Tirando Ulysses Guimarães, para os mais velhos, que acompanharam a Constituinte de 88 como esperança de uma Brasil diferente, em 1988, acho que é covardia perguntar aos leitores e leitoras, quem eram os presidente da Câmara dos Deputados antes que Eduardo Cunha, a gazua usada pelas elites deste país para dar-nos um golpe de ruptura da democracia, chegasse àquela cadeira e se tornou o general dos apetites do baixo-clero, que hoje é quase o “clero” parlamentar inteiro.
Natural que seja assim, porque a projeção política de um Presidente da Câmara é inversamente proporcional à legitimidade do Presidente da República e, quanto mais Jair Bolsonaro se esfarela, mais Arthur Lira vai se tornando poderoso, embora quase sempre ausente do debate político-institucional.
Seu comando sobre os parlamentares é o que foi e é esculpido pelo cinzel maldito do dinheiro público, pela destinação fisiológica dos recursos da União para obras e serviços locais, capazes de manter ou fundar oligarquias municipais e polimunicipais.
Por isso, a notícia de hoje, em O Globo, de que o “orçamento secreto” em mão do presidente da Câmara subirá a R$ 11 bilhões, quase tudo o que nos sobre no Orçamento afora as despesas obrigatórias, mais que explica a renitente conversa política do semipresidencialismo, na prática, um parlamentarismo.
É a maneira de, permanente mente, transformar o governo central do país em um “pato manco”, incapaz de propor e executar políticas de desenvolvimento – o econômico e o socialmente estruturante.
Voltar quase 100 anos, ao país das oligarquias que imperou, absoluto em toda a Velha República e que, ainda que abalado, sobreviveu pelo século e nos desafia outra vez, mesmo nos tempos globalizados, sob as falsas capas de “bases” e “descentralização”, que encobrem a estratégia política de sermos sempre o velho país estagnado, farto apenas para as elites e sua medíocre representação política, os outros coronéis que vivem a nos sangrar.
Vem daí o projeto permanente de descrédito dos partidos políticos, rearrumados como associação de interesses locais, como nos anos pré-30.
Na raiz, aparente, visível de tanto tempo em que é pisado este chão, está, como sempre esteve, a esperança de que os brasileiros jamais percebam que este é um só país e que nisso reside nossa força e nossa esperança de sermos uma nação próspera e feliz.