Os imorais da “moralidade”

Num editorial que só pode ser crível para a famosa e crédula Velhinha de Taubaté,do Luís Fernando Veríssimo,  O Globo sai hoje, outra vez, em defesa da institucionalização da corrupção nas campanhas eleitorais.

Diz o jornal que “entorta-se a discussão, partindo de episódios pontuais, para generalizar a questão” sobre o fato de empresas irrigarem, a seu gosto, com milhões de reais, a campanha eleitoral de candidatos a deputado, senador, prefeito, governador e Presidente da República.

“O problema não é a presença de empresas nas listas legais de doações. O que se deve combater é a falta de transparência, a tibieza dos mecanismos de controle, fiscalização e normatização, de modo a conter abusos”.

Mecanismos tíbios? A burocracia das comprovações de despesas eleitorais dos candidatos já se tornaram calhamaços contábeis impossíveis de examinar.

Se não houver um pilantra que faça, tirando o seu, a intermediação de recursos para candidaturas, como é que se vai provar que a empreiteira A ou o banco B “doou” aquilo que ganhou indevidamente em uma obra pública ou porque empresas a eles ligadas receberam concessões?

Basta “doar legalmente” e a propina estará absolutamente lavada, a menos que os tribunais analisem, uma a uma, as planilhas de custos de obras federais, estaduais ou municipais?

Ou serão os ladrões apanhados na roubalheira e a imprensa conservadora que decidirão quais serão as doações formais que são “espontâneas” e as que são produto de sobrepreços e  contratos marotos.

Ou o critério é “o que é do PT é manchete, o que é do PSDB não sai”, como pontificou o jornalismo da Rede Globo, estes dias?

O jornal chega a defender o “caixa-2″, que seria, embora deletério, ” um elemento da política”.

Bloquear as doações empresariais iria trazer  “o consequente incremento dos canais subterrâneos de irrigação de candidaturas”, argumenta candidamente o texto, como se o problema não fosse o dinheiro, mas a forma com que ele chega.

E, depois, como iria aumentar se, além do mais, isso exigirá uma operação criminosa complexa, para dar baixa em dezenas, centenas de milhões de reais de forma clandestina.

O editorial de O Globo só se presta para enganar os muito trouxas, aplaudir – envergonhadamente – a chicana jurpidica do “pedido de vista” feito por Gilmar Mendes que impede a aplicação já tomada pelo Supremo Tribunal Federal de proibir as doações empresarias e, acima de tudo, saudar a ação de Eduardo Cunha em colocar em votação uma reforma legal que torne inócua a decisão  judicial.

O importante, confessa O Globo , é barrar “uma ampla reforma política, agenda oportunista do PT, que abriga a proposta de financiamento público de campanhas como complemento da proibição a pessoas jurídicas.”

Assim, as empresas poderão continuar  a exercer sua “cidadania” (só aqui no Brasil empresa tem cidadania!) e a despejar recursos em quem quiserem, certamente em troca apenas de um sorriso e um “muito obrigado”.

Francamente, nem a Velhinha de Taubaté.

Fernando Brito:

View Comments (38)

  • Enquanto isso no reino encantando da Dilma, não há conspiração, não há tentativas de golpe e o ministro da justiça pergunta a um bandido se ele foi "tratado direitinho" pela PF. Como diria Januário de Oliveira: "Cruel, muito cruel" (conosco é claro!).

  • Nas grandes democracias ocidentais, a contribuição de empresas é vedada, ou então limitada a valores que não podem por si só prover uma campanha partidária, de maneira significativa.

  • Fernando, corporations are people!
    http://www.npr.org/2014/07/28/335288388/when-did-companies-become-people-excavating-the-legal-evolution
    Não só são pessoas, como são mais pessoas que pessoas!
    http://www.huffingtonpost.com/adam-winkler/corporations-are-people-a_b_5543833.html
    Interessante ressaltar o primeiro parágrafo desse segundo link: "Desde 2010, uma decisão do Supremo Tribunal permitiu gastos ilimitados de empresas em questões políticos"

    Porque, como todos sabemos, a melhor democracia é a que os ricos compram.

  • Excelente artigo, Fernando, parabéns! agora fico pensando, poxa, as organizações Globo ta conseguindo se superar hein, tipo, empresas doam para o PT é doação legal mas "ilegal", estranho não? rss e quando as mesmas doam ao P$DB é DOAÇÃO LEGAL E CIDADÃ? parar um pouco para RIR kkkkkkkkkkkkkkk

  • De raiva, indignado mesmo. E ainda tem os que acreditam, e nao sao "os ze povo", são os que aqui, - até sabem ler e escrever -, embora com erros de concordancia. E claro, faltou competencia e coragem ao governo e ao PT para peitar esta patifaria institucionalizada, em todas as esferas da republica.

  • Fernando, com todo respeito, essa aberração de uma empresa ter os mesmos direitos individuais de qualquer cidadão é invenção americana (onde mais?). Daí a decisão da suprema corte (é com minúscula mesmo, igual à daquí) de liberar o financiamento de campanhas por parte de empresas, sem limite, e o dito que o país tem o melhor congresso que o dinheiro pode comprar.
    Não espere ideias originais da quinta coluna, elas já vêm prontas e embrulhadinhas.

  • Mas o Groubo só escreve para as velhinhas de Taubaté. Ocorre que muitas delas deixaram a cidade e agora fazem passeatas e manifestações pelo impeachment da presidenta. Substituem as Senhoras de Santana.

  • Diariamente busco na internet alguma reação do governo contra este complô que se formou contra a administração petista....e nada.

    É frustrante. A mídia fala o que quiser, quando quiser e contra quem quiser. Desconfio que para eles defenderem o caixa2 é porque já sabem que há gente deles envolvido. Mas, e daí? continuamos apanhando do mesmo jeito.

  • Veríssimo, Brito, nem a Velhinha de Taubaté, morta há muito pelo criador, mesmo se viva fosse.

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