Onde mora o déficit público

É como aquele chiste popular: “será que preciso desenhar?”

O blog do professor Fernando Nogueira da Costa, da Unicamp, publica o gráfico acima e diz:

A quem beneficia esta política de juros (nominais e reais) disparatados em relação aos vigentes em todos os demais países?  Obviamente, à casta de financistas que se apoderou do COPOM, cujos representantes não têm a postura ética de se declararem impedidos de beneficiarem a si próprios, não podendo fixar o juro por “conflito de interesses“. Aliás, juro é interest em inglês, interés em espanhol, intérêt em francês, e falta-de-vergonha em português-brasileiro…” (…)

Quando a casta dos comerciantes-financistas se apropria do poder discricionário de fixar o juro básico de referência, este passa a ser a variável-determinante de todas as demais rendas. Esta casta passa a ter o privilégio único de determinar sua própria renda. As demais ficam submetidas à dura Lei do Mercado. Em última análise, o Banco Central do Brasil se transformou em uma instituição extrativista, pois o juro arbitrário e ilimitado retira renda dos trabalhadores pelo desemprego e tributação, demanda dos comerciantes, venda e aluguel dos imóveis, tudo isso em favor apenas da renda do capital financeiro.

E o rentismo se expressa no número e na quantidade (pouco mais de cem mil pessoas físicas que usam os “private banks”, serviço financeiro “top” para 0,5% da população brasileira:

Resultado deste arbítrio na concentração da riqueza financeira: no primeiro semestre de 2016, os ativos sob administração no Private Banking cresceram 7% (R$ 50 bilhões), em média per capita (por cada um dos 109.894 clientes)  de R$ 6,483 bilhões em dezembro de 2015 para R$ 6,864 bilhões, para cada um dos 111.094 clientes, em junho de 2016. Cada qual acumulou mais R$ 481 mil, ou seja, quase 1/2 milhão de reais em um semestre que o juro básico (Selic) permaneceu em 14,25% aa!

Isto contemplando 1.200 novos clientes Private, o que diminuiu um pouco essa média de capitalização.

Desde dezembro de 2013, há dois anos e meio, quando o AuM (Ativo sob Administração) somava R$ 577.177,22 milhões, passando para R$ 762.640,36 milhões em junho de 2016, o Private Banking, acumulou mais R$ 185 bilhões!

Curiosamente, este valor é próximo do déficit primário de R$ 190,5 bilhões do governo central em 12 meses, em setembro de 2016, o que evidencia que o problema fiscal pode ser visto como a contrapartida do enriquecimento desta casta privilegiada…

E vamos resolver o problema fiscal cortando verbas do SUS, dos inválidos, dos aposentados e destruindo a já precária estrutura educacional do país.

Quanta racionalidade!

 

 

Fernando Brito:

View Comments (6)

  • Sem dúvida, esse é um dos temas mais relevantes e complexos da economia brasileira. Mas diferentemente do professor, não resumiria o problema à dominação do governo pelos rentistas. Há um título vendido no Tesouro Direto que pagava até 2035 cerca de IPCA + 8% no final do governo Dilma, e hoje paga cerca de IPCA + 5,7%. Vale refletir sobre o porquê disso acontecer.

    Outro acontecimento que merece estudo é a redução de juros realizada em 2013 pelo governo Dilma. Porquê essa redução não conseguiu se perpetuar e ela teve de aumentar os juros nos anos seguintes?

    Por fim, entendo que o Estado gera dívidas para se financiar. Para quebrar esse ciclo, não seria necessário economizar? Vejo questionamentos sobre o volume de juros pagos pelo governo, mas quais seriam as alternativas? Calote? Isso não incluiria fundos DI e recursos de pequenos poupadores no Tesouro Direto?

    De todo modo, a indicação do blog do professor é muito interessante. Vale uma visita!

    • Robson, eu também compartilho de algumas das dúvidas que você tem... e acho que o nó cego da economia brasileira está exatamente na Dívida pública. Um agravante é maneira como a mídia especializada trata o assunto... praticamente ignora ou mente.
      Mais vou aqui emitir minha opinião(em caixa alta para diferenciar) sobre alguns de seus questionamentos de acordo com o que eu li nos últimos anos.

      "Outro acontecimento que merece estudo é a redução de juros realizada em 2013 pelo governo Dilma. Porquê essa redução não conseguiu se perpetuar e ela teve de aumentar os juros nos anos seguintes? EXISTE UM MITO IRRACIONAL DA LINEARIDADE ENTRE OS JUROS E INFLAÇÃO... ELES ACHAM(OU FINGEM ACHAR POR CONVENIÊNCIA) QUE SE AUMENTAR 0,25% A SELIC... A INFLAÇÃO VAI RESPONDER DA MESMA FORMA... OBVIAMENTE A DINÂMICA DOS MERCADOS NÃO É TÃO SIMPLISTA... MAS A PRESSÃO MIDIÁTICO É QUASE QUE UMA AFRONTA "SE NÃO SUBIR O JUROS COM A INFLAÇÃO ALTA O GOVERNO É BURRO E NÃO ENTENDE NADA DE ECONOMIA"... SINCERAMENTE EU ACHO QUE A INFLAÇÃO ALTA SERVE DE DESCULPA ESFARRAPADA PARA AUMENTAR A TAXA DE JUROS E SATISFAZER OS MERCADOS.

      Por fim, entendo que o Estado gera dívidas para se financiar. Para quebrar esse ciclo, não seria necessário economizar? Vejo questionamentos sobre o volume de juros pagos pelo governo, mas quais seriam as alternativas? Calote? Isso não incluiria fundos DI e recursos de pequenos poupadores no Tesouro Direto? EXISTE UM SISTEMA QUASE QUE IRRACIONAL DE EMISSÃO DE TÍTULOS PERIÓDICA EM QUE O GOVERNO EMITE TÍTULOS MESMO QUE TENHA $ EM CAIXA PARA SALDAR AS DÍVIDAS. O GOVERNO PODERIA EMITIR TÍTULOS APENAS QUANDO FOSSE DE INTERESSE DO PAÍS OU ESPERAR OS MELHORES MOMENTOS DOS INDICADORES ECONÔMICOS PARA FAZER... MAS NÃO, EMITE OS TÍTULOS COM DATA E HORA MARCADA DE TAL FORMA QUE O SISTEMA FINANCEIRO CRIOU UM MERCADO ENCIMA DISSO. FICA CLARO ENTÃO QUE NÃO EXISTE INTERESSE EM PAGAR A DÍVIDA, APENAS ROLAR ELA INDEFINIDAMENTE. EU ACHO QUE CALOTE OBVIAMENTE NÃO É A SOLUÇÃO, O MELHOR É CRIAR UMA EQUIPE PARA PROFISSIONALIZAR, ORGANIZAR E TORNAR O SISTEMA DE EMISSÃO DE TÍTULOS TRANSPARENTE E EFICIENTE. PARA FAZER ISSO, O GOVERNANTE TERIA QUE ENFRENTAR OS BANCOS E A IMPRENSA... UMA LAVA-JATO DO SISTEMA FINANCEIRO... NA ATUAL SITUAÇÃO DO BRASIL... EU ACHO MAIS PROVÁVEL ESPERAR PAPAI NOEL.

  • Caro Fernando Brito, e pq diabos Dilma subiu os juros de forma tão estúpida?

  • Nenhum país rola divida pública com papel indexado ao juros overnight nas proporções em que rolamos nossos papéis públicos. Nenhum pais utiliza uma fórmula exponencial para calcular o montante de juros ou papéis de curto prazo que pagam juros só no vencimento. Nenhum pais de nossas dimensões arrecada mais tributos regressivos (indiretos) do que nosso modelo tributário. É muita jabuticaba para um só país. Quanto a redução do juros no governo Dilma acho que o impeachment foi a resposta, não adiantou nem dar marcha atrás ou mesmo colocar o Levy, o Deus mercado precisava de uma oferenda mais valiosa ou como explica um teórico do lulismo Dilma cutucou a onça com vara curta.

  • Esta foi a primeira causa do golpe. Quando Dilma trabalhou para baixar os juros a patamares não-vergonhosos, os canibais do setor financeiro internacional (a City londrina) pôs o Cristo Redentor de cabeça para baixo e então pediram a cabeça do Ministro da Fazenda. A partir daí o Brasil nunca mais se acertou. Logo em seguida veio a completa reestruturação reacionária da mídia e depois o ataque à Copa do Mundo, que normalmente estaria destinada a consagrar o PT para sempre no campo eleitoral. Em seguida, a mídia se encarregou de rasgar todos os retratos do Brasil e pintar um outro, monstruosamente distorcido. E vieram os grupos financiados por gente daqui e de fora, chamando para a classe média se revoltar contra aqules que fizeram o Brasil crescer a ponto de ser a sétima economia do mundo.

    • Os canibais não estão na City Londrina, mas nos escritórios da capital paulista, centro nervoso do golpe, Tucanistão, Brasil.

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