Terminada a temporada dos balanços dos bancos – todos com lucros gordíssimos – e diante da queda do emprego industrial por um trimestre, não tem nada de “esquerdismo infantil” na afirmação de que o sistema bancário brasileiro – que, aliás, só empresta para investimentos com subsídios (BNDES) e para a habitação (Caixa e FGTS) – é um garrote sobre o desenvolvimento do Brasil.
Vejam o que publica o Valor, hoje:
“Mesmo com o desaquecimento da economia, a indústria de transformação conseguiu melhorar seu desempenho operacional com o corte de custos e despesas. Levantamento do ” Valor Data” mostra que 92 empresas de capital aberto do setor industrial tiveram receita líquida de R$ 124,27 bilhões no primeiro trimestre, com alta de 8,7% na comparação anual. O lucro operacional avançou 9,6% no período, para R$ 14,39 bilhões.”
Belo desempenho para quem está numa crise mortal, que tem baixa produtividade e níveis gerenciais subdesenvolvidos, não é o que dizem?
Mas o que acontece, segundo o jornal, no parágrafo seguinte?
“Apesar disso, o lucro líquido desse grupo de 92 empresas industriais caiu 56% no trimestre e somou apenas R$ 2,9 bilhões, porque o resultado financeiro negativo quase triplicou, para R$ 11,66 bilhões. O efeito da variação cambial na despesa financeira cresceu mais de 8 vezes e atingiu R$ 18,16 bilhões.”
É verdade que o custo financeiro provocado pelos empréstimos em dólar caíram um pouco desde o final do primeiro trimestre, quando o dólar estava turbinado. Mas os internos, estes até subiram mais, com a política de elevação dos juros.
Os economistas neoliberais – uns mais, outros menos – são como aqueles médicos da idade média, que usavam sanguessugas como tratamento dos doentes, para que lhe sugarem os “mau humores” do sangue.
Quem tem que arcar com o crédito viável para investimento no Brasil é o Estado, e isso exige que o Estado se endivide, aí a juros estratosféricos, no “mercado”.
Taxar os lucros dos bancos, que vão muito bem, obrigado?
Coisa de esquerdista bolivariano, bacana mesmo é o incentivo que recebem desde os tempos do professor Fernando Cardoso, aquele que dá lições de austeridade na TV.
Vejam o que dizem os repórteres Rodrigo D’Ercole e Aguinaldo Novo, em 2001, no diário de esquerda chamado “O Globo”:
“Se o ano tivesse terminado em setembro, os maiores bancos de varejo do país não teriam desembolsado nada com o pagamento do Imposto de Renda. Em vez de pagar, eles teriam tido direito a um crédito fiscal que poderia ser usado para abater o imposto devido nos exercícios seguintes. É o que mostra um levantamento da consultoria ABM, com base nos balanços apresentados por Bradesco, Itaú, Unibanco, BCN, Banco do Brasil e Banespa. Juntos, os seis tiveram, até o fim do terceiro trimestre, R$ 370,590 milhões em créditos, mais do que o governo vai gastar com o reajuste dos professores federais.”
Não vai ter um “ajuste fiscal” para o sistema bancário, Dr. Levy?
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Essa aí pode colocar na conta do governo. Bateram tanto na Marina (e com razão) para não permitir a independência do Bacen e agora deixam que ele aumente a Selic a seu bel prazer? E em um momento de "ajuste fiscal"? Que sentido tem isso? Não é à toa que os bancos lucram tanto...
Manchete do Valor hoje informa: "Fazenda quer taxar mais o lucro de bancos e empresas".
Tudo muito bonito, concordo plenamente e até demorou. Mas vocês acham que o Cunha, emissário do capeta e dos banqueiros no Congresso, vai aceitar numa boa a medida? Será necessário que a sociedade se mobilize para exigir que os bancos entrem no aperto. Que o povo vá as ruas e grite na frente das sedes do bancões. Menos em São Paulo, é claro, onde os reaças despolitizados imbecis só gritam contra Bolsa-Família e bolivarianismo, deixando em paz os banqueiros que sugam suas almas diariamente. Será uma dura batalha acabar coma farra dos bancos. Mas o governo não pode retroceder um milímetro nessa briga.
Com SELIC estratosférica, o dinheiro que sobra para eles é o que falta para nós.
Me permita uma ressalva? Analisando o gráfico percebo que, quanto maior o lucro dos bancos, menor o da indústria.
Fernando, no tempo da ditadura, existia uma história em cujo final fazia-se a pergunta: Quem vai amarrar o guiso no gato? Todos sabemos a muito tempo dessa vergonha, só que mesmo que o governo tente qualquer coisa o legislativo e o judiciário, não permitiriam. Esses dois poderes estão diretamente ligados aos bancos.