Os homens do poder esquecem que a fila é o comício mais eficaz

A turma do Brasil oficial vive mesmo em outro mundo, distante e oposto ao do Brasil real.

A manchete de capa da Folha, mostrando que Geraldo Alckmin e João Doria reduziram as verbas para o combate aos mosquitos, vetores desta praga de retrocesso sanitário que vivemos, poderia, se quisessem, ser reproduzida para quase todos os governantes deste país.

Não é que, com todas as dificuldades, não tenhamos gente capaz na área de epidemiologia para deter esta volta ao passado. Temos, e há quase um século os temos.

A questão é que, há quase tanto tempo quanto os temos, falta-nos governos capazes de agir com a energia e a capacidade de comunicação pública que são essenciais para que se volte a por fim nesta situação que virou crônica e  nos dá, a cada seis meses, um surto disto ou daquilo que vira histeria social.

A preocupação do Presidente da República é ir á TV defender a estrebuchante  reforma da Previdência, a de Alckmin decolar nas pesquisas, a de Dória, manter armado o bote para ser o plano B dos tucanos. Dedicam-se à marquetagem com isso e não percebem que, por toda a parte, as filas e o disse-me-disse são os mais eficientes comícios contra eles próprios.

Ou alguém acha que é outro o espírito das centenas de pessoas que se aglomeravam, ontem, nas filas que viravam o quarteirão, ontem, em diversos bairros de São Paulo? Será que acham que os que foram embora, sem vacinar-se, depois que se esgotaram as senhas, saíram elogiando a austeridade fiscal?

Mas o marketing do Brasil oficial é feito por gente que vive no  Brasil oficial e é forçoso reconhecer que a boca torta do cachimbo atingiu também setores da esquerda, muito mais interessadas em situações “identitárias”  que o mosquito não distingue.

Aquele mundo distante, o do Brasil real,  só existe esporadicamente, em surtos como os das doenças.

Mas, de tanto ser descuidado – pergunte aos médicos se não é assim – uma hora destas vira epidemia.

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Fernando Brito:

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  • No Rio tem uma Praça da Pedra Bonita, no Recreio, onde acredito que ninguém consiga ficar 30 minutos pela manhã sem ser escraxado, tá na moda, pelo " enxame" de Aedes. Podem conferir.

  • É isso mesmo: as epidemias, a violência, a dengue, gente dormindo na rua, é o mundo dos pobres chegando no mundo dos ricos.
    Os ricos gostariam de poder escolher o querem do mundo dos pobres: por exemplo as empregadas, as bábás. E eliminar o resto. Será que eles vão acabar entendendo que não há condomínio fechado que elimine o cheiro de merda que vem de onde não há saneamento, que não há condomínio fechado para o mosquito? Claro que eles já entenderam, mas primeiro eles tentarão tudo para eliminar os pobres, por exemplo contratando policiais e juízes para botar eles na prisão, esquadrões da morte para matar um máximo de gente. E sobretudo impedindo eles de votar em quem querem. É o sistema contra o voto. É o sistema contra o pobre.

  • Para mim não importa se é PT, PSDB OU PMDB. Tenho interesse em um Brasil melhor,no qual exista respeito por seu cidadão.

  • E desde quando a direita e a elite respeita o cidadão? Temos dezenas de exemplos diários no trânsito, no estacionamento, na fila do supermercado, na fila do banco... e por aí vai.

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