A pobreza franciscana do MPF

Escrevi o post anterior, sobre a falta de sensibilidade do MPF em gastar R$ 6,2 milhões num sistema de identificação biométrica na portaria de sua sede, em Brasília, no final da noite de ontem. Sem ver, portanto, a manchete de hoje do Estadão: “Janot busca apoio do Supremo para evitar corte no orçamento“.

O argumento, como naquela lenga-lenga da Polícia Federal é que “os cortes” vão prejudicar a Lava Jato.

Então, com aquele velho vício de ir olhar os fatos, este blog foi ver os números do Orçamento do Ministério Público Federal.

Em 10 anos, de 2006 para 2015, ele passou de R$ 1,27 bilhão  para R$ 3,42 bilhões. Descontados os 84% de inflação do período jan/06-dez 15, dá um aumento real de 40,5%.

Se olhadas as despesas correntes, de custeio da sua atuação, o salto impressiona: saíram de R$ 199 nilhões para R$ 711 milhões. 94,1% em valores reais de aumento, descontada a inflação.

Recomendável, portanto, um pouco mais de moderação no “chororô” e um bocado mais de critério jornalístico na hora de dar uma manchete desta natureza, como se Suas Excelências estivessem condenadas à penúria.

Até porque os tais R$ 110 milhões de cortes são divididos com os outros ramos, menos aquinhoados, do MP: o Militar, o do Trabalho e o do Distrito Federal e dos Territórios, cujos orçamentos ficam de fora daquela conta mostrada acima, referente apenas ao Ministério Público Federal, a estrela da companhia.

Cortes estão acontecendo em toda a administração, inclusive em áreas essenciais como saúde e educação porque, afinal, segundo os doutos procuradores, o Estado não pode gastar se não arrecada e nem “pedalar” despesas.

Mas isso “não vem ao caso” e dá, inclusive, para colocar uma portaria “ultra-high-tech“, daquelas de filme de espionagem, no prédio do MPF, porque é pouco o controle implantado, não faz três anos, pela portaria PGR-MPF 12/2013, que estabelece “apenas”  crachá de identificação pessoal; credencial de identificação de veículos;  pórticos detectores de metais; detectores de metais portáteis;  catracas; cancelas;  circuito fechado de televisão ;equipamentos de raios-X; sistemas de cadastramento e registro de visitantes e  fechaduras eletrônicas biométricas. Sem contar, claro, “as equipes de técnicos de apoio especializado/segurança e de vigilância terceirizada”.

Afinal, a PGR é um oásis de austeridade neste país arruinado, corrupto, onde o dinheiro público é gasto sem pudor, com desperdício, sem severa moderação, com castas privilegiadadas…

Aquilo que o espanhol resume numa palavra cuja sonoridade lhe traduz o significado: despilfarro.

Menos, claro, na Procuradoria Geral da República, onde aqueles dedicados servidores, em estado de “petição de miséria”, num velho e carcomido prédio que aparece na foto, são os Ghandi da moralidade.

Fernando Brito:

View Comments (34)

  • Manda o Janot pedir para o Moro fazer uma vaquinha entre seus 'delatores premiados' milionários (com suas granas, produtos de crimes, lavadas pela justiça lava-bandido) que eles juntam facim-facim os R$ 110 milhões. Dividindo isto por 30 delatores, dá menos de R$ 4 milhões para cada. Mole, mole.

    • Vamos fazer uma vaquinha: Fernando dá os chifres, Laércio dá o rabo, José Tarja dá as patas, Chuchú dá o berro....

  • Vamos falar sobre os exorbitantes gastos de Dilma em viagens internacionais oficiais?

    • Vamos falar nas viagens da dondoca esposa de Alckmin nos vôos para cima e pra baixo mais de qualquer secretário do governo...

    • fácil mudar o assunto e jogar o problema embaixo do tapete, não é coxinha

    • Oi Alisson
      Diz que não é tucano , mas é só falar a verdade sobre eles, e você se ofende.
      Típico.

    • Vamos! Mostre o que é exorbitante, mostre os valores, atualize e compare com outros governantes. Daí, sim, podemos falar das viagens da presidente Dilma. Do contrário, vou continuar te considerando apenas uma pessoa de má-fé.

    • Fernando você não ia fazer a moderação nos comentários? Esse coxinha reaça está em todos os comentários...

    • Não se preocupe com as verbas do MPF. Daqui a pouco o dotô Moro manda uma graninha das delações pra eles comprarem canapés pro cafezinho.

    • Alisson, presidente viajar, para cima e para baixo, é natural. O presidente não é só um administrador, é, principalmente, o chefe de Estado, representante do país.
      FHC era apelidado pela turma do Casseta e Planeta de Viajando Henrique Cardoso, dada as frequentes viagens que espanta um cidadão comum que não tem a devida compreensão das responsabilidades de um chefe de Estado e de Governo.

      • As viagens da presidenta são amplamente justificadas, inclusive mediante a mídia inquisidora, que se dá ao trabalho de verificar o que a mandatária brasileira pede no jantar e quanto gasta. difícil, cabra, mas difícil mesmo é explicar as viagens (êpa) de Aécio - o senador mais inútil da república - nas asas do avião oficial do governo de MG, assim como as viagens de Lu Chuchu de seu dog no avião de SP,. Mas isso não vem ao caso, não é?

  • Bom dia,

    diga de passagem e a arquitetura mais bonita do DF, falo moderno! Concordo com o texto, só que o MPF esqueceu de pedi o bidê de ouro, pois suas nádegas não pode encosta em louça. Lembrando que o homem mais rico do mundo e humilde Steve Jobs foi nivelado pela morte como o gari que a rua dele limpava. Vamos ter mais consciência das coisas e humildade, pois luxo de mais leva ao caos como a Ucrânia.

  • Agora quem pergunta soy yo, pra que tanta segurança, se ali é o maior vazador de informações, dali sai tudo o que era para ser secreto só rindo mesmo kskskkksksksks

    • Ora! Os Al Capone e Don Corleone da vida precisam de muita capangada. Tem sempre uma fila longa de pretendentes.

  • Eu sugiro que o MPF, a PF e essa turma toda tenham exatamente o mesmo orçamento dos tempos de FHC. Devidamente corrigidos, é claro!
    Imagino que era um orçamentão e tanto, dada a saudade que essa turma parece ter daqueles tempos.

  • Juízes e procuradores recebendo remunerações acima do teto constitucional, em cristalina violação da Carta Magna, sem nenhuma oposição relevante da grande mídia e empresariado, tão defensores da austeridade dos gastos públicos, é um ato de cooptação das elites.
    Quem ganha muito bem habita e frequenta o mundo das elites, logo, incorpora seus valores e os defende.

  • Os paladinos da ética que mergulham nas águas turvas da corrucäo.
    È or isso que näo dá para acreditar neste Pais !!!

  • Faz um bom tempo que ao passar de carro por uma cidade do interior goiano, vi uma casinha modesta com um portal bem pomposo, onde estava escrito Palácio da Justiça. Ri da ironia de um título desse que não condizia com a aparência do local. Hoje, imagino que talvez ali se fizesse justiça de verdade, então sim, seria mais até do que um palácio. O que não imaginaria naquela época é que as Marias Antonietas de hoje lutam contra a corrupção em construções que não combinam nem com a época de crises, muito menos com a falsa ética do ministério público. Isso tudo está mais para os Templos de Salomão do pastor da Universal do que para a Justiça, direito de todos. As Antonietas de hoje devem dizer: Se não tem HC, que fiquem apodrecendo na republiqueta do Paraná. Mesmo sem provas.

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