Os elefantes de Moçambique

Nunca esquecerei da narrativa de uma conversa entre Leonel Brizola e Samora Machel, líder da libertação de Moçambique, o grande país da costa leste da África, onde, perguntado sobre a quantidade de habitantes de seu território, respondeu ao brasileiro que não sabia, exceto dos que viviam na cidades.

É que, naqueles dias em que acabavam de deixar de ser colônia portuguesa, só se sabia o número dos que moravam nas cidades e nas vilas, mas não dos muitos que viviam na selva e que, como os elefantes, só eram percebidos quando saíam da floresta.

No Brasil, a selva da pobreza é, talvez mais cerrada que a floresta tropical de Moçambique e os brasileiros que vivem nela raramente são tão desconhecidos do país oficial que raras vezes são vistos.

Nossos indicadores econômico-sociais são fortemente imprecisos e volta e meia nos surpreendemos quando contingentes imensos aparecem, quando há programas como o deste auxílio emergencial.

Igualmente o desemprego se evidencia mais nas filas formadas nas calçadas ou dos que dormem nelas, como aqui no Rio se pode ver na cidade noturna que brota nos passeios do centro da cidade.

Hoje, milhares de pessoas madrugaram em Acari, Zona Norte da Cidade, disputando algumas vagas numa rede de supermercados, um dos raríssimos setores que não sofreram o impacto avassalador da pandemia. O tamanho da fila você confere no vídeo aéreo da Globo, abaixo.

Não surgem outras porque são raros, quase nenhum, os lugares que contratam.

Os números do IBGE para o desemprego, que só registram os que estão em busca ativa por emprego não mostram mais que um pedaço de nosso drama.

 

Fernando Brito:

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