Os quebra-quebras registrados ao final das manifestações de segunda-feira no Rio e em São Paulo são uma pequena amostra dos perigos que a festejada “apartidarização” dos movimentos sociais podem trazer.
Ao contrário do que proclamam os “moderninhos” e “autogestionários”, as massas sem líderes têm dificuldades muito maiores em se defender, seja da reação do aparelho repressivo do Estado, seja dos grupos fascistóides que, diante de todos, se preparam para os confrontos e provocações sem que haja uma atitude coletiva que os expurgue dos movimentos reivindicatórios.
Não estou falando de garotos radicais, que assumam atitudes de contestação imaturas.
Estou falando de grupos que estão associados em torno de teses fascistóides que não têm nada a ver com “defender os movimentos da agressão policial”, como repetem, mas com provocar a ruptura do regime de liberdades.
E que não podem, por isso, ser combatidos e dissolvidos senão com democracia, liberdade e aplicação das regras do Estado de Direito.
A notícia de que a polícia paulista quer enquadrar na Lei de Segurança Nacional o casal de depredadores preso na segunda-feira é, assim, um típico arreganho da “boca-torta” de instituições que não se deram conta da mudança dos tempos e, agindo desta forma, só ampliam a tola solidariedade que alguns iludidos dão a estes grupos.
Transcrevo, abaixo, parte do ótimo texto sobre os Black Blocs, escrito pelo jornalista José Alves Pinheiro Júnior, uma das mais inteligentes e aprofundadas análises que já li sobre o assunto.
Black Blocs, modismo ou ameaça?
José Alves Pinheiro Junior
Os Black Blocs são apresentados na mídia mundial como uma organização que poderia ser rotulada como neoanarquista. Neo talvez, mas ainda afeita aos tradicionais coquetéis molotov. E, como manda o figurino histórico, manifestando-se com estardalhaço e renovada simbologia anticapitalista. Daí a preferência por ataques a autosserviços bancários e a vitrines e fachadas de fast food e marcas e grifes transnacionais de luxo. Curiosamente, na semana final de setembro último, a fotografia de um homem segurando um Big Mac e uma Coca-Cola sob o vão do Masp, na Avenida Paulista, foi publicada pela Folha de S.Paulo com intrigante legenda que o identificava como “coordenador de manifestantes mascarados”. Também multinacionais pelo menos na nomenclatura, os Black Blocs são uma novidade no Brasil. Mas são estudados há três décadas por atuação semelhante na Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Turquia, Egito, Grécia, Chile e México. Não nessa ordem, porém sempre se apresentando como “estudantes, trabalhadores, desempregados e revoltados” segundo oManifeste du Carré Noir, divulgado no Québec, Canadá, em 2012. Um manifesto tipicamente “classe média burguesa”. E que parece definir a “ideologia” Black Blocs.
A ação sem fronteiras dos Black Blocs não passaria de mera imitação de jovens rebeldes em busca de um “modismo extra-rock”. Moda esta desconcertantemente colada a protestos quase sempre autênticos. O que poderia conferir um desesperado idealismo à atuação deles. Ações que, no entanto, perderiam a aura romântica ao serem descobertas como premeditadas. O imbróglio é, assim, sinistro. E tanto mais ao gosto da mídia em busca de “sensações de primeira página”. Mas há quem veja no surgimento dos Black Blocs, país após país, o patrocínio de organismos apátridas, agências de inteligência e insuspeitadas “reinsurgências de direita”. Seriam organismos direcionados para implantar o caos em nações-chave da economia e da política mundiais. Se a suspeita for suscetível de comprovação – embora peremptoriamente negada na internet pelos interessados –, então os Black Blocs poderiam ser vistos (e tratados) como uma ameaça à democracia.
“Militâncias secretas”
Explicar esses grupos – com anárquicos uniformes de peças negras e máscaras ninja – tem mobilizado articulistas de todos os matizes e de todas as mídias. Com uma característica que lhes agrega um indefinido mistério de improvisada guerrilha urbana, os Black Blocs continuam assim a desafiar editorialistas locais e estrangeiros. A tendência então é considerar o vandalismo, irrefreável pelas “forças da ordem”, como um “defeito de governabilidade”. Ou inabilidade inerente à exacerbada democracia. Ou ainda ingênua redundância que atribui exigências de “mais democracia” como “leitmotiv espiritual” das manifestações. Aliás, só possíveis exatamente porque a democracia é plena na garantia de manifestações. Foram importantes jornais americanos e europeus – como New York Times e El País – que primeiro editorializaram os “anseios de mais democracia” no Brasil, dando-lhes similitude com a contracultura em Berlim na década de 1980.
Os editoriais e artigos consultados desde julho último na mídia impressa e em sites do Rio e São Paulo questionam em contrapartida também o alcance e a autenticidade da soberania popular em manifestações que não conseguem se desgarrar da violência. Cientistas políticos que se abstraem do vandalismo considerando o ato criminoso como casos em separado de polícia, veem nas manifestações um sadio exemplo de “liberdade democrática em ação com garantias constitucionais”. Não importa se os manifestantes representam ou não uma vontade majoritária. É a liberdade ampla e irrestrita rolando nas passeatas, mesmo que elas expressem apenas desejos de cabeças comunitárias, pontas de lança classistas e amostragem de grupos menores. Em comum, todos parecem movidos pelo impulso da mídia (TV principalmente) e pela mobilização político-partidária nos dois extremos do “espectro ideológico”. O que parece um contrassenso. Embora energeticamente os extremos se atraiam. E se completem. É exatamente neste exercício tão democrático que as passeatas acabam por oferecer inapeláveis oportunidades para grupos se infiltrarem. E poderem confrontar e destruir. Danificando primeiro as próprias causas e razões de que se valem e movem multidões. Uma delas, possivelmente a causa mais agredida, é a defesa da mobilidade urbana.
Nas ruas “por dever constitucional de garantir e orientar as manifestações”, a polícia acaba incluindo-se no rol dos vândalos. Conquistam mesmo mais antipatias ao se submeterem ao arbítrio do despreparo e da truculência inerente ao mister policial. No caso das PMS há notório resquício da bem recente ditadura militar quando a repressão sem limites era ordem e rotina. O paradoxo democracia/repressão teria como pretexto a proteção de áreas públicas com seus aparatos de serviços e monumentos. Todo esse conjunto de dificuldades e obstáculos ativa ainda mais as minorias violentas. Neste momento estratégico é que o embate manifestação- polícia pode ser visto como uma radical competição esportiva proibida. E por isso mesmo mais atrativa para “entusiastas militâncias secretas”. Afinal não é este o espírito empolgante dos videogames? E não é aí que mora o potencial maior do modismo juvenil?
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Nao consigo ver com bons olhos. Por justas que sejam as bandeiras, seus atos so servem pra colocar em risco, o que conquistamos a duras penas.
Texto não esconde o vies conservador. Só de tratar os black blocs como Black Blocs, sugerindo ser um movimento organizado, já deixa ver a má fé (ou desinformação) do articulista. Recomendo texto bem mais esclarecedor em Viomundo: http://www.viomundo.com.br/politica/black-blocs-a-origem-da-tatica-que-causa-polemica-na-esquerda.html
NÃO DISCORDO QUE SEJA UM MODO DE PROTESTAR.
AGORA, PERGUNTO: O QUE TERIA MAIOR REPERCUSSÃO, PERANTE TODA SOCIEDADE, 100 MIL PESSOAS COM FAIXAS NAS RUAS PROTESTANDO OU 100 MASCARADOS QUEBRANDO CARROS, PEQUENAS BARRACAS, PERMITINDO QUE ATÉ PEQUENOS ESTABELECIMENTOS SEJAM SAQUEADOS POR QUEM SE APROVEITA DA SITUAÇÃO?
DE UMA COISA ESTOU CERTO: NÃO ALCANÇAREMOS MUDANÇAS POSITIVAS PARA A SOCIEDADE, COM A ATUAÇÃO DE, APENAS, MEIA DÚZIA, SEJA QUAL FOR A ORIGEM OU IDEOLOGIA.
O angu de todos esses partidos está desandando, tem sabor desagradável?
Claro que sim! O pragmatismo de interesses pessoais, o oportunismo na tentativa de ter seu quinhão no bolo do poder pelo poder não tem limites. Fazia parte, faz pouco, do cardápio, esse discurso para condenar essas atitudes na vida política.
Perdeu a validade?
A Alemanha viveu seu caos, antes de Hitler levantar a cabeça e bradar sua palavra de ordem que tanta desgraça causou: UM POVO, UMA NAÇÃO, UM LÍDER!
Não quero um Salvador da Pátria para o Brasil! Devemos esclarecer e ajudar o nosso povo a ser o próprio ator da história!
COMO ESTÁ, A NOSSA POLÍTICA É UM VERDADEIRO ANGU COM FARINHA DO MESMO SACO!
SEREMOS, TAMBÉM, COADJUVANTES NO PREPARO DESSE PRATO INGRATO, INDIGESTO, QUE ESTÁ SENDO POSTO NA MESA DO NOSSO POVO MAL INFORMADO, MANIPULADO?
Leiam os programas dos partidos, antigos e novos.
Não existem programas concretos. Só falam em generalidades.
Essa é uma posição excelente para caciques e líderes!
Discursos bonitos, análises de tudo que ocorreu e está ocorrendo. Tudo de acordo para permanecer no ninho, anos a fio!
Não há projetos concretos para a educação, para a saúde e demais temas! Só encontramos promessas vagas, nada que cause comprometimento! É triste!
Quando digo que sem educação não temos futuro, fica claro que essa é uma condição necessária, porém não suficiente.
Um exemplo pode vir da água. Uma molécula de água é constituída por H2O, dois elementos de hidrogênio e um de oxigênio. Para termos água faz-se necessária a presença do hidrogênio; sem hidrogênio, não temos água.
Sem educação não temos justiça social, não temos desenvolvimento.
O hidrogênio é necessário para termos água, contudo não é suficiente; é preciso haver a combinação com o oxigênio para termos o líquido da vida.
A água é uma molécula simples. Temos, em nossa natureza, moléculas de alta complexidade; formadas de elementos os mais variados.
Uma sociedade justa, desenvolvida, tem como condição necessária, básica, a educação, mas não é suficiente. É um processo complexo!
O que desejo é que concentremos nossos esforços em torno dessa condição básica, necessária!
Em meu tópico, UM PROJETO PARA A EDUCAÇÃO NO BRASIL, procuro demonstrar essa necessidade!
Muitos não desejam trilhar por esse caminho, pois dentro das estruturas partidárias atuais; com o financiamento privado, com reeleições em todos os níveis, com o caciquismo generalizado; imperam mais os interesses pessoais que os da transformação da sociedade.
Muitos ficam, assim, esperando por salvadores da pátria.
Sou a favor de ver o povo como ator da história e não mais como uma manada dirigida por salvadores da pátria e até por manipuladores!
Estive lendo vários programas de partidos, dos antigos aos mais novos, e só encontrei generalidades. Alguns não passam de belos textos, mas nada de projeto, nada de propostas concretas!
Partidos, assim, passam a ser ninhos criados às margens direita e esquerda do rio para dar guarida a diferentes lideranças que neles permanecem por decênios, cada um com seu canto específico, deleitando e oferecendo esperanças aos marginalizados que sofrem nas constantes enchentes, e nada se transforma.
Tenho, também, o tópico: PRECISAMOS DE UM PARTIDO DIFERENTE!
Esse partido não seria construído nas árvores; às margens, pelos costumeiros e eternos caciques, nem atrelados ao financiamento privado; mas pelos verdadeiros marginalizados, injustiçados.
Esse partido tem programa a ser cumprido, explícito, a começar pela proposta de que sejam investidos, pelo menos, 15% do PIB na educação básica.
Toda educação deve ser federalizada!
Fernando Brito perdeu o bonde da história mesmo...
Black blocs são a verdadeira e pura esquerda, não essa roubalheira e sede insaciavel de poder que VOCÊS STALINISTAS TEM!
"Pura esquerda"? Só se for aquela que ajudou a colocar Hitler no poder na Alemanha dos anos 1930.
Ressuscitaram a LSN em São Paulo (bom, na verdade ela nunca foi revogada). E no Rio, os baderneiros serão enquadrados por formação de quadrilha. Vamos ver se assim criam juízo - ou vão procurar um emprego.
Estou na esquerda desde que era um molecote de pouco mais de 14 anos, ali pelo final do governo Médici. Já li muita coisa, já vivi muita coisa, já militei na clandestinidade e sob a luz do sol. Já carreguei bandeira em passeata e já organizei o movimento.
Quero que os companheiros que tão veementemente apoiam a ação black block me respondam com sinceridade: de onde esses atores tiraram a autorização para agir como agem? Só vejo duas maneiras de responder a essa pergunta: ou eles tiraram essa autorização de suas próprias cabeças, ou obtiveram o aval das massas que supõem protejer (e liderar...). Mas esta última é rechaçada pela própria forma como se apresentam: não são uma entidade com uma relação orgânica com a sociedade. Então resta a primeira - tiram a autorização para agir em nome das massas de suas próprias fantasias sobre como se deve mudar o mundo. E deitam discurso sofisticado e elaborado para ocultar aquilo que não podem negar, que é o fato de que "NINGUÉM os chamou na conversa". Estão ali de palpiteiros, por sua única e exclusiva vontade.
Xingar a parcela da esquerda que os expõe com adjetivos como stalinista ou semelhantes apenas mostra quão longe de entender os processos democráticos estão essas pessoas. Sua adessão incondicional a um novo anarquismo não mostra mais do que sua juvenil incapacidade de lidar com organização, método, liderança. Confundir organização e método com burocratismo é primário. E supor que nos "coletivos" não emerjam líderes é desconhecer a natureza biológica do homem. Em qualquer situação coletiva surgem líderes. Naturalmente. E estará formada uma relação hierárquica. Mas black blocks renegam tudo isto. São os "puros". Pouco falta para se proclamarem anjos-revolucionários a guiar o proletário-povo-escolhido no caminho para o Éden.
Se pretendem tanto serem úteis às manifestações, se pretendem tanto serem úteis à educação revolucionária do povo, se tão ardentemente desejam romper com o capitalismo e transformar o mundo, porque não começam por, humildemente, marchar AO LADO dos que protestam, ao invés de se auto-atribuirem, autoritarizamente, o papel de sua vanguarda.
Por fim, se desejam tanto persistir nesse caminho autoritário, porque não organizam manifestações-relâmpago só deles, e saem quebrando o que encontrarem pela frente? Ou indo ainda mais longe, porque não se constituem de uma vez em uma guerrilha anticapitalista e partem para o confronto real, ao invés de ficarem apenas "curtindo" uma violenciazinha eventual, uma adrenalinazinha de vez em quando e depois voltar para casa e para sua vida de todos os dias?
Revolução se faz com povo. E nenhum povo desperta verdadeiramente para a necessidade da ruptura violenta com o sistema capitalista se não acumular a experiência de luta - e repressão AO POVO. Não são gatos pingados levando umas pauladas da polícia que vão mostrar ao povo que a coisa é com ele. Ainda mais se esses gatos pingados estiverem quebrando coisas que, de um modo ou de outro, são usadas na vida diária das pessoas. Assim, eles só servem como propaganda da reação, sendo mostrados como o destino que a luta revolucionária reserva às pessoas: baderna, destruição, pancadaria, medo. Black Blocks acabam por ser agentes do Capital...
Dá pra desconfiar, mesmo! Os Black Blocs atacam no Rio de Janeiro, onde o governador Cabral e o prefeito Paes, são amigos de Lula! Em São Paulo, eles atacam nas manifestações dos professores, onde o prefeito é Haddadm amigo do peito do Lula. O mais interessante: em São Paulo, a revista IstoÉ está denunciado corrupção do PSDB há décadas. Com valores que chegam a quase 500 milhões, ou seja: meio bilhão, e o governador Geraldo Alckmin não é denunciado nas manifestações e os Black Blocs não fazem nenhuma manifestação. Tá na cara que esses caras estão aí, a serviço da direita fascista do PSDB, que está fazendo de tudo para colocar a droga do Aébrio Never no poder.
Ela(marina) é contra tudo q está ai, exceto o Itaú, Natura e Bornhausen?
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Ai, IBOPE e DATA FOLHA, por favor bota o nome da MINHA MÃE, JUREMA FALOU !!!!!!!!!!