A cobrança pública feita hoje pelo coordenador do grupo de transição de governo, Geraldo Alckmin, para que a atual administração entregue os dados do monitoramento anual do sistema Prodes sobre o desmatamento da Amazônia e do Cerrado, que estão sendo retidos é a repetição do que Jair Bolsonaro fez, ano passado, “segurando” os números até o final da Conferência do Clima de então, a COP-26.
Como ameaça fazer agora com a Cop-27.
No ano passado os resultados ficaram ocultos por mais de 20 dias – de 27 de setembro a 18 de novembro – para evitar o impacto da informação de que, então, a área desmatada havia sido aumentada, entre junho de 2020 e de 2021, para nada menos que 13.235 km².
No último ano antes de Bolsonaro, 2o18, foi de 7.536 km².
Como os dados de outro sistema – o Deter – menos preciso mas de apuração mais rápida, pela sua finalidade de orientar ações em tempo real, urgentes – já mostram um ano de crescimento do desmate, é possível imaginar que os quatro anos deste governo tenha mais que dobrado a área de corte raso de vegetação na Amazônia Legal e o total seja superior a 16 mil km², a maior em 16 anos.
Ou, talvez, ainda mais, porque a soma entre ano eleitoral e o desmanche das estruturas de fiscalização e repressão à derrubada da floresta podem ter causado uma aceleração na derrubada de mata, por interesses que contavam com a possibilidade de ser o “fim de feira” da devastação incontrolada.
É claro que o encobrimento vai adiantar pouco ou nada para preservar a imagem ambiental do governo que se encerra, já completamente desacreditada mundo afora. Talvez nem mesmo adiante, porque a cobrança feita por Alckmin, publicamente, indica que os dados já estão com as equipes de transição.