Os cães da guerra às drogas

Mercenários, milícias, grupos armados que se adonam de bairros e até regiões inteiras de cidades sempre foram, ao longo da história, subprodutos das guerras.

A reportagem de Rafael Soares, na edição de hoje de O Globo, dando conta de um pacto entre milicianos e “traficantes evangélicos” na comunidade do Quitungo, na região da Leopoldina, no Rio de Janeiro, é apenas um retrato recente de um processo que há muito tempo ocorre.

O “Complexo de Israel”, agora, une tráfico e milícia. Batizado por criminosos que se dizem evangélicos e proibiram em seus domínios a prática de religiões afro-brasileiras, o conjunto de favelas na Zona Norte do Rio passou a englobar uma comunidade dominada por paramilitares. Um inquérito da Polícia Civil do Rio obtido pelo GLOBO revela que um pacto fechado entre traficantes e milicianos do Quitungo, em Brás de Pina, culminou na união das quadrilhas e na adesão da favela ao “Complexo de Israel”, que já abrangia Vigário Geral, Parada de Lucas e Cidade Alta.

Vale a pena a leitura. Fica mais fácil entender que a milícia é uma derivação da instituição policial, para onde vai parar a imensa massa de policiais “encrencados”, excluídos por expulsão e outras razões da corporação, onde se reproduzem relações de hierarquia, que controle de áreas e, claro, de ganhos econômicos.

Anos atrás, a professora de Sociologia Christina Vital da Cunha , da Universidade Federal Fluminense, lançou um livro intitulado “Oração de Traficante”, onde examina a aproximação entre algumas igrejas neopentecostais e o tráfico de drogas.

As milícias, ao se afirmarem como força dominante nas periferias cariocas, seguiram o mesmo processo e absorveram todas as redes de poder ( e sua legitimação) de forma igual.

A destruição da política como forma de mediação das relações sociais e entronização de Bem e Mal ( Deus e diabos) como “partidos políticos”, típica de nossos tempos de moralismo é como este é: falso, cínico e selvagem.

E a expansão das milícias – que a família Bolsonaro que legitimar como poder armado paraestatal há mais de dez anos – não é possível sem a criação deste ambiente de fanatismo que muitos acreditam que é apenas grosseria e estupidez e não um projeto de poder da barbárie.

Fernando Brito:
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