Um fato foi, essencialmente, o responsável pela condução do governo de orientação popular e inclusiva a uma situação de risco eleitoral.
O produto da inclusão, sem política e politização, é uma classe média sem valores senão os imediatos, como são os próprios do consumo e com uma moralidade que tudo tolera na apropriação privada da riqueza e vê no Estado – mudo ou com um discurso pasteurizado – apenas um serviçal (ou um estorvo) e não o indutor de sua própria ascensão.
Num ótimo artigo sobre este tema, o professor de Comunicação Wilson Roberto Vieira explica: “Na medida em que a cidadania é reduzida ao consumo como signo da mobilidade social, a ideologia que vai dar a “liga” para esse imaginário é a meritocracia: a crença de que sua suposta ascensão social foi conseguida graças ao mérito do estudo e melhora da capacitação profissional por caminhos duros e sofridos de renúncia e poupança – a única forma do salário almejar alguma ascensão real, renunciando a necessidades de reprodução da própria força de trabalho alimentação, entretenimento, cultura etc.”
Um outro fato, de sentido inverso, é a tábua de salvação – e creio que será salvadora, mesmo – deste mesmo governo de sentido popular e inclusivo: a memória da população que, embora esmaecida por mais de uma década de mudanças, só é capaz de percebê-las quando diante da possibilidade de volta ao passado, muito mais que da percepção de uma caminhada ao futuro.
Não é hora nem lugar para analisar o processo que, em dois parágrafos é tão resumido quanto perceptível.
Não há a menor dúvida de que o caminho da reeleição da Presidenta Dilma passa muito menos pela percepção de que os avanços sociais se deveram às efetivas ações desenvolvimentistas e de promoção social que ela realizou, em continuidade a Lula do que pela sobrevivência, impressa na memória do povo brasileiro, do que foram os anos FHC.
A discussão ideológica não é um “capricho” de esquerdistas idosos, mas uma ferramenta de interpretação da realidade, uma bússola em meio aos nevoeiros e às cortinas de fumaça construídos pelo o intocado aparato – monolítico e imperial – de uma mídia oligárquica.
Uma ferramenta da qual se abriu mão, salvo por momentos, em nome de uma “política propositiva”.
A campanha eleitoral, como o papel, aceita tudo. Do 13° do Bolsa Família à promessa de reduzir a inflação a 3% e produzir polpudos superávits primários sem fazer arrocho no salário, no crédito e cortes nos gastos sociais.
Muito bom se fosse diferente, mas não é, porque a dominância do discurso conservador, aceito passivamente na tentativa de agradar a todos e a tudo institucionalizar na forma “republicana”, como se as formalidades republicanas, de per si, um dia houvessem trazido justiça e progresso social.
Essa será, se a quisermos vencer, de novo e outra vez, uma eleição que depende de que este país se absorva da ideia de que não é o mérito individual o motor do progresso social, embora faça parte dele.
Deixou-se de dizer e mostrar ao povo brasileiro que ele veio, no pouco que temos, de um processo de lutas sociais que atravessa séculos e que nunca se deu sem confrontar o ranço das elites.
O PT e seu Governo devem olhar bem para o que são e para com quem conta, nas horas do combate e deixar de lado a pretensão de ser de “todos”, algo que se esfumaça a cada embate, um vício que Darcy Ribeiro selou com a frase sobre querer ser “a esquerda que a direita gosta”.
Porque, afinal, a direita não gosta dela, não.
Tanto que despreza e odeia, mesmo quando seus privilégios são intocados.
A classe dominante brasileira é burra, tão burra que não quer ser a elite de um país imenso.
Prefere ser o capataz de uma colônia.
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Afinal quem está mal informado sobre o bolsa familia (incluindo FHC)?http://www.conversaafiada.com.br/economia/2014/10/07/campello-desmonta-o-preconceito-contra-o-bolsa/
E os outros partidos? Não deveriam politizar o povo também? Ninguém ajuda? Só malho no PT?
O caminho é longo! E vem sendo trilhado como é possível trilhá-lo.
A opção de mexer na infraestrutura primeiro é sábia, Fernando. Pois, ainda que não houvesse tempo de reverberar na superestrutura faz da melhora social um caminho sem volta. E afinal, este é o núcleo duro do que desejamos!
Politizar é sem dúvida o grande passo a ser dado!
E a partir de agora!
Perfeito. Assino embaixo, se me permite.
Fernando Britto o PT precisa de 50 por cento dos votos de marina no norte e nordeste do Brasil e 27% dos votos de marina no sul, suldeste e centro-oeste. Veja o resultado por região http://noticias.r7.com/eleicoes-2014/dilma-vence-no-norte-e-nordeste-e-aecio-ganha-no-centro-oeste-sudeste-e-sul-06102014. No nordeste dar por causa de todo preconceito que estamos sofrendo e da ameaça de voltarmos a ser esquecidos, no resto do Brasil automaticamente já temos 20 por cento, uma campanha bem sucedida nos levara a mais de 30 por cento, a militancia não pode desanimar é conquistar os votos da familia a migos que votaram em marina, vamos busca-lo, e convece-los de que Dilma é o melhor pra o Brasil. Precisamos de Wagner, PT e PMDB trabalhando no nordeste, tião viana no acre e o PMDB do norte. E no Michel temmer nos ajudando no sul e sudeste, precisamo de lideranças no centro-oeste defendendo dilma.
Danielle, cuidado com esse discurso, Wagner é uma liderança na Bahia mas não no Nordeste. Essa ideia de que "Nordeste" é uma coisa é também uma distorção da mídia que muita gente repete ignorando as rixas entre estados, o Brasil é composto por estados antes de "divisões regionais" e cada estado tem sua própria dinâmica embora o voto regional tenha peso, mas isso vem do povo que sabe do que Dilma e Lula fizeram pelos estados da região e não propriamente de lideranças locais. Se você colocar uma liderança de estado rival com o bairrismo aflorado, pode surtir efeito oposto. O NE é naturalmente hoje antitucano, não por bolsa família mas porque o governo Lula e Dilma representam o ressurgimento histórico dessa região, berço do Brasil. Ao contrário do que a lacaia do PIG fala (a tal C. Lobo), o voto no NE é bastante ideológico, não é só voto de "barriga" como o PIG nojento adora viver repetindo pra desqualificar, e cada vez que faz isso aprofunda o ranço regional local com a elite paulista.
É importante que lideranças de cada estado participem ativamente da campanha da Dilma. Não vejo desânimo e nem há porque ter, o voto na região NE subirá e será um massacre anti-tucano nas urnas.
Só que o voto do Rio, de Minas, do RS e de São Paulo capital são decisivos pra minar os votos totais de São Paulo (Estado), feito isso a vitória da Dilma está garantida. O voto do Rio tem um peso simbólico bastante relevante nessa eleição, o Rio está bastante atrelado ao petróleo e a Petrobras, e o pré-Sal é um voto que une os fluminenses e fazer o voto de contraposição à elite paulista, Minas idem com a Dilma (a vitória do Pimentel foi mérito dela).
É por aí, vejo nessa juventude um despolitização total, tem ensino, livros, alimentos nos restaurantes universitários a R$ 2,00, e professores de graça, podem estudar no exterior com o programa ciência sem fronteira e fazem quebra quebra com o "não vai ter copa" insuflado pela mídia. Muitos vem de família contemplados pelo programa "Minha casa minha vida", recebem atendimento médico pelo SUS, com internação hospitalar. Quando o brasileiro teve isso? Estamos no pleno emprego, melhor piso salarial e muitos pensam que tudo isso é mérito próprio sem a menor consciência de um governo que luta pelo trabalhador. Não sabem nada do que foi e que poderá se tornar o Brasil em um governo almejado pela Mídia. O programa deles é o que ocorre na Europa com 50 % de desemprego.
Renato e demais... e se isto aconteceu?
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/o-parodoxo-de-aecio-ou-por-que-investigar-os-resultados-do-primeiro-turno/
veja uma forma de participar: http://www.vocefiscal.org/
Fernando, uma das melhores "penas" do Brasil.
Concordo, gênero e número.
E certamente de forma semelhante devem pensar a Dilma e parte considerabilíssima do PT.
A questão, como sempre, é a da governabilidade. Eleitoralmente, o governo pode - e é necessário - mover-se mais alguns graus à esquerda. Mas como corresponder às expectativas geradas, se mesmo com a relativa moderação desses anos, as classes dominantes já flertam com o golpismo?
O enfrentamento desajustado à correlação de forças realmente existente pode custar caro demais.
Se bem que, verdade se diga, deixando de tensionar, amargaremos derrota eleitoral e moral. Esta, pior do que aquela.
Situação complicada.
Mas não impossível.
O debate politico é o caminho sem dúvida. Precisamos motivar o interesse da sociedade pela politica....mas com a mídia massacrando o governo, como nunca fez na sua história, torna a missão mais dificil e a classe politica como um todo execrada. A mídia é o 4º poder que não tem limites nem pudor, ela investiga, julga e executa. Está acima de tudo. Não por acaso está na mão de familias multi bilionárias.
A Jovem Pan é dilmófoba! Essa emissora está para a Dilma assim como o Fidélix está para os GLBT´s...(E o PT não faz nada. Direito de Resposta ia chover aos montes por lá, porque as acusações, declarações, "opiniões" são estarrecedoras...)
Isso me irrita. O PT não pede direito de resposta, não envia ninguém na emissora para desmentir o que foi dito. Fica tudo assim, por isso mesmo. Já viram que essa tática de ser bonzinho, se fingir de morto, não deu certo. Aqui em São Paulo a gente tem medo de falar, em certos lugares, que vai votar na Dilma, pois é perigoso a gente apanhar. E o PT deixou e continua deixando rolar solto. Tem alguns professores universitários por aí, ligados ao PSOL, PSTU, PCB, que o PT pra eles é o mesmo que o Bush e disseminam o ódio dos jovens contra o PT. A direita também dissemina o ódio contra o PT. Nó que votamos no PT ficamos sendo atacados de todos os lados. E o PT dando milho aos pombos.
É. O PT deveria abrir processo a cada ataque. E gerar noticias com isso.
O Aécio não é por acaso o repetidor dos comandos para gerar fatos no seu partido. Não está treinadinho? Até esperou o comando do Boni de tanto treinamento de comandos.
O PT que aprenda a chiar a cada minuto. Fazer com que o mundo veja tantas injustiças da midia, dos organizadores dos debates.
E Dilma parta para o ataque. Mas sem essa coisa de pobre daqui ou pobre dali.
Atacar as fraudes, as falcatruas, as omisssões.
A grande diferença entre a corrupção no governo atual é que ela é de individuos dentro de empresas. A do partido de Aécio é acobertada por instituições e midia. Muito diferente.
É uma luta pra Dilma, sei. Mas o que fazer?
O PT em São Paulo está na UTI. Quem conhece Helcio Antônio, Iara Bernardi, Janete Pietá, José Mentor, Lúcia Brandi, Newton Lima, Vanderlei Siraque, Vicente Cândido? Com todo o respeito pelas pessoas, são deputados federais do PT por São Paulo. Nunca vi, li ou ouvi qualquer pronunciamento de um desses deputados defendendo o PT de São Paulo, ou defendendo o governo do PT, ou defendendo a Dilma. Nunca!! Depois tem os ptucanos, Cândido Vacarezza e Arlindo Chinaglia. Restam o Devanir, o Francisco Chagas, o Paulo Teixeira, o Renato Simões, o Zarattini e o Vicentinho. Que são médios. Engolidos facilmente por um troglodita como o tucano Carlos Sampaio que processa a Dilma até por usar casaco vermelho. O Imbassay, tucano da Bahia, que é direita assumido e defende com unhas e dentes o seu ponto de vista. Nosso PT aguerrido não existe mais. Vejam que alguns desses deputados que citei acima nem foram reeleitos. Por que será?
Escrevo isso com muita tristeza, porque, tenho 59 anos de idade (minha filiação ao partido é anterior ao de Lula) e sinto-me absolutamente traído..
"O produto da inclusão, sem política e politização, é uma classe média sem valores senão os imediatos..." - Fernando, a Dilma já sacou isso. No encontro com intelectuais e artistas ela deixou claro que vai destinar "altas" verbas para a cultura porque entende que mora aí o encaminhamento de solução para essa lacuna. Disse ainda que será possível destinar a verba com os recursos do pré-sal já a partir do ano que vem....
Espero que não seja tarde demais.
Verbas? Não aguento mais a palavra verba.
O PT precisa criar atitudes. Reagir.
E também ocupar o espaço de Russomano.
Se os Congressistas do PT tivessem defendido melhor o consumidor não estariamos vendo essa mumia sendo eleita.
E comunicar os trabalhos. Só conheci o Adriano Diogo agora, num blog de esquerda. Ser sem comunicar?
Além de ser capataz, acho que não sobre nada mais mesmo para a classe ainda dominante brasileira.
Aécio representa a submissão completa ao que o império está impondo até mesmo aos países desenvolvidos europeus, que, com muito orgulho, se converteram em colônias dos Estados Unidos. A política do Aécio será, se for eleito, necessariamente aquele regime de miséria que os economistas chamam de austeridade. A direita do FHC já está se preparando para seus atos fascistas. Ele já deu o mote: "quem vota no PT é ignorante e burro".