a queda do petróleo e da atividade econômica, vai ficar de joelho devido ao turismo, que com certeza vai ser afetado.

  • O país está com URUCUBACA e "nada".estanca. Não tem reza forte que dê jeito. Os estrangeiros estão com pena e dó dessa IMENSA POÇÃO DE TERRA DEITADA EM BERÇO. Triste, muito triste... Chora Tom Jobim, chora Vinicius, chora Maísa, chora Osvaldo Cruz, chora Carlos Gomes, chora Vilas Lobo, João Nogueira, chora Luis Gonzaga, chora Oscar Niemeyer, chora Zanine, chora JK, chora Cartola, Chico Mendes, chora Santos Dumont e assim vai.... É um lamurio infinito

  • ATENÇÃO PARCELA DO BEM DA NAÇÃO BRASILEIRA, ALVÍSSARAS!

    META SUPERADA EM TEMPO RECORDE

    IDEIA LEGISLATIVA
    Anulação do Impeachment da Presidenta Dilma Vana Rousseff
    Como já provado em muitas oportunidades o impeachment que foi sofrido pela presidenta Dilma Rousseff foi um golpe de estado. Com o fracasso do governo ilegítimo e golpista a única coisa que temos que exigir é a recondução da Presidenta para o cargo que ela nunca deveria ter perdido.

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      24.310 apoios - 19h18

      NOTA: são necessárias 20.000 assinaturas (apoios)

  • E assim o sonho americano - do tio Sam - vai se concretizando. Afinal de conta pais governado por entreguistas, traidores e incompetentes tem que atender às ordens do chefe da casa branca. Desde há muito tempo, Henry Kissinger dizia: " O exército americano cuida da defesa externa do hemisfério e os exércitos nacionais do resto da américa cuida do policiamento. Nosso exército transformado em polícia. E viva a subordinação do Brasil aos interesses da banca internacional.

    • A AGENDA DO MERCADO É A DO DESESPERADO TEMER

      "Na cabeça golpista de Michel Temer, é como se entre os mais de 200 milhões de brasileiros e brasileiras não existisse um trabalhador urbano sequer, um camponês, um morador de favela ou de periferia. Pela primeira vez na história, um presidente adota integralmente a agenda do mercado. Já sobre o pescoço da esmagadora maioria da população que vive de seu trabalho e constrói a riqueza da nação paira a espada da pauperização acentuada, resultante de um combinação letal: desemprego em alta, supressão de direitos trabalhistas e congelamento dos gastos públicos por 20 anos, prevista na Emenda 95", diz o emérito e impávido jurista e deputado federaldeputado federal Wadih Damous (PT-RJ)

      28/07/2017

      (...)

      FONTE [LÍMPIDA!]: https://www.brasil247.com/pt/colunistas/wadihdamous/308715/A-agenda-do-mercado-%C3%A9-a-do-desesperado-Temer.htm

  • Percebam que há problemas sérios de segurança e violência com este caos político, econômico e social que o golpe gera. Não sai uma linha nos jornais e na TV dos golpistas. E então o desgoverno tem que empregar forças armadas.
    Vivemos tempos obscuros.

  • fora de pauta -- Trump muda "ministro"
    Trump substituiu o chief of staff - ministro da casa civil - Rience Priebus - que foi seu coordenador de campanha por um general /secretário John F Kelly.

  • O pior é que as FA que vivem eternamente aquarteladas, comecem a gostar das ruas.E não queiram retornar aos quartéis..

  • Os golpistas do PMDB/PSDB querem resolver problemas políticos e sociais
    com o emprego de militares; Adeus democracia, o regime militar bate à porta.
    Renunciem Já seus CANALHAS.

  • Quantas notícias bombásticas como esta não temos um deputado ou senador
    da esquerda ou progressista para se posicionar.

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